O incêndio do Rio e as medidas contra seu alastramento. Por Tereza Cruvinel.

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Por Tereza Cruvinel - 19/11/2016

Ventos semeados, estão aí as tempestades.  Receando que os protestos dos servidores do Rio ganhem força com a prisão do ex-governador Sergio Cabral e a revelação da roubalheira que ele comandou, e se espalhem como rastilho de pólvora pelo país, o governo quebra cabeça para evitar a quebradeira geral dos estados. Se outros governadores forem obrigados a tomar medidas impopulares como as tentadas no Rio por Pezäo, o caldeirão pode sopitar. E chegará a Brasília, logo que o governo aprovar a PEC 55 e apresentar a reforma da previdência, que mexerá com os mortais do INSS mas também com os funcionários favorecidos pelo regime de aposentadoria com salário integral. Como os fascistas que invadiram o plenário da Cämara näo foram castigados, os deputados que se cuidem.  

A fórmula palaciana de socorrer os estados com parte dos  R$ 100 bilhões que o  BNDES pagou antecipadamente ao Tesouro (deixando de utilizá-los em ações para reanimar a economia) foi vetada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Mas cerca de 4 bilhões de reais da próxima rodada de repatriação de recursos depositados no exterior podem ser antecipados aos governadores, neste esforço para evitar que as cenas de guerra na porta da Alerj se repitam por aí.

No Rio, com a prisão de Cabral, a revelação de seu luxo e riqueza, de sua lancha e seu helicóptero, das joias de sua mulher e de suas mesadas de até R$ 500 mil mensais, Pezão entrou em coma político. Cria de Cabral, de quem foi vice,  não tem mais condições de impor sacrifícios aos funcionários para sanear o estado quebrado, em parte pelos desvios praticados pelo esquema de corrupção do PMDB.  A Lava Jato, ao atingir a Petrobras, afetou por tabela a economia fluminense, muito dependente da atividade petrolífera. A recessão fez o resto.  A intervenção federal é um ônus que o Governo Temer näo gostaria de assumir mas não deve ser descartada.

 O Rio tomba primeiro por estas razões peculiares mas não é o único estado falido. Quase todos estão no vermelho, ultrapassando os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal para o endividamento e os gastos com pessoal. Se outros governadores mexerem com o funcionalismo, vão enfrentar as barricadas.

E como o emprego não vem e a lama continua jorrando e intoxicando mentalmente a população, o governo quebra cabeça também para tentar segurar os empregos que restam. A proposta do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, é liberar R$ 1,3 bilhão do PPE, o Programa de Proteção ao Emprego lançado por Dilma. Os empresários se comprometem a não demitir, podem reduzir a jornada de trabalho e são compensados pelo governo pelas perdas financeiras. A Fazenda ainda não se pronunciou sobre a proposta.

Socorrendo os estados e tentando barrar o aumento do desemprego, o governo tenta conter o alastramento do incêndio que crepita no Rio. As condições estão sendo todas dadas: frustração econômica, revolta com a corrupção e com os governos ineptos, decepção com o governo central que derrubou Dilma prometendo que tudo iria melhorar mas só tem trazido o agravamento da crise. A população começa a perceber que o golpe foi um engodo e a paciência dela está encurtando. Culpar Dilma, depois de seis meses de governo Temer, já não cola como desculpa.  Quem semeou o vento colherá a tempestade.

Temer e o PMDB são os maiores beneficiários do golpe mas o PSDB, não aceitando a vitória de Dilma e partindo para a desestabilização de seu governo, foi um grande assoprador dos ventos da crise.

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