Imprensa inglesa molha as calças com história de assombração do MI5 sobre “ameaça russa”
02.11.2016 - Finian Cunningham, Strategic Culture
tradução de btpsilveira
O festival anual do Halloween costuma ser tempo de sustos “terríveis” e histórias de assombração. Pois a imprensa britânica colabora com isso – embora não pareça intencional. Esta semana, vários dos principais jornais veicularam uma mensagem alarmante do fantasma mor do serviço secreto britânico, MI5. O chefe da Inteligência Militar (seção) 5 (MI5, na sigla em inglês para Military Intelligence [Section] 5 – NT), alertou que a Rússia hoje representa um claro perigo para a segurança estatal britânica.
Foi o jornal The Guardian que deu à luz em primeiro lugar a história, com um artigo “exclusivo” nas manchetes da primeira página: “Chefe do MI5 alerta sobre ameaça crescente da Rússia”.
Com quase as mesmas palavras, a história foi replicada nas páginas dos jornais The Independent, Sun, Daily Mail e Daily Telegraph, entre outros.
Rapidamente, a Rússia escarneceu da cobertura da mídia inglesa como sendo ridícula.
Pasmem, isso não foi uma brincadeira de Hallowen oferecida ao público britânico. O assunto foi apresentado como jornalismo sério, como se relatando uma grave questão de segurança nacional. A coincidência com o “festival do outro mundo” só acrescentou uma pitada de hilaridade não intencional.
Entretanto, o mais importante é que isso não passa de mais um exemplo de como o público ocidental está sendo condicionado por uma incansável dieta mental de russofobia. É um conjunto de jornais britânicos papagueando em uníssono, sem sequer questionar os pontos controversos do press release do MI5, alegando uma ameaça à segurança nacional pela Rússia. Tudo isso é claro indicativo de uma “operação psicológica”. Reflete o padrão abjeto da supostamente independente imprensa na Inglaterra.
O Guardian reivindica uma espécie de “exclusividade”, ao afirmar que foi a “primeira entrevista dada por um espião-chefe em serviço”. Andrew Parker tem sido o chefe do serviço de segurança do Estado da Inglaterra pelos últimos nove anos. Nem ele nem seus predecessores jamais concederam esse tipo de entrevista agressiva à imprensa.
O MI5 foi criado em 1909 e presta serviço como a principal agência de segurança de Estado da Inglaterra, oferecendo serviços de contra insurgência e contra terrorismo. Sua contraparte MI6 trabalha com serviço de inteligência militar no exterior.
Tal tipo de intervenção pública sem precedente pelo MI5 nesta semana é mais uma coisa a sugerir uma operação psicológica.
Por outro lado, para qualquer um que tenha o mínimo de faculdade crítica, é fácil perceber a bizarrice destas afirmações sobre uma “ameaça” russa, que, apesar da gravidade e da sonoridade estridente das manchetes, não tem sequer um fiapo de evidência para sustentar as assertivas.
O chefe do MI5 faz meras afirmações muito vagas sobre a Rússia, que estaria “promovendo uma política externa de maneira crescentemente agressiva, envolvendo propaganda enganosa, espionagem, subversão e ataques cibernéticos”.
São o mesmo tipo de acusações esbaforidas com zero de evidência que ecoam nos corredores das agências (norte)americanas de segurança e na mídia dos EUA. A administração Obama, citando suas próprias agências de inteligência, acusaram a Rússia de promover um ataque cibernético patrocinado pelo Estado para interferir nas eleições presidenciais dos EUA.
As insinuações sem base nenhuma foram categoricamente refutadas por Moscou. O Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov lembra que todas as solicitações para que evidências fossem exibidas foram ignoradas pelas autoridades dos Estados Unidos. Já o presidente russo Vladimir Putin rejeitou as acusações de interferência política como um “disfarce cínico” para esconder os verdadeiros problemas (norte)americanos.
Outro indicador de operação psicológica é a maneira pela qual as alegadas ameaças russas foram amontoadas em “tópicos” que foram facilmente disseminados e regurgitados pela mídia em geral. Depois de algum tempo, as afirmações se tornam desinteressantes pela clara falta de evidência que as apoie.
As “ameaças russas” alardeadas pelo MI5 de Andrew Parker e repercutidas pelos meios de comunicação da Inglaterra tem tédio em abundância e carência de verdade. Assim mesmo alguns meios de comunicação agiram como os cães de circo – pularam avidamente em cima da mentira da semana, tratando-a como se fosse algo novo e excitante.
Por quantas e quantas vezes já ouvimos “think tanks” Atlanticistas pró OTAN de todas as cores e matizes, apregoando aos berros sobre a “subversão” russa, ou sobre “ataques cibernéticos”, ou que a Rússia quer exterminar a democracia ocidental? O nível e repetição coordenada desses “tópicos” está bem ao gosto de coisas como o Conselho do Atlântico, do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, da NED de Soros, da OTAN dominada pelos EUA et caterva, mas não passa de mero reflexo de agências de inteligência como a CIA, MI5 e MI6, que, por sua vez, fornecem dados para o estabelecimento da política externa de governos que se denominam democráticos. Resumindo, trata-se do Estado Profundo que domina e ultrapassa a política eleitoral ocidental.
No mês passado, durante um encontro de líderes da União Europeia em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pressionou o bloco para que adotasse sanções econômicas mais duras contra a Rússia, acompanhado pelos líderes da Alemanha, Inglaterra e França. Tusk sustentou uma litania de malfeitos russos, que incluía “ataques cibernéticos, campanhas de desinformação e interferência nos processos políticos da União Europeia” e mais: “tentativa de enfraquecera União Europeia”.
Por sorte, Itália, Áustria, Espanha, Hungria e outros países europeus rejeitaram o apelo de Tusk para sanções mais fortes contra a Rússia, afirmando que eram contraproducentes.
O ponto a levar em consideração aqui é que Tusk, supostamente o líder que deveria dirigir brilhantemente a política externa da União Europeia, soa mais como um mercenário contratado pela CIA ou pelo MI5, dado que por sobre os tópicos em discussão ele papagueia facilmente sobre as “ameaças russas”.
Quando comparamos estes fatos com o acontecido nesta semana, na entrevista agressiva dada pelo chefe do MI5, vemos os indícios de que existe um pensamento organizado por um grupo sinistro e que é compartilhada entre alguns líderes (norte)americanos e europeus e órgãos não eleitos do Estado Profundo. Esses indícios repousam na russofobia estereotipada e levanta questões assustadoras quanto à verdadeira natureza da democracia e da responsabilidade democrática dos líderes dos países ocidentais. Será que os líderes estão seguindo a vontade do povo ou as instruções de agências que operam nas sombras e cujo objetivo é incrementar cada vez mais um conflito geopolítico, particularmente contra a Rússia?
Esta talvez seja a explicação do porque nos EUA, o establishment de Washington e os aparelhamentos de inteligência e do exército parecem tão radicalmente hostis ao candidato presidencial Donald Trump. Porque, apesar de todas as suas falhas, uma coisa tem que lhe ser creditada: ele não trilha o caminho traçado, nem apregoa os pontos de discussão escolhidos pelo Estado Profundo para demonizar a Rússia. Ou seja, ele não é um mercenário como Tusk, enquanto Hillary Clinton segue ovinamente a linha russofóbica.
Para o establishment político, a mídia empresa ocidental é essencial. Consequentemente, não é surpresa que os grandes jornalistas e editores dos meios de comunicação sejam tão suscetíveis à manipulação pelas agências de inteligência ocidentais, seja consciente, seja inconscientemente. O antigo editor alemão Udo Ulfkotte mostrou a maneira pela qual a CIA infiltra jornalistas europeus instruídos a retransmitir pontos de vista convenientes para a agência para o público em geral.
O modo pelo qual a imprensa britânica providenciou tão docilmente uma plataforma para que o chefe do MI5 disseminasse nesta semana a sua russofobia é um forte indicador de uma propaganda enganosa orquestrada em nível estatal. Isso nos conta sobre a lamentável falta de independência e de genuína vontade de informar o público que a imprensa britânica reivindica tão cuidadosa e arrogantemente. Na realidade, trabalham abertamente para um serviço de divulgação de propaganda enganosa, para espalhar desinformação no aparente intuito de preparar o público para aceitar uma política hostil e eventualmente mesmo a guerra contra a Rússia.
Isto não é jornalismo. É uma manipulação flagrante da percepção pública que beira o nível das histórias assustadoras contadas às crianças sobre monstros e fantasmas.
A coisa fica realmente engraçada quando se descobre que o MI5 e outras agências de inteligência do Estado Profundo, ao fazer esses comentários estão realmente com medo. Ocorre que quando eles falam de “subversão” e da “propaganda russa” estão na realidade falando da imprensa russa, que está sistemática e crescentemente expondo a mentira constante que a imprensa ocidental e seus manipuladores oferecem a seus usuários, mentira que até hoje tem conseguido escapar impune na sua perpétua busca pelos interesses imperialistas ocidentais.
Incapaz de lidar com a exposição de seus atos, as criaturas do Estado Profundo estão atacando desesperadamente com histórias de fantasmas tentando distrair “as crianças”. Não por outro motivo, o MI5 saiu do pântano tenebroso de sigilo onde sempre se escondeu para dar a sua primeira “exclusiva” para a imprensa britânica. Daí gritou: Buuu! Buuu! Buuu! Mas sua capacidade de enganar não funciona mais.
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