Editorial do JB: Os canalhas perdem os anéis mas vão continuar com suas casas em Lisboa?
A ordem de prisão foi do juiz Marcelo Bretas |
Com tudo o que o Brasil vem passando, com suspeitas e denúncias de corrupção em todas as áreas de um Executivo eleito pelo povo, o Rio de Janeiro foi palco nesta quinta-feira (17) de algo que pode ser visto como exceção. O esquema investigado na Operação Calicute não parece se tratar de mero esquema de corrupção, mas de prática cotidiana de uma quadrilha criminosa.
Mas o que mais surpreende é o tempo levado para revelar tal esquema. Foram 12 anos para que tudo viesse a público, após incontáveis denúncias e comprovações feitas e publicadas, em meio a fotografias de personagens fantasiados de guardanapo, talvez já para fazer uma alusão à sujeira que precisava ser limpa daquelas cabeças, a do crime. Os órgãos se Segurança que procuravam quadrilhas não pegavam a quadrilha certa, para quem trabalhavam.
Foi avião caindo com menores, com piloto sem habilitação. Até hoje, nada apurado.
Secretários denunciaram, antes de serem secretários, a corrupção testemunhada em outras áreas. Tinham até proteção policial contra ameaças de morte.
Denunciados fizeram compras olímpicas, como apartamentos de valores mais altos do que o saque "Jornada nas estrelas" de Bernard Rajzman.
Um rei da Távola Redonda, acusado por todos os contratos que tinha no Rio de Janeiro, faz sua viagem Rio-Miami com a maior tranquilidade.
Há pistas nas compras de remédio, equipamento hospitalar, nos carros alugados com preços de Limousine para receber reis que mal serviam aos supostos ladrões que iam buscar. A polícia mal armada e sem proteção morria mais nos carros alugados a preço de Limousine do que os supostos criminosos procurados.
Antes da Copa do Mundo, todos já denunciavam todos os tipos de escândalo. O escândalo das obras superfaturadas do Maracanã ganhou ampla visibilidade, aqui e no mundo. Leva tanto tempo assim para descobrir um roubo de bilhões de reais? Para onde vão todos os inquéritos abertos?
Na Rússia, o ex-vice-governador de São Petersburgo, Marat Oganesyan, foi preso nesta quarta-feira (16), acusado de ter cometido fraude nos trabalhos de construção do estádio "Zenit Arena". O local será um dos palcos da Copa do Mundo de 2018.
No Brasil, ou no Rio de Janeiro, Marat Oganesyan talvez seria demitido, sim, mas por ter roubado pouco.
O povo ainda vai se surpreender mais? Vai esperar mais alguém ser preso sem ter os bens sequestrados?
Os bens do povo -- o emprego, a única coisa que tinham -- já foram sequestrados.
Os canalhas perdem os anéis mas vão continuar com suas casas em Lisboa?
E o povo?
Não há nem mais rua para o povo morar.
O que esperar de juízes que dizem que estão moralizando o país só porque prendem quem continua com seus bens?
Em palestras feitas no Rio, autoridades falam de estado de calamidade a ponto de fazer parecer que estamos à beira de um confronto. E ainda por cima afirmam que as armas que entram no Rio são de volume compatível com os das quadrilhas internacionais. Eles acham que vão controlar uma iminente convulsão social?
O povo não aceita mais a eleição dos anéis perdidos, o povo quer que os ladrões não tenham mais dinheiro para comprar anéis em outros países.
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