Sem a Globo, a direita arrisca-se a não ganhar nem eleição fácil para ela
POR FERNANDO BRITO · 29/10/2016
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Embora ainda seja o favorito, Marcello Crivella está fazendo de tudo para confirmar a sua tradição de “cavalo paraguaio”, para ficar no chiste turfístico que designa o cavalo que, de língua de fora, não aguenta a atropelada da reta final.
E olha que desta vez ele partiu com vários e vários corpos de vantagem.
A meu ver, porém, o grande problema da eleição no Rio é exatamente este, o nível equino com que se a disputou.
Transformar religião em bandeira de campanha pode funcionar em outras cidades. Não aqui. Não para eleições majoritárias, embora seja uma força cada vez maior na formação de bancadas parlamentares, em geral obscurantistas e reacionárias.
Crivella, que não tem nada de bobo, tentou fugir disso.
Mas foi atropelado, já no meio da rua pelo fato de ser bispo e sobrinho de Edir Macedo, da Universal, pelos seus arroubos fanáticos do passado – nem tão distante – revelados em reportagem de Fernando Molica, há duas semanas.
Foi o sinal para o avanço dos velhos barões da mídia sobre ele.
E Crivella mordeu a isca e, finalmente, “religiosou” sua campanha.
Assisti, ninguém me contou, comerciais de Crivella exibindo “congregados marianos” em apoio a sua campanha.
Como se “congregado mariano”estivesse propenso a votar em Marcelo Freixo…
Mas fez pior: acusou o golpe da Globo e passou a criticar a “Vênus Platinada”.
Isso, como se sabe, é mais letal diante da direita do que chutar a imagem de Nossa Senhora, como fez aquele bispo Sérgio Von Helde.
A Globo é a direita e a direita é a Globo, deste axioma a história não nos permite fugir.
Crivella pretender ser o candidato da direita sem ser o candidato da Globo, francamente, é achar que “sangue de jesus tem poder”
Freixo, que deu as costas para os partidos de esquerda e adotou o asqueroso discurso da administração “técnica” – implicitamente aceitando o discurso do “a política é suja” – fugiu do discurso socialmente transformador e fez seus acenos – estes compreensíveis, até- ao “cumprimento das obrigações assumidas”, vai se beneficiar disso.
A contragosto, talvez, mais vai.
Muito mais, porém, vai se beneficiar de uma cidade rebelde e que – pena Freixo não demonstrar ter entendido – está ansiosa por gritar para o Brasil que a direita não tem “tudo dominado”.
Por isso, voto 50, embora o “freixismo” ache o trabalhismo um lixo anacrônico.
O anti-Temer, que Freixo encarna, é a sua chance – reconheço que ainda remota – de vitória.
Pena que ele não entenda que é a sua chance de vitória, o nosso povo o entende, muito menos pelo ainda desconhecido que é e muito mais pelo que significa como grito de uma cidade.
Porque o Rio, ainda que com seu som desarmônico e abafado, ainda é o tambor do Brasil.
Ou pelo menos, o bumbum paticumbum prugurundum do coração brasileiro.
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