Rússia tem muito a aprender da desgraça do Brasil
30/9/2016, Paul Craig Roberts e Michael Hudson,[1] Counterpunch
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
"Na mosca, Pepe. Essa é uma das poucas fraquezas de Putin. Ele precisa confiar mais em Glazyev no que tenha a ver com economia. Mas o(s) autor(es) deveriam ter distinguido um banco nacional e um banco central. Estado realmente soberano tem banco nacional independente (não um banco central dependente) no qual se crie crédito de lucros para promover projetos necessários de desenvolvimento Capex, essencial para a prosperidade do país e seus cidadãos."
(1/10/2016, Jean-François Sauvé, nos Comentários).
(1/10/2016, Jean-François Sauvé, nos Comentários).
William Engdahl explicou recentemente[2] o modo como Washington usou a elite brasileira mais corrupta, que responde a Washington, para remover a presidenta legal e legitimamente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, para representar o povo brasileiro, não os interesses de Washington. Incapazes de ver a propaganda de acusações não provadas, os brasileiros aceitaram a derrubada do governo que os protegia. Assim deram ao mundo mais um exemplo da impotência da democracia.
Todos [em todo o mundo (NTs)] devem ler o artigo de Engdahl. Ali se explica que parte do ataque contra a presidenta Rousseff cresceu sob as imposições de problemas econômicos deliberadamente criados por agências norte-americanas de avaliação de crédito, como parte do ataque para degradar a dívida do Brasil, o que disparou um ataque contra a moeda brasileira, o real.
A abertura financeira do Brasil fez do país um alvo fácil, a ser atacado. Deve-se esperar que Vladimir Putin se aperceba e tome nota do altíssimo custo da "abertura econômica". Putin é líder atento e cuidadoso da Rússia, mas não é economista; confia na neoliberal Elvira Nabiulina, escolhida de Washington para presidir o banco central da Rússia. Nabiulina não é especialista em Teoria Monetária Moderna, e o compromisso dela com a "abertura econômica" deixa a economia russa tão exposta quando a economia brasileira, sem defesas contra a desestabilização do Brasil, promovida por Washington. Nabiuina acredita que o assalto contra o rublo se explicaria por "forças globais de mercado", que são impessoais, não pela ação financeira violenta, de Washington.
Nabiulina, que é liberal absolutamente doutrinada e 'propagandeada', é, na essência, serviçal de Washington, a qual se pode supor que não veja perfeitamente que faz papel de "idiota útil". Adora o aplauso que recebe do Consenso de Washington por deixar a economia russa escancarada para que Washington a manipule à vontade. Sendo neoliberal, ela não compreende que o banco central russo pode criar, a custo zero, o dinheiro com o qual financiar projetos produtivos na/para a própria Rússia. Em vez disso, ela pensa que o dinheiro que entre na economia saído do banco central seria inflacionário; mas o dinheiro que entre na economia vindo de fora, não seria inflacionário.
Dinheiro é dinheiro, e nada muda que seja disponibilizado pelo banco central, ou por credores internacionais. Se é dinheiro, venha de onde vier e é usado produtivamente, o dinheiro não é inflacionário.
Há enorme diferença entre o dinheiro criado pelo banco central e o dinheiro criado por credores estrangeiros. Dinheiro emprestado por bancos estrangeiros sob a forma de EUA-dólares ou euros tem de ser repago com lucro na moeda estrangeira na qual o empréstimo for denominado (na mesma moeda na qual o dinheiro foi emprestado). Dinheiro criado pelo banco central para financiar projetos de infraestrutura pública não tem absolutamente de ser repago, muito menos acrescido de lucros e em moeda estrangeira que só chega ao país mediante a venda de exportados.
Fundos obtidos por empréstimos feitos fora do país trazem muitos graves riscos. O dinheiro pode ser tirado, determinando o colapso do rublo livremente negociado. O juro que tem de ser pago é drenado das reservas russas de moeda estrangeira. Empréstimos tomados no exterior trazem um risco trazido do exterior, que é ampliado com sanções econômicas. Se o valor do rublo cair em valor, ou degradado em ataque orquestrado, o custo em rublos do empréstimo tomado no exterior pode crescer dramaticamente.
Nenhum desses riscos e custos está presente quando o banco central é fonte do dinheiro. Usar apropriadamente o banco central russo é criar o dinheiro com o qual financiar projetos públicos e servir como emprestador de último recurso a empresas privadas russas incapazes de obter por elas mesmas o próprio financiamento. Usar desse modo o banco central blindaria a economia russa, contra ataques orquestrados de desestabilização.
É prejudicial para a Rússia que Nabiulina e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev acreditem que deixar que a dívida russa seja financiada por estrangeiros hostis seria preferível a financiá-la com o dinheiro criado pelo próprio banco central da Rússia. Glazyev é o único dentre os conselheiros de Putin que compreende essa realidade. Suspeitamos que osAtlanticistas Integracionista (AI) dentro do governo russo riscaram um alvo nas costas de Glazyev, porque o único projeto dos AI é integrar a Rússia ao ocidente, sem considerar o que a 'integração' custe à Rússia. Esses russos empenhados no Culto do Ocidente são o maior problema em toda a Rússia [são, também, o maior problema em todo o Brasil].
Para Washington, a austeridade neoliberal vale só "para exportação" para países que Washington planeja converter em colônias financeiras completamente dependentes. Ao fazer a acomodação da Rússia aos objetivos de Washington, Nabiulina engaja-se num golpe [no caso do Brasil, de diferente, que o golpe no Brasil foi mais escancarado]. Os dólares e os euros emprestados do exterior não são dinheiro que vá até os emprestadores russos. A moeda estrangeira emprestada fica guardada no banco central. Na sequência, Nabiulina cria os rublos que financiam os projetos.
Não faz sentido algum tomar empréstimo em moeda estrangeira para que sirva como 'lastro' para rublos [e reais, no caso do Brasil] criados domesticamente. Independente do que a Rússia [ou o Brasil] tome emprestado no exterior, o banco central pode criar rublos com os quais financiar os projetos. É sobejamente claro que empréstimos tomados no exterior não têm qualquer utilidade social progressista ou independente-soberanista, em nenhum caso.
Governo russo que não consiga entender isso está com problemas gravíssimos [vide a desgraça do Brasil-2016].*****
[1] Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro dos EUA e editor-associado do Wall Street Journal. Seu livro How the Economy Was Lost pode ser comprado, em formato eletrônico, em CounterPunch. Seu livro mais recente é The Neoconservative Threat to World Order. O livro mais recente de Michael Hudson, Killing the Host está publicado em e-format por CounterPunch Books, e em versão impressa por Islet. Recebe e-mails por mh@michael-hudson.com.
[2] "Washington Tries to Break BRICS: Rape of Brazil Begins", 26/9/2016, F. William Engdahl, New Eastern Outlook http://journal-neo.org/2016/ 09/24/washington-tries-to- break-brics-rape-of-brazil- begins/.
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