NINGUÉM

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Eles

Por Wanderley Guilherme dos Santos - no Segunda Opinião - 4 de outubro de 2016

Eleições locais escolhem prefeitos e vereadores. Avaliar os resultados da aparente apoteose da direita pede alguma paciência e bastante disposição até se cristalizarem os números de mais de cinco mil e quinhentos municípios. O retrato das próximas prefeituras das capitais e grandes cidades está nítido, mas nem mesmo nestas o Executivo escapa ao purgatório, quando não inferno, para seus ocupantes, a saber: o Legislativo. E, como se sabe, as negociações entre ambos envolve muito mais do que as legendas ali representadas.

De seguro, tenho a interferência de duas grandes subversões institucionais que antecederam o pleito: a proibição de financiamento empresarial às campanhas; o gigantesco assassinato de reputações e de instituições promovido deliberada e sistematicamente por procuradores, delegados e juízes, com a cumplicidade austera do Supremo Tribunal Federal. Acredito jamais ter havido intervenção tão extensa e tiranicamente seletiva do judiciário na vida política brasileira depois de 1945. Durante a ditadura de 1964 o Judiciário curvou-se ao poder militar. Agora,  assumiu espontaneamente o papel de vanguarda da repressão preventiva, envenenando sem antídoto conhecido o processo de competição eleitoral.

Não há correspondência entre os vazamentos, avisos de futuras denúncias, acusações sem comprovação posterior e de outro lado, os processos reais contra a generalidade dos políticos de esquerda, assinados pelos caluniadores e submetidos a julgamento, com sentença lavrada. Não existem em número equivalente ao que anunciam. Mentem. Usaram e usam a técnica jornalística do sensacionalismo acusatório com o empenho companheiro de cem por cento do poder midiático. A imprensa trombeteia as denúncias e não promove uma investigação séria dos resultados efetivos, que são pífios. Prendem-se empresários e burocratas, com efeito, implicados em negociatas de inacreditáveis valores e creditam-se os crimes a partidos políticos. Quanto a isto, nada provaram até agora.

Mas não é verdade, como acreditavam meus ancestrais portugueses, que mais fácil se pega um mentiroso do que um coxo. É necessário que exista quem queira pega-los e não há instituição no Brasil que, dispondo de poder, queira flagrar os mentirosos do judiciário, do ministério público e da polícia federal. Nunca, mas nunca mesmo, foi o Brasil governado com tanta mentira: do Executivo, Legislativo, Judiciário, Imprensa e profissionais liberais, especialmente os constitucionalistas. É um espetáculo vergonhoso.

A vitória de Ninguém em dez capitais – e não sabemos em quantas mais prefeituras pelo país a fora – se presta a muitas interpretações e aos charlatanescos recados captados pelas cartomantes reacionárias. Mas esse Ninguém tem nome. Inegável é que para milhões de brasileiros e de brasileiras não valia a pena votar. Esta eleição é incomparável com qualquer outra. E o escárnio é que “eles” estão pouco se lixando para isso. Na Grécia clássica, quando chegasse o tempo, seriam todos convidados ao ostracismo.

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