Mauricio Dias: Desestabilizando Temer
Faustão ataca o governo sem provocar caso dentro da Globo. Fernando Henrique Cardoso também parece não apreciar a ação do presidente
por Mauricio Dias —na Carta Capital - publicado 30/09/2016 09h44, última modificação 30/09/2016 22h53
Lula Marques / AGPT
Temer: a pressão aumenta |
Com um palavrão, sonoro e agressivo, Fausto Silva, comandante de um programa de auditório apresentado aos domingos na TV Globo, desclassificou o governo Michel Temer para todo o sempre. E talvez este “sempre” não dure muito.
Dias antes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliou, em entrevista, o cenário político-econômico do País. Manifestou dúvidas sobre o futuro. O governo Temer poderá não chegar a 2018, ano oficialmente marcado pela próxima disputa presidencial.
O palavrão usado por Faustão não é repetido aqui por pudor ou censura interna, e sim pelo culto ao bom gosto. Suprimido o referido xingamento, a reação do apresentador foi em relação à reforma do Ensino Médio na educação. Ele reagiu assim: “Essa... desse governo nem começou e já faz a reforma sem consultar ninguém”.
É fato. Além disso, o governo, a caminho do quinto mês de existência, é bisonho. Talvez esta seja uma das razões pelas quais Faustão protesta.
Além dos equívocos de certas propostas, a reforma leva a má fama de ter nascido do ventre de uma
Medida Provisória (MP). Um sinal notório do autoritarismo de origem.
Medida Provisória (MP). Um sinal notório do autoritarismo de origem.
Após quase 30 anos da telinha da Rede Globo, Faustão sabe o que pode e o que não pode dizer. A crítica à proposta apresentada ao País pelo governo, infiltrada por xingamentos Brasil afora, não consta que tenha provocado convulsões internas na emissora. Para a inexistência disso é possível supor que o dono da rede, Roberto Irineu Marinho, deu sinal verde. Ou seja, se lixou para o ocorrido.
O auditório riu e aplaudiu. Possivelmente, o telespectador também.Temer reagiu. Ele sempre tremelica diante das críticas. Em inédita decisão, telefonou no dia seguinte para o apresentador. Houve um diálogo anunciado pelas partes como amável.
Faustão, no programa da televisão, fez papel de porta-voz da educação e dos educadores. Ele reafirmou o xingamento em segunda reação: “O País que mais precisa de educação faz uma reforma com cinco gatos-pingados que não entendem... nenhuma, que não consultam ninguém, e aí, de repente, tiram a educação física fundamental na formação do cidadão!”
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a exemplo de Faustão, sabe o que diz e sabe a que hora dizer. Só não improvisa. Neste caso, fez um alerta sub-reptício a Temer: “O desafio é chegar ao outro lado, 2018, mas só vai chegar se tivermos um horizonte de esperança”.
Nem só Faustão e FHC manifestam decepção.
A mídia, porta-voz do golpe contra Dilma Rousseff, parece desenganada. Basta atentar para a reação furiosa quando o sinistro ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, vazou e antecipou informações sobre a mais recente ação da Lava Jato, na qual foi preso o ex-ministro Antonio Palocci.
Uma pauta socialmente cruel norteia o governo e tem sido protelada pela resistência na própria base parlamentar. A pressão sobre Temer será mais apertada.
Esses ataques correspondem ao surgimento de nuvens sombrias formadas sobre o presidente. Nuvens desestabilizadoras.
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