Intelectual do Ano destaca necessidade de revisitar grandes pensadores
Portal Vermelho - 6 de outubro de 2016 - 20h31
O professor de História Contemporânea da USP (Universidade de São Paulo), Luiz Bernardo Pericás, acaba de ser anunciado o Intelectual do Ano devido à sua publicação sobre o pensador brasileiro Caio Prado Júnior. O autor destacou a necessidade de se revisitar a obra de grandes pensadores nacionais a fim de compreender a conjuntura atual. Com o livro Caio Prado Júnior: uma biografia política, lançado pela editora Boitempo, ele busca contribuir com o debate.
Para o professor, é necessário revisitar a obra de grandes pensadores brasileiros, como Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes, para que o debate sobre o futuro seja feito com base nos acertos e erros das experiências anteriores.
Em sua obra, Pericás apresenta uma pesquisa profunda sobre a vida e a obra de Caio prado. O livro é resultado de seis anos de pesquisa em arquivos públicos e privados. Ele, que é sobrinho-bisneto do pensador marxista, conta que teve acesso a documentos e registros da família que contribuíram para a publicação de um material inédito.
“Caio Prado Júnior era meu tio-bisavô e isso me ajudou a pesquisar nos arquivos de familiares, que fizeram a gentileza de abrir suas casas para que eu pudesse consultar documentos que não estão em nenhum outro lugar. Encontrei muito material inédito na casa de parentes meus: cartas, fotos, periódicos, documentos da polícia política”, contou.
“Não adianta reinventar a roda, os partidos são importantes”
Pericás é enfático ao afirmar que a esquerda precisa repensar suas experiências recentes para se reorganizar a fim de enfrentar a ofensiva da direita que atinge não só o Brasil, mas América Latina e o mundo. Isso não significa, porém, questionar as estruturas. “Não adianta reinventar a roda, o modelo de partido funciona, os partidos são importantes”.
O autor da biografia sobre um dos maiores pensadores marxistas brasileiros não titubeia ao destacar a importância tanto dos partidos de esquerda, quanto dos movimentos sociais. “É o momento de reorganizar a esquerda, se fala muito em ‘pós-capitalismo’, mas se é pós-capitalismo, o que é? Vivemos um momento onde as pessoas têm receio de falar em socialismo, mas este é um termo que nós precisamos reconstruir”, ressalta.
“Occupy Wall Street, a Primavera Árabe, estas experiências não vão resolver a questão, é necessária a organicidade dos partidos”, afirma Pericás ao explicar que mesmo as experiências contemporâneas horizontais precisam de um projeto político que vá além do “calor das pautas do momento”. Como exemplo ele citou o Movimento 26 de Julho, de Cuba, que com base social orgânica fez a revolução considerada por ele “um divisor de águas na história da América Latina” e culminou no Partido Comunista porque “havia um projeto”.
Neste Brasil pós-golpe, com instituições fragilizadas e o “conceito de partido” fortemente atingido por uma campanha midiática massiva que durou anos, Pericás alerta: “este discurso de ‘gestor’ [em referência à campanha do prefeito eleito de São Paulo, João Dória, do PSDB] não é algo novo, e não propõe nada de novo. A esquerda precisa pensar além das disputas eleitorais para mudar este modelo, é muito difícil, mas é necessário porque não teremos como fazer reformas mais profundas neste sistema de coalizão”.
O livro lançado pela Boitempo Editorial é resultado de seis anos de pesquisa
O professor reconhece os erros e os acertos da esquerda e defende que a partir de agora os partidos progressistas todos devem se unir através de pontos comuns em uma “Frente ampliada” para voltar ao poder com um projeto mais engajado e capaz de produzir reformas mais profundas. “É o momento de reorganizar a esquerda e os movimentos tradicionais como o MST, e outros com um longo histórico de lutas, serão muito importantes neste diálogo”.
“É necessário pensar um novo projeto para o país em defesa de um bem maior para chegar ao poder com um projeto mais radical”. Pericás destaca que muitos núcleos discutem, atualmente, novas formas de organização, para ele, a discussão orgânica feita pelos movimentos sociais e pelos partidos políticos devem se estender para a comunidade com todas as ferramentas possíveis. “Os debates estão acontecendo, as pessoas estão discutindo a reforma agrária do século 21, o feminismo está em pauta, e a internet é apenas uma ferramenta, não é a forma, existem muitas outras ferramentas – do rádio à televisão – que devem ser utilizadas”.
O autor
Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela Flacso (México), onde foi professor convidado, e pelo IEB/USP. Tem livros e artigos publicados em diversos países, como Argentina, Estados Unidos, Peru, Itália, Espanha e Cuba.
Sua mais recente obra, sobre Caio Prado, é baseada na leitura minuciosa de centenas de documentos onde ele mostra como o ativismo repercutiu na vida e na obra do pensador marxista. O livro aborda desde as primeiras leituras às viagens para o exteriores, inclusive para os países socialistas, do golpe de 1964 aos debates sobre a revolução brasileira, do breve exílio no Chile ao retorno seguido de encarceramento, chegando por fim ao legado de seu ideário para a esfera pública. O autor ainda discute aspectos teóricos da obra caiopradiana e elementos de seu pensamento.
O professor de História Contemporânea da USP (Universidade de São Paulo), Luiz Bernardo Pericás, acaba de ser anunciado o Intelectual do Ano devido à sua publicação sobre o pensador brasileiro Caio Prado Júnior. O autor destacou a necessidade de se revisitar a obra de grandes pensadores nacionais a fim de compreender a conjuntura atual. Com o livro Caio Prado Júnior: uma biografia política, lançado pela editora Boitempo, ele busca contribuir com o debate.
Por Mariana Serafini
Almanaque Urupês
Pericás traz uma pesquisa minuciosa sobre a vida, a obra e a militância de Caio Prado Júnior
Pericás se reuniu com a imprensa na Academia Paulista de Letras na tarde desta quinta-feira (6), horas antes de receber o prêmio Juca Pato da União Brasileira de Escritores em razão de sua mais nova publicação. Ele ressaltou a necessidade de os intelectuais brasileiros serem mais engajados com a luta social de seu tempo, como foi Caio Prado, e produzir conteúdos capazes de contribuir com o desenvolvimento humano da sociedade.Para o professor, é necessário revisitar a obra de grandes pensadores brasileiros, como Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes, para que o debate sobre o futuro seja feito com base nos acertos e erros das experiências anteriores.
Em sua obra, Pericás apresenta uma pesquisa profunda sobre a vida e a obra de Caio prado. O livro é resultado de seis anos de pesquisa em arquivos públicos e privados. Ele, que é sobrinho-bisneto do pensador marxista, conta que teve acesso a documentos e registros da família que contribuíram para a publicação de um material inédito.
“Caio Prado Júnior era meu tio-bisavô e isso me ajudou a pesquisar nos arquivos de familiares, que fizeram a gentileza de abrir suas casas para que eu pudesse consultar documentos que não estão em nenhum outro lugar. Encontrei muito material inédito na casa de parentes meus: cartas, fotos, periódicos, documentos da polícia política”, contou.
“Não adianta reinventar a roda, os partidos são importantes”
Pericás é enfático ao afirmar que a esquerda precisa repensar suas experiências recentes para se reorganizar a fim de enfrentar a ofensiva da direita que atinge não só o Brasil, mas América Latina e o mundo. Isso não significa, porém, questionar as estruturas. “Não adianta reinventar a roda, o modelo de partido funciona, os partidos são importantes”.
O autor da biografia sobre um dos maiores pensadores marxistas brasileiros não titubeia ao destacar a importância tanto dos partidos de esquerda, quanto dos movimentos sociais. “É o momento de reorganizar a esquerda, se fala muito em ‘pós-capitalismo’, mas se é pós-capitalismo, o que é? Vivemos um momento onde as pessoas têm receio de falar em socialismo, mas este é um termo que nós precisamos reconstruir”, ressalta.
“Occupy Wall Street, a Primavera Árabe, estas experiências não vão resolver a questão, é necessária a organicidade dos partidos”, afirma Pericás ao explicar que mesmo as experiências contemporâneas horizontais precisam de um projeto político que vá além do “calor das pautas do momento”. Como exemplo ele citou o Movimento 26 de Julho, de Cuba, que com base social orgânica fez a revolução considerada por ele “um divisor de águas na história da América Latina” e culminou no Partido Comunista porque “havia um projeto”.
Neste Brasil pós-golpe, com instituições fragilizadas e o “conceito de partido” fortemente atingido por uma campanha midiática massiva que durou anos, Pericás alerta: “este discurso de ‘gestor’ [em referência à campanha do prefeito eleito de São Paulo, João Dória, do PSDB] não é algo novo, e não propõe nada de novo. A esquerda precisa pensar além das disputas eleitorais para mudar este modelo, é muito difícil, mas é necessário porque não teremos como fazer reformas mais profundas neste sistema de coalizão”.
O livro lançado pela Boitempo Editorial é resultado de seis anos de pesquisa
“É necessário pensar um novo projeto para o país em defesa de um bem maior para chegar ao poder com um projeto mais radical”. Pericás destaca que muitos núcleos discutem, atualmente, novas formas de organização, para ele, a discussão orgânica feita pelos movimentos sociais e pelos partidos políticos devem se estender para a comunidade com todas as ferramentas possíveis. “Os debates estão acontecendo, as pessoas estão discutindo a reforma agrária do século 21, o feminismo está em pauta, e a internet é apenas uma ferramenta, não é a forma, existem muitas outras ferramentas – do rádio à televisão – que devem ser utilizadas”.
O autor
Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela Flacso (México), onde foi professor convidado, e pelo IEB/USP. Tem livros e artigos publicados em diversos países, como Argentina, Estados Unidos, Peru, Itália, Espanha e Cuba.
Sua mais recente obra, sobre Caio Prado, é baseada na leitura minuciosa de centenas de documentos onde ele mostra como o ativismo repercutiu na vida e na obra do pensador marxista. O livro aborda desde as primeiras leituras às viagens para o exteriores, inclusive para os países socialistas, do golpe de 1964 aos debates sobre a revolução brasileira, do breve exílio no Chile ao retorno seguido de encarceramento, chegando por fim ao legado de seu ideário para a esfera pública. O autor ainda discute aspectos teóricos da obra caiopradiana e elementos de seu pensamento.
Do Portal Vermelho
Comentários