De BRICS a RICS. Por Tereza Cruvinel.

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por Tereza Cruvinel - 18/10/2016

No início eram os Bric. Depois, com o ingresso da África do Sul, viraram os Brics. Agora, com o Brasil na contramão da proposta que deu origem ao agrupamento político-econômico mais expressivo na busca de reformas na ordem internacional e de um mundo multipolar, surgem os sinais de que se transformarão nos RICS. Nada mais simbólico do que a foto acima, de Danish Siddqui, da Reuters, em que os presidentes da Índia, Rússia, China e África do Sul aparecem de mãos dadas, e apenas Temer está com a mão esquerda livre, ao lado de Putin.

Pior para o Brasil, que está optando pelo retorno à orbita dos Estados Unidos em posição subalterna,  à compressão de seu mercado interno por um ajuste fiscal tenebroso, à entrega de seus ativos mais invejados, como o pré-sal. Assim passaremos de país emergente a decadente.     

Nos últimos 15 anos, os BRICS foram tema de projeções extremamente otimistas que tiveram seu ponto alto em 2010, quando os resultados econômicos dos cinco países foram surpreendentes. O Brasil cresceu mais de 7% naquele último ano da era Lula, o que hoje soa nostálgico diante da recessão que se aprofunda. Seus líderes haviam adotado maior agressividade na cena global e tomado iniciativas importantes, como a criação do banco de fomento do grupo, para o qual o Brasil aportou US$ 20 bilhões, e o fundo contingente de reservas, para o socorro recíproco, dispensando-se de humilhações diante do FMI..

A partir do final de 2011 as economias dos países do bloco foram afetadas pela crise internacional, por problemas internas e as turbulências na  zona do euro. Até mesmo a galopante China teve seu crescimento moderado. O desempenho do Brasil, entretanto, foi o mais desalentador nos anos seguintes, e com uma crise política meio, chegamos aonde estamos. Mas foi com a posse de Temer e a guinada na política externa e econômica que o Brasil foi se colocando na contramão dos BRICS, o que lhe rendeu o inegável isolamento de seu atual presidente na reunião de GOA.

Há grandes diferenças políticas, econômicas e culturais entre os cinco países mas todos entendem a importância de conviver com elas, e de superá-las, em nome do objetivo maior: garantir uma melhor distribuição do poder no mundo, quebrar a unipolaridade americana e garantir a representação da multipolaridade na governança global. Antes que Temer e Serra concluam que não vale à pena integrar os BRICS, vale a pena recordar alguns números sobre a importância do bloco:

40% da população mundial, ou 2,8 bilhões de pessoas, vivem nos cinco países que formam os BRICS, assim como mais da metade dos pobres do mundo.
A área geográfica somada dos cinco países corresponde a 30% da superfície terrestre.
A soma do PIB dos cinco países do grupo alcança US$ 13 trilhões, o equivalente a 18% do PIB global de 2011.
Há estimativas de que o PIB dos BRICS supere o do G7 por volta de 2032.
Em paridade de poder de compra, o PIB dos BRICS já supera, hoje, o dos EUA ou o da União Européia.
A força de trabalho somada dos cinco países é de 1,5 bilhões de pessoas.
O bloco responde por 6% de toda a ajuda financeira oficial concedida no mundo.
Nos cinco países, as políticas públicas têm obtido avanços na redução da pobreza e na ampliação do acesso aos bens de consumo. Ressalva: isso valia para o Brasil até antes da opção pelo desmonte delas.
Os BRICS respondem por 58% da demanda mundial de petróleo e por 20% da produção mundial.
Se o B de Brics deixar a sigla, o Brasil terá perdido seu melhor assento na cena internacional, ao lado dos países que têm lugar assegurado no futuro. Eles seguirão sendo RICS. Só o Brasil perderá.



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