Apenas mais um crime de guerra dos EUA ou nova provocação em Alepo?

20.10.2016, Martin Berger, New Eastern Outlook
traduzido por btpsilveira


Bastou a instalação pela Rússia de seu avançado sistema de mísseis defensivos S-400 na Síria, conforme relatado pelo jornal Daily Mail, para que Washington começasse subitamente a sentir-se desconfortável para fazer novas provocações contra a Rússia, como aquela quando do ataque levado a efeito pela Força Aérea (norte)americana em 17 de setembro, quando o exército sírio se viu repentinamente sob fogo pesado.

Não por outro motivo, os Estados Unidos começaram a delegar para seus aliados, tanto nas fileiras dos terroristas da Jabhat Al Nusra quanto nas de seus aliados na assim chamada Coalizão Ocidental, os trabalhos sujos que já não se atrevem a fazer.

Pelo que parece, a administração Obama já não tem mais ilusões sobre o futuro da primazia mundial dos EUA, uma vez que a Força Aérea Russa ao lado das tropas do exército sírio terminem seu assalto contra Alepo, não deixando qualquer chance para uma vitória de último momento da Casa Branca no conflito sírio. Por essa razão, Washington soltou seus cães raivosos de propaganda enganosa contra a Rússia e a Síria, numa tentativa de apresentar tanto Moscou quanto Damasco como dois “regimes do mal”, que estariam alegadamente massacrando a população síria só para se divertir.

Como parte do esforço de propaganda enganosa em curso, o Conselho de Relações Exteriores da União Europeia denunciou os ataques aéreos da Síria em Alepo, acusando Damasco de “alvejar deliberadamente” escolas e hospitais, acusando também os pilotos russos. Quando da denúncia, anunciou-se que desde o início da ofensiva contra Alepo, pelo “regime” e seus aliados, em particular a Rússia, Alepo teria sido submetida a bombardeio aéreo desproporcional. O Conselho de Relações Exteriores da União Europeia acredita que já está na hora de levar os “crimes de guerra” que Damasco alegadamente cometeu ao conhecimento da Corte Criminal Internacional.

Pois bem. Agora temos um pretexto perfeito exatamente para esse procedimento, desde que na noite de 18 de outubro, a vila síria de Hassager sofreu um bombardeio não anunciado que resultou na morte de seis pessoas, ferindo mais quatro. Isso foi levado a conhecimento na sequência dos ataques que os aviões da coalizão liderada pelos Estados Unidos estavam operando na área, enquanto os aviões sírios e russos estavam em operação em Alepo. Diga-se em particular que radares operando do solo flagraram dois F-16 belgas, o que resultou de um pedido de explicações de Moscou para Bruxelas e Washington, ao lado da condenação do ataque.

Leve-se em consideração que existe um total de seis F-16 da Força Aérea belga em operação na Síria dentro do quadro da autodenominada coalizão liderada pelos Estados Unidos, os quais, conforme declarações recentes do Ministro da Defesa do Reino, estão cumprindo “uma vasta gama de missões”.

Como resposta aos questionamentos russos, Washington decidiu manter-se em silêncio e deu uma pausa, não fazendo qualquer comentário sobre a situação.

Quanto a Bruxelas, está tentando com todas as forças minimizar seu envolvimento no ataque, chegando mesmo a contatar nosso site NEO através do Twitter. Foi a forma encontrada pelo Ministro da Defesa belga, Steven Vandeput para afirmar que a Bélgica não está envolvida no ataque contra Alepo e que se trata de uma tentativa russa de desinformação. Entretanto, apesar dessas declarações, sabe-se que o Parlamento Belga exigiu de seu Ministro da Defesa mais transparência em relação às operações que vem sendo desenvolvidas pela Bélgica no Oriente Médio.

Considerando que há tempos o espaço aéreo sírio é monitorado muito de perto por uma pletora de atores internacionais na arena do conflito, e que que é inegável que houve atividade de F-16 vistos na área, pintados com as cores e temas da Força Aérea Belga, pode-se considerar uma outra hipótese: aqueles era aviões (norte)americanos que foram repintados para parecer com os usados por Bruxelas na Síria.  Ocorre que desta vez a Casa Branca decidiu repintar seus aviões no tema e cores da Força Aérea Belga, depois de terem sido surpreendidos repintando seus aviões para parecer com jatos russos. Deve ser por isso que a Casa Branca continua em silêncio. Precisa de algum tempo para repintar mais uma vez as aeronaves usadas no ataque, para “cobrir as pegadas”.

O fato é que na atualidade, os Estados Unidos são reconhecidos pelo que são: um império de mentiras. Mas agora os analistas internacionais têm que fiar atentos a mais uma coisa: a paixão dos (norte)americanos por tintas, pincéis e estojos de pintura!

De qualquer forma, é duvidoso que tais “truques” possam permitir que Washington e seus aliados escapem da responsabilidade de desencadear esse tipo de Guerra contra a Síria, pelas incontáveis mortes de civis e pelo êxodo de centenas de milhares do que um dia foi a Síria, o Iraque, o Afeganistão e Líbia, de onde os cidadãos tentam escapar em direção à Europa, para fugir das bombas (norte)americanas de chovem sobre suas cabeças.


Martin Berger é um jornalista freelance e analista geopolítico, escrevendo aqui exclusivamente para a revista online “New Eastern Outlook”.

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