A morbidez imbecil: expor Cunha na rua é esquecer que ele é arquivo a ser queimado?
POR FERNANDO BRITO · 20/10/2016
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A próxima eleição presidencial, a crer no que estamos assistindo no Brasil, deveria ser disputada pelo Datena, pelo Ratinho e , talvez, pelo Wagner Montes e o seu famoso escraaaacha!
Vai ser mais coerente com a visão de mundo em que as pessoas – sejam elas quais forem – devam ser transformadas em objetos de exercício da morbidez de indivíduos – muito bem educados, sim, senhores – e de coletividades.
Não tenho pelo senhor Eduardo Cunha nenhum respeito, senão o que tenho por qualquer ser humano.
Qual é o sentido de exibi-lo aos fotógrafos cercado por sete “ninjas” para fazer um “exame de corpo de delito” (traduzindo, uma rápida entrevista e inspeção médica para ver se não está lesionado)?
Será isso a “aplicação vigorosa da lei” preconizada pelo Dr. Sérgio Moro? Exibir o “animal” publicamente, devidamente subjugado entre os mascarados, qual black blocs, da Federal?
Eu, que tenho nojo de Eduardo Cunha, tenho igual nojo de quem faz isso sem necessidade – afinal, preso ele foi ontem e, ao que se saiba, não opôs resistência.
Obtém-se um efeito plástico igual ou pior ao das algemas que o STF determinou serem usadas apenas em caso de resistência.
Vão alegar que é para protegê-lo? Francamente, para protegê-lo o levariam no carro, até dentro do prédio – não posso crer que um prédio de Instituto Médico Legal não tenha uma entrada de automóveis ou que em Curitiba os infelizes de cujus que não a exame sejam conduzidos pela calçada.
Exibir presos desta maneira imprudente é a mesma idiotice que se fez em Dallas, em 1963, quando se permitiu que um assassino, Jack Ruby, matasse a tiros o preso Lee Harvey Oswald, o homem que baleou fatalmente o presidente John Kennedy.
Ou será que Cunha não é um evidente arquivo que muitos gostariam de ver “queimado”?
Conduzi-lo pela rua não é facilitar isso?
Isso não é profissionalismo policial, é promoção espetaculosa à custa de um preso que é, não custa repetir, responsabilidade do Estado.
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