A estupidez aparente: quando um gestor deprecia seu principal ativo
Estou aqui, de boas, esperando meu vôo para Belo Horizonte - saindo do Santos Dummont - e imaginando que legal seria ouvir Jorge Lemann dizer que “endeusaram” a cerveja artesanal no Brasil: “não é tão importante assim, temos outras alternativas como a Skol ou a Bramha que são imbatíveis”. Ou, quem sabe, ler que Daniel EK - CEO do Spotify - declarou que estão superestimando a importância dos serviços de streaming “esquecer a importância dos discos de vinil seria um erro”.
Parece bem idiota, não é?
Pois bem, foi praticamente isso que Pedro Parente, que rima com incompetente, fez ao desdenhar do Pré-sal em um evento em São Paulo, afirmando que “endeusaram” o reserva nacional ultraprofunda de petróleo
[Vale Salientar que presidente da Petrobrás ressaltou que existem aplicações a serem feitos também na Bacia de Campos e essas realmente são investimentos cruciais para manter a alta produção dos campos da região e o Know-how de exploração e produção em águas profundas. Mas menosprezar o Filé Mignon não justifica tal fato]
Imagino que qualquer cidadão ou cidadã brasileira já se deu conta da importância do petróleo encontrado abaixo da camada de sal com a mega produção de curto prazo que a Petrobrás conseguiu - mais de um milhão de barris por dia - numa empreitada que muitos vira-latas diziam ser impossível de acontecer devido ao alto custo de produção.
Se os brasileiros ou brasileiras ainda não acordaram, os holandeses já estão de pé, tomaram o café de manhã e escovaram os dentes, e estão prontos para dar o bote. O presidente da Shell não perdeu a oportunidade de aparecer no gabinete do presidente ilegítimo Michel Temer para tentar adiantar a entrega do Pré-Sal prevista para ocorrer semana que vem na câmara.
Ao menosprezar a maior descoberta do mundo do petróleo das últimas décadas - justamente com o Xisto - Parente desvaloriza o ativo mais importante da empresa que ele mesmo preside. Que tipo de empreendedor comete tamanha insensatez?
A resposta, infelizmente, é tão clara quanto o oceano da Bacia de Santos: Parente joga pro time dos entreguistas, da elite vira-lata que tem preguiça de trabalhar aqui no Brasil e quer viver com as migalhas das multinacionais estrangeiras, deixando a eles os louros da ciência e tecnologia gerada com o aprendizado cotidiano no trabalho e abrindo as portas do Brasil para a famigerada maldição do petróleo, que assola países com reservas superiores às nossas.
*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense
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