Mauricio Dias: O caminho de Dilma


Opinião

O “massacre” sofrido no julgamento do Senado e a permanência dos seus direitos políticos sopram a favor do seu futuro
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 02/09/2016 12h10, última modificação 03/09/2016 01h06
                                                                                          Leonard Mccombe/Getty Images e Lula Marques/Agência PT
Getúlio e Dilma
Como Getúlio, busca refúgio no Rio Grande. Depois...
Nem tudo são flores para os governistas de agora no golpe urdido, chamado de impeachment, para derrubar a presidenta da República, Dilma Rousseff, e a favor da ascensão do vice, Michel Temer. Comemoram.
Não foi bom para eles que a deposta mantenha seus direitos políticos, ainda que a decisão que a premia possa também favorecer Eduardo Cunha.

Ela não sairá de cena. Impedida, deixou a Presidência. Não perdeu, porém, a inelegibilidade, conforme decidido no Senado. 
Além de Lula há um novo “bicho-papão”, Dilma, para assustá-los na boca das urnas.
Foi golpeada. Afastada da Presidência. Manteve, no entanto, seus direitos como o de retornar à vida pública. Embora seja pessoa de poucos sorrisos, pode-se especular, resguardado o espaço para o humor, sobre a possibilidade de a ex-presidenta ter rido por último. 
Diziam que ao fim do governo ela iria para casa. Talvez. Agora, porém, fincou o pé na política. 
Aécio Neves, senador tucano e presidente do PSDB derrotado nas urnas por Dilma, em 2014, foi à tribuna e, sem nenhum pudor político, pregou o voto para bloquear a volta dela às atividades. 
Outro senador, que de tão obscuro não se guarda o nome, diante das luzes da TV Senado, anunciou a morte política dela: “Vai ser afastada definitivamente da vida pública”.  Mau profeta. Oco e palavroso.
Ao que se sabe, embora não tenha falado com ninguém sobre o possível retorno à vida pública, Dilma marcou discursos e entrevistas recentes com a referência específica à “maior aproximação com o povo”.  
Ela cumpriu uma longa jornada de resistência ao subir em palanques de vários estados brasileiros. Não que ela buscasse, mas esse movimento, somado ao “massacre” do julgamento no Senado, pode ter efeitos positivos. É preciso aguardar as pesquisas.
A perspectiva da luta de Dilma não terminou. Essa disposição está gravada no discurso escrito antecipadamente e guardado em segredo. No texto, ela destaca uma afirmação: “Nós voltaremos”.
A expressão, adaptada calculadamente às circunstâncias dela, foi inspirada na expressão “Ele voltará”, marcante na campanha eleitoral de Getúlio Vargas, em 1950.
Há razões políticas. O gaúcho Getúlio, após o golpe contra ele ocorrido por razões e circunstâncias diferentes do golpe contra Dilma, refugiou-se no Rio Grande do Sul (São Borja). João Goulart, também gaúcho e igualmente deposto, voou inicialmente naquela direção. De lá foi para o exílio. A mineira Dilma também vai para lá (Porto Alegre). 
Dilma tem um capital político. O destino eleitoral dela vai depender das circunstâncias de 2018. De um modo ou de outro, ela vai entrar no jogo. 
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Mauricio Dias
Mauricio DiasJornalista, editor especial e colunista de CartaCapital.mauriciodias@cartacapital.com.br

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