Janio: Concluído o impeachment, PSDB e PMDB voltam a ser adversários

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Por Janio de Freitas - na Folha

As cobranças e ameaças de rompimento, feitas pelo PSDB caso o governo protele as reformas duras e impopulares, dão ideia do que as atuais tensões prometem. O PSDB pretende que Temer, fazendo os cortes de direitos previdenciários e trabalhistas, limpe o campo para o governo que os peessedebistas almejam conquistar e, de quebra, fique com os ônus da ação antissocial.

Ônus para Temer serão, porém, ônus para o PMDB. O grande partido incapaz, em 25 anos com eleições diretas, de fazer mais do que figuração nas disputas pela Presidência. Enfim, o comando peemedebista acha agora que manterá eleitoralmente a posse do governo, com Temer candidato ou não. Otimismo que vale como indicação de condutas em várias direções.
Se quer competir mesmo, o PMDB não pode deixar o governo submetido ao PSDB. Também não pode dar-lhe as costas. O melhor tratamento que o PSDB pode esperar é o jogo duplo, que o PMDB pratica sem cerimônia, como Dilma pode testemunhar. Um treininho desse jogo foi feito há pouco, quando Aécio Neves exigiu o projeto de reforma previdenciária em setembro, não depois das eleições.
O Planalto recuou logo: está bem, o projeto sairá neste mês. Mais precisamente, no último dia, sexta-feira 30, a dois dias das eleições. Aécio e o PSDB tiveram que calar.
As dificuldades do governo não são menores no Congresso. Reformas que cortam benefícios contrapõem-se à esperança peemedebista para 2018. Não só na disputa presidencial. Deputados e senadores, dos quais o governo espera que propaguem as reformas como benefícios futuros, sabem que o bolso dos prejudicados fala mais alto.
E, se políticos não são dados a sacrificar-se, muito menos o seriam os do PMDB. Dificuldades, pois, de Temer com o seu partido e, a mais, com os peessedebistas.
Concluído o impeachment, PSDB, com seus caudatários, e PMDB voltam a ser adversários. Muito mais do que o foram antes de se associarem contra Dilma: os peemedebistas não tinham então aspirações reais a conquistar a Presidência. O enfrentamento agora é exterminador. Michel Temer não fará a "pacificação" nem entre os que lhe deram a Presidência. Nem sequer dentro do seu governo, onde o mesmo sonho presidencial acirra o confronto entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e os peemedebistas que controlam o Planalto.
A crise política sufocando o governo muda a sua forma, e só. Preserva até o risco de agravamento, caso, além de problemas políticos maiores, falhem no Tribunal Superior Eleitoral as manobras que livrem Michel Temer de condenação por irregularidades eleitorais.
MISTÉRIO
Ao receber amanhã a presidência do Supremo Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia terá oportunidade de aplacar a inquietação que suscitou, ao despedir-se da Segunda Turma do STF. Disse ela: "O Supremo é um só. O Judiciário tem que voltar a ser um só. Hoje tem sido vários, e juntos somos muito mais".
Cada uma das três afirmações, obscuras todas, comporta várias interpretações. Desagradáveis por igual. Juntas, assim a frio, depois de um golpe —e você, está com o passaporte em dia? 

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