Deus escreve certo por Cunhas tortos?

Cunha considera (ameaça) que Moreira Franco não conseguirá se segurar no governo. Ou seja, o governo perderá o seu cérebro.



Tânia Rego
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Uma coisa é triturar Cunha no plenário da Câmara, impondo-lhe uma derrota vexatória. Outra é tê-lo como inimigo figadal no pós-apocalipse. Na primeira entrevista depois de ter sido despejado do mandato, Cunha mostra que sabe identificar os seus inimigos. Diz que quem o cassou foi o governo Temer, cujo "cérebro" é Moreira Franco, que articulou a candidatura do genro Rodrigo Maia "atropelando a base aliada". Cunha sabe que foi na articulação da candidatura de Maia que começou sua derrota acachapante no dia 12 de agosto. E não engoliu.

Por isso, mira sua bazuca em Moreira Franco,  "o cérebro do governo", a quem Brizola se referia como gato angorá.


Moreira Franco pilota a venda do Brasil na quitanda das parcerias púbico-privadas do PPI (Programa Parcerias de Investimento). Cunha diz que quem sempre comandou e ainda comanda o FI-FGTS é Moreira
Franco. Moreira era Vice-Presidente de Loterias e Fundos da Caixa quando da operação no Porto Maravilha, pela qual Cunha é investigado.  Por isso e pelas perdas que o Fundo teve sob gestão do Moreira,






Cunha considera (ameaça) que ele não conseguirá se segurar no governo. Ou seja, o governo perderá o seu cérebro.


Cunha não previu vida fácil para Temer. O PPI, a principal aposta de Temer para a retomada do desenvolvimento, nasce, segundo Cunha, sob o signo do escândalo e da suspeita: dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vem do FI-FGTS, comandado por Moreira Franco. Se o PPI não vingar (e não vingará por outras razões, que Cunha não aborda), o governo entra em estado terminal. Uma observação: na melhor das hipóteses, o PPI somente produziria os seus primeiros leilões em 2017. Até lá, muita grana vai rolar na quitanda do Moreira (termo cunhado pelo senador Roberto Requião) com estudos, consultorias e elaboração de editais ao gosto do freguês.

Se o "cérebro" for ferido de morte, Temer será um morto-vivo mantido em respirador mecânico pelo PSDB, que espera a sua vez chegar finalmente em 2018. É o que diz Cunha: "O Michel tem que tomar cuidado porque, no fundo, o PSDB quer jogar a impopularidade no colo dele para depois nadar de braçada." Segundo Cunha, o PSDB mantém o processo contra Temer no TSE (presidido pelo tucano Gilmar Mendes) como uma "faca no pescoço".

Cunha prevê que a estabilidade não voltará ao país até as eleições de 2018. Por uma razão simples: Temer não tem legitimidade para impor um programa radicalmente diferente daquele que elegeu a chapa de Dilma em 2014. Por isso, o discurso do golpe pegou, diz ele. Ou seja, Cunha e as ruas dizendo coisas semelhantes ainda que por razões absolutamente diversas.

Cunha dá mostras de que sua estratégia não é a de facilitar a vida de Temer, a cujo governo credita sua cassação. O centro do ataque é Moreira, "o cérebro". Para os outros atores de menor importância promete (ameaça) referências datadas e precisas no livro que está escrevendo a respeito do impeachment e que virá como "presente de Natal".

Quanto ao PMDB, diz que não pensa em sair do partido, porque sua guerra estaria apenas começando. Ou seja, uma nova nuance da crise será a guerra entre Cunha e Moreira no PMDB presidido pelo senador Jucá, irmão de Cunha em tantas batalhas em favor do país e o mais importante articulador de Temer no Congresso. Jucá é ainda o virtual Ministro do Planejamento. A pergunta é o que Jucá pode oferecer a Cunha. Ou, melhor, o que lhe é dado negar.

A crise política se aprofunda. Viva a crise!  Last but not least, #ForaTemer!


*Advogado e professor de Direito




Créditos da foto: Tânia Rego

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