Caiado sempre armado. Por Jaime Sautchuk.

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por Jaime Sautchuk * - no Portal do Vermelho

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) se arvora a porta-voz da direita nos processos hoje em curso no Congresso Nacional. Seu ramo, porém, não é bem o da palavra. Ele segue a tradição de sua família, que sempre pegou em armas contra qualquer movimento que insinue mudanças sociais em Goiás e no País, desde a época da escravidão.


É sujeito renitente, a ponto de atualmente, em pleno Século 21, responder a processos na Justiça pelo uso de trabalho escravo em suas fazendas e pelo mando de assassinato de lideranças sindicais rurais. E é também ferrenho opositor, inimigo até, do tucano Marconi Perillo, governador de seu estado.

Há quem suspeite que seja problema genético. Afinal, ele é neto do coronel Antônio Ramos Caiado, ou Totó Caiado, que reinou na antiga Vila Boa (Goiás Velho), capital do Estado até a década de 1930. Feroz matador de índios, ele combateu o reinado de D. Pedro II, por libertar os escravos, ainda no Século 19.

Com sua jagunçada, Totó tentou conter com armas a Coluna Prestes (1925-27), em sua prolongada passagem por Goiás. Os principais embates se deram nas proximidades das cidades de Anápolis, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e na própria capital, Vila Boa. Houve muitas baixas de ambos os lados, mas a Coluna seguiu sua marcha.

Em verdade, os tenentes revoltosos seguiam sempre em duas frentes, uma comandada por Luis Carlos Prestes, outra por Miguel Costa. Se necessário, formavam outros braços,confundindo os adversários, de modo que deram muitos bailes nas tropas toscas dos Caiado.

Vale aqui citar o livro “A Coluna Miguel Costa-Prestes em Goiás”, um meticuloso trabalho dos pesquisadores Horieste Gomes e Francisco Montenegro. Foi lançado em 2010, pela Editora Kelps, de Goiânia, com detalhes sobre os entreveros ali ocorridos.

Três anos depois, porém, insurge a Revolução de 1930, colocando novamente os jagunços dos Caiado em pé de guerra nos sertões goianos. Neste caso, chegaram a aprisionar o médico conterrâneo Pedro Ludovico Teixeira, que comandava as tropas revolucionárias no Estado.

Mas isto foi só por um dia, pois Getúlio Vargas assumiu o poder e pôs ordem na casa. Ao formar o novo governo, nomeou Ludovico governador de Goiás, mas este disse que só aceitaria se a capital fosse em outro lugar, longe dos Caiado, o que fez nascer Goiânia. Ali, ele montou seu gabinete, no próprio canteiro de obras. Foram quinze anos de vacas magras pra velha oligarquia.

O atual senador Ronaldo Ramos Caiado nasceu em 1949, em Anápolis, trazendo do berço a raiva, o patrimônio e a patente oficiosa de coronel. Passou a infância entre esta cidade, a ex-capital e então decante Goiás Velho e as fazendas da família.

Muito cedo, contudo, foi morar na França e lá se iniciou na política, ainda como estudante secundarista, como militante da juventude fascista do Partido Nacional, de Jean-Marie Le Pen. Ou seja, no miolo da mais raivosa direita europeia

Seguiu nessa militância até a universidade, já de volta ao Brasil, onde se formou em Medicina, no Rio de Janeiro. E virou político aqui. Foi, desde logo, um dos fundadores da União Democrática Ruralista (UDR), de triste memória. A entidade foi criada, em 1985, com o fim da ditadura militar. Sua finalidade estatutária era "a preservação do direito de propriedade e a manutenção da ordem e respeito às leis do País”.

Na realidade, porém, era um movimento político-militar destinado a combater as propostas de Reforma Agrária que proliferavam no País e iriam desaguar na Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Atuava no Congresso e mantinha uma milícia armada que operava em várias partes do território nacional.

Segundo a revista Veja, insuspeita no caso, entre 1985 e 1989, foram atribuídos à UDR o assassinato de 640 lideranças de trabalhadores rurais no Brasil. E afirma que “como resultado da atuação dos ruralistas, a Constituição de 1988 preserva os direitos de propriedade rural em terras produtivas”.
No entanto, em 2005, o relatório final da CPI Mista da Terra, no Congresso, pediu o indiciamento das lideranças da entidade por apropriação ilegal de terras públicas. Mas ficou por isso.

Ronaldo foi eleito deputado federal por Goiás por cinco mandatos, com intervalos pra se candidatar a governador do seu estado e até à presidência da República, sempre sem sucesso. Em 2015, elegeu-se senador por margem pequena de votos, o que é atribuído ao grande número de candidatos numa eleição de uma vaga apenas.

Ferrenho defensor do impeachment de Dilma, é aliado de primeira hora do governo golpista de Michel Temer. Pode até aceitar algum cargo na equipe. Estão vagos até o momento os de presidentes do INCRA e da Funai.

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* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
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