Aquarius como o Brasil: de novo a esperança contra o medo. Por Emir Sader.

Rovena Rosa/Agência Brasil:
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Emir Sader - 05/09/2016

Os aplausos que se ouvem em todas as salas que projetam o filme Aquarius refletem não apenas o agrado com a película e a força na resistência contra a discriminação do governo golpista. Representam também a identificação com a luta e a vitória da personagem representada por Sonia Braga, na sua luta contra o poder do dinheiro. Representam a identificação com a esperança contra o medo.

Uma polarização que volta, junto com o Diretas Já, conforme o governo golpista tenta se impor pelo medo à população. Como é típico de todo regime ditatorial. Não podem projetar esperança, tem que tentar se sustentar no medo.

Não é diferente com o governo atual: primeiro, a exploração do medo de que o país iria na direção do caos, se não se derrubasse o governo eleito pelo povo. Agora, ameaças de que as pessoas tenham que trabalhar muito mais tempo para se aposentar, que as mulheres tenham que trabalhar o mesmo tempo que os homens para se aposentarem. Que os trabalhadores já não poderão contar com a legislação do trabalho, com os patrões valendo-se do desemprego para rebaixar os salários e aumentar a jornada de trabalho. Que a idade penal será diminuída. Que os direitos elementares ao aborto serão abolidos. Que os patrões poderão contratar trabalhadores terceirizados, sem contrato de trabalho, da forma que lhes interessar. Que os recursos para as políticas de educação, de saúde, de transporte e para todas as políticas sociais, serão diminuídas drasticamente. Que o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida sofrerão grandes cortes.

A direita, sem apoio popular, sem legitimidade para exercer o governo, só pode tratar de governar pelo medo, pelas ameaças, pela repressão. Porque um povo com esperança não se deixa dominar, não se resigna.

É assim com Clara, a personagem representado por Sonia Braga em Aquarius. Depois que todo os outros residentes no edifício em que ele mora saíram, diante das ofertas e das pressões da imobiliária, só restou ela, que se recusou a deixar o prédio e se tornou obstáculo para a derrubada do prédio e a construção de um novo. Apesar das pressões de parentes, do jogo sujo de todos os tipos, ela resiste, vai à lutar, encontra a maneira de contornar a pessoa, passa à ofensiva e triunfa. Porque ela nunca se desesperou, nunca deixou de ter esperança, de lutar para encontrar a forma de vencer. E conseguiu, para a alegria dos espectadores que, depois de verem um excelente filme, podem se identificar plenamente com o triunfo dela e se sentirem representados na sua luta.

No Brasil de hoje, os golpistas tratam de se impor pelas ameaças, pelo medo, de que não há alternativas senão impor grandes sacrifícios ao povo, que não teriam alternativas senão submeter-se a eles. Que não haverá eleições livres, nem agora, nem em 2018, para que o povo decida sobre o destino do país.

O que mais apavora os golpistas é o destemor do povo, apesar da sua PM, das suas bombas, do seu gás lacrimogêneo. Que os trabalhadores estejam dispostos a ir à greve pelos seus direitos. Que os jovens, as mulheres, os negros, não se disponham a ver seus direitos retroceder. Que o povo não aceite nesse governo, no que diz e no que faz, que sabe que vão ter que recuar dos seus desígnios cruéis. Que serão escrachados, derrotados e enxotados. Eles é que perdem cada vez mais a esperança de impor seus projetos e se refugiam no medo do povo e da democracia, como se viu este fim de semana nas ruas das cidades brasileiras e nas declarações medrosas dos golpistas. Porque sabem que seu poder é passageiro, que o futuro é do povo e da democracia.

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