Temos razões para nos odiarmos tanto? Por Nílson Lage

POR  · 17/08/2016

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Expulsos pela miséria, pela guerra, pela perseguição étnica, povos de todo o mundo chegaram ao Brasil; recebemo-los e os integramos à nossa cultura.
No entanto, nos julgamos os mais intolerantes.
Estranho país racista esse, o mais miscigenado da Terra – que, em plena escravidão, cultuava seu maior escritor, negro (Machado); seu mais notável engenheiro, negro (André); o fundador de sua ciência psiquiátrica, negro (Juliano Moreira); negros muitos de seus poetas, políticos e heróis de guerra.
Onde mais isso ocorria?

Após 500 anos de colonização, temos o maior contingente de nativos da América vivendo em condições tribais com suas culturas extrativistas preservadas, anteriores à era dos metais – umas 500 mil pessoas – e mais 30 milhões de descendentes integrados a nossas sociedades rurais e urbanas. Única nação do globo em que o exército nacional se dispôs ao sacrifício para preservar essas culturas, somos, porém, a nosso juízo, os maiores algozes dos índios.
A pátria de Rondon?
Há racismo no Brasil? Claro, nunca alguém disse que não havia, até porque, sobre o tanto que sempre houve, importamos muito mais, da Europa, em décadas recentes, com nossa imensa hospitalidade. Há intolerância no Brasil? Certamente, se não fazemos outra coisa senão copiar crenças e ideologias intolerantes, de tanto que somos humildes. Há conflitos por terras no Brasil? Sem dúvida; é a herança inevitável do passado colonial e da cultura da ganância.
Sociedades complexas permitem leituras radicais, contraditórias e sempre verdadeiras na sua particularidade. Pode-se dizer que o Rio de Janeiro é uma cidade amigável ou violenta, que os chineses cospem no chão ou que cultuam a filosofia de Confúcio, que a Inglaterra apossou-se de riquezas de todo o mundo ou que o povo inglês é pobre; e assim por diante.
O problema é que nós nos odiamos.
PS do Tijolaço – a mentira do assalto aos nadadores americanos, a prisão do membro do Comitê Olímpico Internacional Pat Hickey, que abastecia uma rede de cambistas deveria fazer as pessoas pensarem sobre o conceito de que somos “os piores do mundo”. É o que querem que pensemos e, pior, ajuda piorar a discriminação e a injustiça que existem e que eles próprios amplificam, porque cria-se mais ódio e mais barreiras.

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