Se não há estupro, por que há dinheiro, pergunta Cabrini a Feliciano.(Assista ao Video)

.
Jornal GGN - O último Conexão Repórter sob o jornalista Roberto Cabrini retratou o escândalo envolvendo o deputado Marco Feliciano (PSC) e a suposta tentativa de estupro contra a estudante Patrícia Lélis, 22. O caso ganhou destaque no início do mês, quando o UOL revelou mensagens de texto com indícios de que o parlamentar teria abusado de Patrícia em seu apartamento funcional, em Brasília.
Nas últimas semanas, o caso sofreu uma reviravolta: a delegacia de polícia em São Paulo onde Patrícia registrou uma denúncia contra Talma Bauer, chefe de gabinete de Feliciano, agora estuda indicar a jovem por falsa comunicação de crime. Isso porque surgiram imagens de Talma e Patrícia negociando até R$ 50 mil para colocar "uma pedra" sobre o escândalo envolvendo Feliciano.

Cabrini foi direto ao ponto com Feliciano, e quis saber por que houve negociações e pagamentos à Patrícia por Bauer, se o deputado alega que não houve crime de estupro. Na reportagem veiculada no SBT, Feliciano gaguejou um pouco e respondeu que não sabe dizer. "É o que também quero saber", tangenciou.
"Eu queria saber, me conte [que dinheiro é esse]. Eu não autorizei [pagamentos à Patrícia]. É tudo mentira. Pode vasculhar minhas contas. Bauer não tinha autorização porque ele não deu! É mentira. Não aconteceu nada. Esse dinheiro nunca saiu dele. Alguém está por trás disso", disse Feliciano.
O deputado conseguiu emplacar no programa mais um indício a seu favor. A reportagem criou um obstáculo ao relato que Patrícia fez ao Ministério Público Federal, sobre como teria sido a tentativa de estupro. Nele, a jovem afirma que foi ao apartamento funcional de Feliciano em Brasília, por volta das 9h do dia 15 de junho. Lá, Feliciano teria lhe oferecido um cargo alto dentro do PSC em troca de relações extraconjugais. Diante da negativa, ele teria partido para a agressão.
Mas Feliciano alega que entre 8h55 e 10h daquele dia, esteve em reunião com o ministro do Trabalho. Conexão Repórter conseguiu as imagens que comprovam que o deputado entrou e saiu do prédio no horário e dia informados.
O assessor de Feliciano disse à reportagem que o parlamentar não sabia das negociações financeiras com Patrícia, que tudo teria sido feito por iniciativa do próprio Bauer, para evitar que o escândalo fugisse do controle. "Eu, como chefe de gabinete, tinha que tomar minhas atitudes e não comuniquei a ele essas negociações porque achei que estava tudo bem. Eu peguei das minhas economias e fiz o que ela queria", disse Bauer, relatando que entregou R$ 20 mil a Patrícia, fora outros pagamentos para manter a jovem em São Paulo.
Dias após a tentativa de estupro em Brasília, Patrícia não buscou imediatamente uma delegacia. Ela disse ter procurado a cúpula do PSC, incluindo o pastor Everaldo, dirigente nacional, para tratar da denúncia contra Feliciano. Na versão da jovem, os políticos apenas lhe ofereceram um saco de dinheiro para remediar a situação. Na visão do PSC, Patrícia mente e tem "compulsão" por denunciar estupros que nunca conseguiu provar.
Patrícia diz que foi aí que um assessor político chamado Emerson teria entrado em cena com o interesse de assessorá-la. Ele teria, diversas vezes, tentado vender a denúncia contra Feliciano para veículos da grande mídia. Emerson relatou a Cabrini que Patrícia só aceitou negociar com Bauer quando percebeu que não conseguiria receber nada de veículos de comunicação em troca de entrevistas. O assessor afirmou que a partir daí, ele decidiu filmar os movimentos de Patrícia e Bauer, já prevendo que a história poderia parar na delegacia.
Em determinado momento da reportagem, a câmera do SBT já não está mais na mesma sala em que estavam Cabrini e Emerson. E, então, o jornalista pergunta ao assessor político se ele achava que Feliciano tinha conhecimento de que Bauer tentava comprar o silêncio de Patrícia.
"Olha, ele era o assessor do deputado. Veio para resolver o caso. Então, com certeza, ele sabia de tudo. Toda hora eu via o celular dele [Bauer] sendo chamado pelo Marco. Eu não lia as mensagens, mas ele [Feliciano] sabia o que estava acontecendo."
Emerson entregou ao SBT um video rápido em que só é possível ver Bauer passando seu celular para Patrícia falar com Feliciano em viva voz. "Eu peguei o telefone e falei 'o que você quer'. Ele disse: 'Minha querida, me ajuda aí. Eu tenho três filhas. Eu tenho igrejas. Me ajuda", relatou Patrícia, sobre a ligação.
Na internet, corre um vídeo em que Patrícia aparece surpresa ao descobrir por Bauer que ele teria separado R$ 50 mil para ela, mas que o dinheiro foi entregue a um tal de Arthur, que seria o responsável por intermediar o pagamento. O homem teria dito à jovem que ela ficaria com R$ 10 mil, mas ao que tudo indica, ele desapareceu com todo o dinheiro.
Bauer disse a Cabrini que Patrícia, ao final, teria aceitado R$ 20 mil, e que ele pagou "para evitar mal maior". "Eu achei que o escândalo era muito maior." Ao UOL, a mãe de Patrícia admitiu que a filha pediu uma conta com CNPJ emprestada. A defesa de Patrícia alega que não houve nenhum pagamento.
Além de entender porque houve a tentativa de calar a boca de Patrícia se Feliciano afirma que não cometeu nenhum crime, falta descobrir o que exatamente motivou Patrícia a ir à delegacia denunciar todos os personagens envolvidos nessa história.
Foi só no dia seguinte ao encontro entre Patrícia e Bauer onde foi citado os R$ 50 mil que ela recorreu à Polícia para denunciar o chefe de gabinete por tentativa de cárcere privado. O assessor foi preso temporariamente e, hoje, o delegado acredita que Patrícia não era exatamente vítima de uma espécie de sequestro. "Fomos vendo que ela não estava cerceada, porque ela saia, ia a restaurantes, inclusive na companhia de Emerson e de Bauer", disse o delegado na reportagem.
Em São Paulo, ela deve ser denunciada por falsa comunicação de crime. Feliciano e o PSC também afirmaram que vão mover uma ação por calúnia e difamação.
Em Brasília, contudo, falta a Procuradoria Geral da República decidir quando e se vai levar o pedido de investigação por tentativa de estupro contra Feliciano adiante.

Comentários