O “todo poder ao Moro” instituiu a anarquia judiciária no Brasil
POR FERNANDO BRITO · 24/08/2016
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É que nossa imprensa e os nossos conservadores são muito, perdão da palavra, avacalhados.
Não há um país no mundo onde pudesse estar havendo um combate aberto entre um ministro do Supremo Tribunal Federal e uma associação que representa a corporação de juízes.
Você consegue imaginar, nos EUA, uma liga de juízes de condado e -mais ainda – uma Liga de Juízes de Condado que entre em guerra com um juiz da Suprema Corte?
Evidente que não.
Coices de Gilmar Mendes nunca foram propriamente uma novidade.
Mas eram uma estupidez isolada, geralmente minoritária no Supremo.
Desde que a Lava Jato se tornou o cavalo de batalha da mídia contra o PT, com o endeusamento de Moro e seus rapazes do MP, a corporação judicial sentiu a oportunidade de abocanhar poder.
As associações de juízes passaram a fazer uma militância política, para além de meros interesses corporativos.
E como era uma militância anti-esquerda e anti-PT, todos a aceitaram.
Apoiar Moro, fortalecer Moro, endeusar Moro era apoiarem, fortalecerem e endeusarem a si mesmos, como indivíduos e corporação.
Concederem-se, portanto, mais poder, bem como assim foi com o Ministério Público.
Enquanto se batiam contra pessoas que tinham a moderação que a liturgia dos cargos obriga – e que levavam esta moderação, cada vez mais, para o tereno do avassalamento, o que não se confunde com o respeito democrático à Justiça – nada aconteceu.
Agora, bateram no espinhoso Mendes.
E a troca de ofensas chegou ao inimaginável.
Ele diz que os imorais auxílios rebebidos pelos juízes e promotores são “seu pequenos assaltos” ( no meu dicionário, que assalta é assaltante) e que suas remunerações se compõem de “gambiarras institucionais”.
Os juízes rebatem, dizendo com todas as letras o que pensam das atividades de Mendes com sua “faculdade” de Direito, o Instituto de Direito Público (Público, privado, convém frisar) dizendo que sua ideia de Magistratura é de juiz “que não exerce atividades empresariais, que respeita as instituições e, principalmente, que recebe somente remuneração oriunda do Estado”.
Sérgio Moro, que é o comandante simbólico da sublevação da magistratura não vai entrar diretamente nesta briga. Vai reagir nos autos, onde faz e desfaz com pouca reação dos tribunais superiores que já passaram da intimidação para a adesão, à medida em que se perderam os pruridos das garantias do cidadão.
Os gaúchos, no interior, têm um ditado: cachorro que comeu ovelha, só matando.
Sem morticínios, como é do civilizado, não é imaginável onde esta “briga de rua” vai parar.
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