Noblat: “Governo Temer é refém do medo”. E não só do de Cunha

POR  · 15/08/2016
noblatemer
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O mais grave sinal de alerta sobre a estabilidade do Governo Temer foi aceso hoje pela coluna de Ricardo Noblat, em O Globo.
Noblat, que está longe de ser “imputado” de esquerdista, petista, lulista ou dilmista, diz, sem meias palavras, que o governo de Michel Temer treme de medo diante de tudo. Não apenas – e teme muito isso – das possíveis denúncias de Eduardo Cunha:

Quem tem medo de Eduardo Cunha, a ser cassado em breve por falta de decoro? O governo de Michel Temer tem. E da Justiça Eleitoral? Também. E da Lava-Jato? Ele, mas não só.
E medo de que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff acabe derrotado no Senado? O governo tem um pouco, afinal nunca se sabe o que poderá acontecer até lá. Definitivamente, este não é um governo para cardíacos.
Noblat assume o que todos sabem: que Temer trabalhou para adiar para setembro a votação da cassação de Eduardo Cunha não paenas para que ela se desse após a votação sobre Dilma, no Senado, mas para que, dali, pudesse ser novamente adiada, quem sabe para 2017. Quem sabe para nunca…
Cunha acumula segredos que poderão pôr o governo a pique, além de provocar um terremoto na Câmara. Ali, mais de uma centena de deputados deve favores milionários a ele. Alguns devem a própria eleição.
Temer conhece parte desses segredos. E, por isso, receia os estragos que sua revelação causaria. Dificilmente cairá se Cunha abrir o bico. Mas em torno dele, muitos cairão ao primeiro sopro. O desgaste será grande.

O  colunista de O Globo admite  que o adiamento ad eternum da votação não resolve o problema, porque acabará empurrando a Justiça a assumir – com gosto, aliás – o papel de protagonista na “execução” do ex-presidente da Câmara.
Ao se dispor a contar o que sabe, ou parte do que sabe sobre a corrupção na política, Cunha poderá negociar uma pena mais branda. E talvez uma prisão no conforto do seu apartamento no Rio. De resto, livraria a mulher e a filha de serem condenadas. Ele está pensando a respeito.
Para além de Cunha, fica o front que está aos cuidados – por enquanto, mas não para sempre – solícitos de Gilmar Mendes na Justiça Eleitoral, onde, diz Noblat, “o governo pensa no que fazer para evitar que ela julgue tão cedo as ações que pedem a cassação da chapa Dilma/Temer”.
O governo apostava no desdobramento das ações ajuizadas contra a chapa Dilma/Temer, de modo a que apenas Dilma fosse punida, Temer não. Mas já sabe que isso será impossível.
O que não é impossível, completa ele, é que novas delações da Lava Jato ainda podem complicar mais ainda as coisas e o que pode o Governo Temer fazer  quanto a isso é  “só sentir medo”.
Sem duvidar um instante do quadro descrito por Noblat, que sequer golpista considera este governo, permito-me apenas lembrar que há algo perigosíssimo no fato de serem Temer e sua entourage homens dominados pelo medo.
É que mesmo ao mais dócil animal, ver-se encurralado, ameaçado, acuado pela necessidade de sobreviver, o medo desperta a agressividade.
Não se iludam com os modos corteses de Michel Temer.
E recordem que escolheu dois ministros para chamar de seus, seus mesmo, no seu governo ilegítimo: Alexandre de Moraes, o Ministro da Polícia, e Sérgio Etchegoyen, da Segurança Nacional Institucional.

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