Moro empaca delação da Odebrecht por Serra, por Janio de Freitas

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Jornal GGN - A coluna de Janio de Freitas, nesta quinta, na Folha, fala do acordo de delação periclitante da Odebrecht com a Lava Jato. A discussão persiste e pontos para fechar a delação estão escasseando. Este impasse só tem a colocar em xeque uma das mais importantes delações de tal processo.
Os Moros e procuradores já deixaram claro que só aceitariam mais "um acordo de delação" e com duas empreiteiras a discutir tal acordo. Isso seria um pontinho a mais a espremer a já tencionada situação para fechar os acordos. O fato é que eles querem algo bem definido, e usam da pressão para colocar a delação no tom certo de suas aspirações. A prova disso é que os vazamentos se tornaram menos frequentes, desde que a Odebrecht começou a colocar na mesa os nomes que tinha em sua caixa de propinas, e não eram os nomes que eles queriam.

Um revoar de asas se ouviu, ao longe, mas nenhum vazamento de monta como os do pedalinho ou do bote de 4 mil. Daí uma repórter da Folha apura que a Odebrecht passou ao Chanceler interino, quando candidato, importâncias robustas, que abasteceram uma campanha? Dificilmente, já que um partido não precisa de dinheiro no exterior, pois isso seria um complicador na hora de repatriar os valores. Dinheiro no exterior vai para bolsos de pessoas, não de partidos. Se a Odebrecht enviou dinheiro para o exterior em benefício de Serra, o beneficiário não foi o gasto de campanha, mas o bolso do personagem. Leia o artigo de Janio a seguir.
da Folha
por Janio de Freitas
A discussão entre dirigentes da Odebrecht e a Lava Jato, sobre um acordo de delação premiada, encontra dificuldades resistentes de parte a parte. A ponto de ser admitida a hipótese de uma situação nova e de decorrências imprevisíveis, com a mais importante das empreiteiras e os métodos da Lava Jato postos em xeque.
Há um mês, Sergio Moro e os procuradores divulgaram que só aceitariam mais um "acordo" de delação. Havendo, porém, duas empreiteiras a discuti-lo, era já um degrau mais alto nas pressões contra as dificuldades de dobrar a Odebrecht e a OAS, nas pessoas de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. Nem por isso os dois saíram correndo para conceder o que lhes é exigido, na concepção de preço que a Lava Jato arbitra, sem parâmetros prévios, e submete à aprovação do STF.
Marcelo Odebrecht está preso em Curitiba há um ano e dois meses, a se completarem na próxima semana. Aguardou quatro meses para a primeira e breve inquirição. Só na semana passada foi ouvido pela primeira vez no grupo de procuradores, como noticiado pela Folha. Léo Pinheiro recebeu outra pena. Os ex-diretores da Petrobras, que agiram com várias empreiteiras, estão em suas casas de férias em Itaipava e Angra dos Reis, e em edifícios luxuosos de Ipanema e Leblon.
O impasse entre a Lava Jato e a Odebrecht deixou bem caracterizado o seu início: os vazamentos da força-tarefa curitibana de repente arrefeceram, e logo sumiram mesmo por largo tempo. As informações propostas pela Odebrecht, para análise da possível delação, davam rumo diferente à temática da Lava Jato: entrevam lideranças do PSDB, governo paulista, Michel Temer e PMDB, enfim, muitos daqueles que, se mencionados em depoimentos distantes, foram entregues depressa aos resguardos do silêncio.
A Lava Jato nada foi verificar ou quis descobrir nesses veios da corrupção, como sabem, não o digam ou digam o contrário, os que têm as informações básicas sobre o que se passa lá e nas adjacências. A confluência de novos citados e o sumiço de vazamentos faz parecer a existência de uma contradição nessa fase da Lava Jato, em cobrar mais delações e desprezar delações a mais do que o esperado ou desejado.
Só há quatro dias um assunto da nova temática apareceu, com a revelação daFolha, pela repórter Bela Megale, de que dirigentes da Odebrecht informaram a Lava Jato sobre doação "por fora" de R$ 23 milhões (hoje, R$ 54,5 milhões) "à campanha" presidencial de José Serra em 2010.
Além daquele montante, haveria ainda R$ 2,4 milhões (R$3,6 milhões de hoje) doados por meio do Comitê Financeiro Nacional da Campanha, portanto, legais em princípio.
Parte daquele montante anterior foi depositada no exterior. E aí há, digamos, um equívoco. Partido não precisa de dinheiro no exterior, o que até exige complicadora remessa para o Brasil. Depósito no exterior indica como destino, não campanhas, mas bolsos e contas pessoais, mesmo se encobertas por terceiros.
Ainda no ramal novo, o aparecimento de Michel Temer e Eliseu Padilha, se bem que citados por "Veja", traz delicada contribuição para o seu governo. Não foi por casualidade destoante que a composição do ministério encheu-se de pendurados na Justiça e estrelas das citações a jato. Pode-se agora deduzir afinidades a conduzirem as escolhas. No fundo, é de fato o mesmo grupo do PMDB e da Câmara. O governo montado por Temer tem unidade, pois. De cima a baixo.
Nem mesmo é casual a proteção que Michel Temer e seus aliados proporcionam a Eduardo Cunha para protelar sua cassação, já adiada, e agora marcada para 12 de setembro.

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