Glenn Greenwald ainda não descobriu que a Justiça no Brasil não é justa
Gleen Greenwald escreve, no Intercept Brasil, sobre seu estranhamento sobre as especulações sobre a candidatura de Michel Temer á presidência em 2018.
(…)a grande mídia negligenciou um dado crucial: a condenação na Justiça Eleitoral que decretou a inelegibilidade do interino por oito anos bastaria para que as especulações em torno da candidatura fossem consideradas impróprias, não fosse o profundo desejo da grande mídia de ver a reeleição concretizada.
Caro Glenn você está certo.
Mas só em tese.
Permita que alguém que já viu de quase tudo nestes 58 anos de vida no Brasil esclareça uma coisa sobre este país: nem tudo o que deveria ser é e nem sempre a lei serve para todos.
Pode soar estranho para você, Glenn, mas a Justiça brasileira reconheceu a ditadura militar e fez cara de paisagem quando três de seus ministros do Supremo foram cassados – formalmente “aposentados compulsoriamente” – pelo regime.
Para um tribunal que se manteve cúmplice a prisões arbitrárias, exílios compulsórios, que aceitou torturas e mortes, o que é reverter uma inelegibilidade?
Pode-se argumentar que o tribunal agora é outro, que seus membros foram indicados no período democrático e que essa natureza se foi.
Mas Glenn, você tem um “mau hábito”, o de achar que alguém que vai ao Supremo num governo progressista, escolhido por sua trajetória humanista e garantidora de direitos será, depois que receba a toga, um juiz que age em coincidência com o que foi ao longo da vida.
Aqui, Glenn, não é bem assim. Parece que, ao assinar o termo de posse, o ministro do Supremo Tribunal recebe junto com o manto negro uma injeção autoritária e muda de natureza.
Não é assim lá na Suprema Corte norte-americana, onde o liberal é liberal e o conservador, conservador, não é?
Duvida? Veja a trajetória de Dias Toffoli, de Luiz Fachin e até do ministro Luiz Roberto Barroso, que agora só pensa em tirar processos do Supremo, usando o argumento administrativo sobre o entendimento jurídico…
Olhe como, apesar de o Brasil ter assinado tratados internacionais que consideram a tortura um crime imprescritível, a tortura, aqui, “prescreveu”…
Veja como uma decisão liminar do Supremo impediu Lua de tornar-se ministro com base em gravações que o próprio Supremo reconheceu como ilegais…
Sobretudo, Glenn, veja se você, com sua vivência consegue imaginar uma figura como Gilmar Mendes em qualquer das cortes supremas dos inúmeros países que você conheceu…
A inelegibilidade de Temer é apenas um detalhe, que “não vem ao caso”, se interessar ao status quo que ele seja candidato,
Você, Glenn, tem toda a razão em seu raciocínio. E adoraríamos que você estivesse certo.
Só que a razão é coisa de pouco valor nestas latitudes.
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