Mauricio Dias: A presença de Dilma

Caso a presidenta saia de cena, o governo do interino, transformado em titular, será mais árduo do que agora
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 15/07/2016 12h23, última modificação 16/07/2016 11h42

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Manifestação
As manifestações não queriam esse "titular"
Michel Temer, sem nenhum constrangimento, tem oferecido ao público, nestes dois meses de interinidade na Presidência da República, uma afirmação vigorosa muito própria de quem busca encobrir com o manto das palavras receios políticos mais profundos.
Temer tem afirmado na primeira pessoa do singular: “Governo como se fosse eu o titular”.
Esta arrogância natural já motivou o senador Renan Calheiros, presidente do Congresso, a comparar ironicamente o vice a um “mordomo de filme de terror”.  

Uma observação feita em outra ocasião. 
Temer agora talvez devesse ser mais decoroso. Nada mal, caso se comportasse como um vice no exercício da Presidência. Ele se mostra, entretanto, ansioso demais pelo poder. 
Mas há um perfil curto do governo de dois meses, traçado recentemente pelo economista Marcos Lisboa, do Insper. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ele registrou o comportamento do “titular”: “Se, por um lado, tem falado em sacrifícios, em fazer reformas como a da Previdência (...), por outro, no varejo, tem cedido aos grupos de pressão. Este parece ser um governo fraco, que cede a grupos de pressão”.
O autointitulado “titular” equivoca-se quando diz que governa como tal. Dilma Rousseff, quase reclusa no Palácio da Alvorada, assombra o cotidiano do governante interino.
As razões são muitas. Não só pelo circuito de viagens pelo País, denunciando o golpesofrido por ela e expondo, simultaneamente, desagradáveis notícias para a população mais carente, cujo destino, com as reformas, será o de perder as parcas benesses recebidas pelas políticas anteriores. 
Dilma, do Palácio da Alvorada, projeta um contraponto agudo com os adversários comandados por Temer. 
Moralmente inatacável, Dilma está do lado oposto do alto círculo peemedebista. Quem duvidar pergunte ao juiz Moro. Neste ponto a porca torce o rabo. 
Lava Jato já derrubou, por suspeita de corrupção, três ministros de Temer: Henrique Eduardo Alves, Romero Jucá e Fabiano Silveira. 
Há muitos outros na fila.
Quando os manifestantes, aqueles que foram às ruas marchar contra Dilma, poderão esconder o rosto para dissimular a vergonha do resultado alcançado? 
Fora Dilma! Bem-vindo Temer! Dará certo para o Brasil? Para o povo brasileiro?
Dilma Rousseff, presidenta afastada, acredita em uma virada no resultado da votação do Senado. Difícil, mas não impossível.
A presença de Dilma funciona agora como uma espécie de garantia para o governo interino, chamado à tarefa pelas circunstâncias. Se for consumado o impeachment, terá de mostrar a cara e suas lamentáveis intenções.
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Mauricio Dias
Mauricio DiasJornalista, editor especial e colunista de CartaCapital.mauriciodias@cartacapital.com.br

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