A Questão Central na Campanha Presidencial nos EUA
27/7/2016, Eric Zuesse, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
A questão central na campanha presidencial nos EUA não pode sequer ser discutida na mídia-empresa de 'noticiário' nos EUA, porque a mesma mídia-empresa é toda ela, quase uniformemente, cúmplice do crime de ocultar da opinião pública dos EUA a informação factual crucialmente decisiva para que a população possa votar de modo inteligente e confiavelmente bem-informado sobre aquela questão. Nenhum veículo da mídia-empresa de notícias quer ver noticiada a própria cumplicidade em crime algum; assim sendo, a 'cobertura', de fato o 'encobrimento', continua inalterado. Essa 'cobertura'/encobrimento ativo tem vida própria, que empurra o mundo cada vez para mais perto de uma situação que pode fazer bilhões de mortos, porque quanto mais se mantiver o encobrimento, mais fora de controle tornam-se as coisas. E por isso persiste o ciclo de mentiras virtualmente uniformes, apesar do perigo sempre crescente.
Esse artigo terá de ser relativamente longo, porque o público-norte-americano só ouve mentiras e vive exposto a quantidade gigantesca de mentiras sobre todas as coisas importantes – todas elas associadas à questão nacional central para os EUA –, questão ainda maior que o terrorismo, que o aquecimento global, que a desigualdade econômica crescente e que a sempre crescente corrupção, mas questão que permanece virtualmente ignorada. Esse artigo foi concebido para ser como um desentupidor-desinfetante de um sistema político que está literalmente afogado nas tantas mentiras que lhe são inseridas, e que agora já estão sendo lançadas diretamente na arena política. Ou bem desinfetamos e descartamos a imundície que ameaça nos afogar, ou – e quando menos esperarmos – ela nos matará todos.
A questão central
Essa questão central é se o governo dos EUA mantém ou não o mesmo plano, que vem desde o fim do Pacto de Varsóvia em 1991, para ampliar a OTAN – o velho clube militar anti-Rússia – até junto às fronteiras russas, cercando a Rússia com mísseis nucleares da OTAN postos à distância de cinco minutos de voo de Moscou; e, simultaneamente, se o governo dos EUA constrói ou não uma "Defesa de Mísseis Balísticos" ou sistema de "Mísseis Antibalísticos" (ing. BMD ouABM) que anule os mísseis russos de retaliação, no caso de ataque não anunciado de EUA-OTAN para dominar – se não para varrer do mapa do mundo – a Rússia e sua capacidade de resistir contra o poder dos EUA.
Essa operação é uma feia realidade, mas é a realidade 'liderada' pelos EUA. E o resultado das eleições presidenciais de 2016 nos EUA nos levará ao estágio final da montagem, ou porque porá um fim à 'operação', ou porque a levará à mais terrível culminação. São resultados drasticamente diferentes, mas um lado ou outro acabará por prevalecer naquela disputa eleitoral.
Esse artigo indica vários importantes links onde se reúnem informações de que os eleitores dos EUA precisarão ter conhecimento para poder decidir. Ao mesmo tempo, mostra não só que os eleitores só ouviram mentiras, mas, também, como e porque lhes mentiram tanto. É documentação importante, especialmente porque os fatos aqui documentados foram ocultados, com notável sucesso, por muito tempo. O que aqui se lê não é realidade que os norte-americanos desejem saber, mas, principalmente, é um mundo que os poucos norte-americanos que realmente estão no comando não querem que os cidadãos norte-americanos e a opinião pública norte-americana conheçam. É combinação tóxica – opinião pública ignorante, e ignorância que os que mandam querem perpetuar –, mas é tragicamente real (como se comprova nos documentos aqui listados).
O presidente dos EUA Barack Obama tem dito, repetidas vezes, que os EUA seriam "a única nação indispensável", e que qualquer país que se negue a capitular ante a supremacia norte-americana global é país inimigo. Aplica-se especialmente a Rússia e China – duas nações que foram comunistas. Implica dizer que a 'Guerra Fria' já foi retomada, e que a indústria de armas nos EUA volta a sonhar com grandes dias, mesmo que já não haja hoje a desculpa ideológica de antes ("a ameaça vermelha", o comunismo).
"Os EUA são e permanecem a única nação indispensável. Foi verdade no século passado e será verdade no século que começa. (...) A agressão russa contra ex-estados soviéticos enerva capitais na Europa, enquanto a ascensão econômica e militar da China preocupa seus vizinhos. Do Brasil à Índia, classes médias em ascensão competem conosco, e governos querem ter voz mais forte em fóruns globais. (...) Será tarefa da geração de vocês responder a esse novo mundo. A questão que enfrentamos, a questão que cada um de vocês enfrentará, não é se os EUA liderarão, mas como lideraremos – não para garantir paz e prosperidade só para nós, mas também para estender paz e prosperidade por todo o globo."
Obama dizia aos formandos de West Point naquele dia que a concorrência econômica pode ser causa para os EUA irem à guerra, e que seria serviço deles fazer valer a supremacia global dos EUA.
Obama pôs essa 'missão' em parágrafo moralizante, como sempre faz tão competentemente (para finalidades de propaganda; Obama tem talento terrível para a propaganda), dizendo àqueles cadetes:
"A disposição dos EUA para usar a força em todos e quaisquer pontos do mundo é a derradeira salvaguarda contra o caos. Se os EUA deixarem de agir contra a brutalidade síria ou as provocações russas, não apenas violaremos nossa consciência, mas estaremos também induzindo a escalada futura da violência. (...) No século 21, o isolacionismo norte-americano não é opção. Não temos a escolha de ignorar o que acontece além de nossas fronteiras. (...) Com a guerra civil síria a respingar sobre as fronteiras, só aumenta a capacidade de grupos endurecidos em muitos combates, para nos atacar. Agressão regional que seja deixada sem resposta – seja no sul da Ucrânia ou no Mar do Sul da China, ou onde for no mundo – sempre acabará por ter impacto sobre nossos aliados e pode atrair nossos militares. Não podemos ignorar o que acontece além de nossas fronteiras. E, acima desses raciocínios estreitos, creio que temos empenho real, um interesse nosso que nos obriga a assegurar que nossos filhos e nossos netos cresçam num mundo onde meninas não sejam sequestradas nas escolas e indivíduos não sejam massacrados por causa de tribo ou religião ou convicção política. Creio que um mundo de maior liberdade e mais tolerância não é só um imperativo moral, mas também nos ajuda a nos manter em segurança."
Obama aí 'declara' que se render ante a imposição do controle pelos EUA significaria "mundo de maior liberdade e mais tolerância", rendição que "nos ajuda a nos manter em segurança". Foi o que se viu e foi o que os EUA fizeram... no Iraque?! E quanto à Líbia? O que fizeram os EUA pela Ucrânia? Estarão talvez fazendo algo semelhante a isso na Síria? E quanto aos refugiados que jorram de todos esses países? Estão talvez sendo 'salvos' pela política de Obama... a mesma política dos EUA já há décadas, que jamais foi desafiada e é política dos dois grandes partidos norte-americanos, exceto pelo palavreado das mentiras de uns e outros, enquanto tentam 'justificar' o morticínio?
O predecessor de Obama no cargo, George W. Bush, também trabalhava no mesmo plano, quando invadiu o Iraque em 2003. Suas alegações – de que 'tinha certeza' de que Saddam Hussein estaria reconstruindo seu programa de armas atômicas, sempre a repetir contra "o programa de Armas de Destruição em Massa de Saddam" que "há um relatório da Atômica... da agência IAEA que diz que faltam seis meses para terem pronta uma arma. Não sei que mais provas temos de esperar..." Problema, só, é que tudo aí são mentiras, deslavadas mentiras, e Bush sabia que tudo o que dizia era falso. Sabia que não havia 'relatório' algum de 'Atômica' alguma.
Mas nenhum jornalista, nenhum veículo de mídia sequer suspeitou da mentira ou, então, todos ajudaram a disseminar a mesma mentira, porque se puseram a repetir como papagaios as mentiras do presidente, como se, só por serem 'de Bush', devessem ser tomadas automaticamente por verdades absolutas. (E a mesma 'mídia' também ajudou a ocultar o imediato desmentido, pela IAEA, que declarou oficialmente que jamais existira o tal 'relatório'). Está acontecendo outra vez, mas, agora, a ameaça norte-americana é muitos mais grave, muito mais perigosa.
Os EUA marcham para uma eleição presidencial na qual um dos candidatos, Hillary Clinton, claramente planeja manter a política já ativada desde 1990 (na qual o marido dela teve papel de destaque), e à qual o outro candidato, Donald Trump, quer pôr fim. E o diz sem meias palavras, que os EUA devem pôr fim à política das muitas guerras por todo o mundo. Por isso, é acusado de ser 'agente soviético' (?!). A mesma aristocracia proprietária das empresas, redes e veículos de 'notícias' controla também os dois principais partidos políticos norte-americanos e está, ela também, ameaçada pelo 'projeto' de Trump de repudiar a plataforma dos dois grandes partidos. Para tanto, servem-se de lições de moral – moralismos de direita, ao gosto dos Republicanos, e moralismo esquerdista, ao gosto dos Democratas –, para condenar Trump. Mas a verdadeira razão pela qual Republicanos e Democratas estão obcecados com derrotar Trump é porque o veem como obstáculo para que possam manter a mesma guerra deles todos (pelo lado dos EUA), que realmente jamais foi guerra contra o comunismo; sempre foi guerra global de conquista, para chegar ao controle global. Guerras sempre foram o instrumento preferencial de controle de que se serviram os que controlam os EUA pelo menos desde 1990. E que querem continuar a controlar. E porque querem continuar a controlar o mundo, estão arrastando os EUA rumo ao desastre.
Como base para essa agenda de agressão – uma OTAN que incha e cresce como câncer metastático –, Obama em 2014 perpetrou um golpe ucraniano horrivelmente sangrento (que a propaganda apresentou como se fosse 'manifestação democrática'), levado a efeito por racistas doentios fascistas furiosamente anti-Rússia, na verdade, grupos nazistas) e por um grupo tradicional na Ucrânia, que é descendente direto da facção pró-Hitler e anti-Stálin que houve na Ucrânia – a mesma facção que promoveu pogroms na Ucrânia e que foi aliada das potências do Eixo durante a 2ª Guerra Mundial –, mas que no século 21 está na folha de pagamento do governo dos EUA.
Alguns dos principais membros do Congresso responsáveis por questões da política externa recusam-se até a ouvir falar das provas de que os EUA mentem em todos esses assuntos. Elizabeth Murray mostrou-se chocada ao descobrir que funcionários do governo dos EUA recusam-se deliberadamente a tomar conhecimento das provas. Murray trabalhou como vice-diretora de Inteligência Nacional para o Oriente Próximo no Conselho de Segurança Nacional antes de aposentar-se com 27 anos de trabalho no governo dos EUA (era cogitada para dirigir a CIA.) Dia 24/7/2016, em artigo intitulado "Deputado Rick Larsen Baseia em Mitos a Política para a Rússia", ela narra os próprios esforços para informar o deputado Larsen sobre a realidade da operação dos EUA na Ucrânia.
Na Wikipédia lê-se: "Richard Ray 'Rick' Larsen é deputado no Congresso dos EUA do 2º Distrito Congressional e membro do Partido Democrata. (...) Larsen é membro da Comissão das Forças Armadas e da Comissão de Transportes e Infraestrutura da Câmara de Representantes. (...) Serviu formalmente como diretor de questões públicas na Associação Dental do Estado de Washington e como lobbyist de associações profissionais de dentistas. (...) O 2º Distrito foi representado pelo futuro senador dos EUA Henry M. 'Scoop' Jackson de 1941 a 1953." (Jackson adiante ganhou fama como "o senador da Boeing," primeiro dos neoconservadores do Partido Democrata.)
Murray escreveu (os links abaixo foram acrescentados por mim):
Mencionei ao Deputado Larsen que eu acabava de retornar da Rússia com uma delegação dos EUA, e que, de todas as pessoas com quem eu falara na Rússia – incluindo professores, estudantes, jornalistas, médicos, empresários e veteranos de guerra –, nenhuma manifestara qualquer desejo de envolver-se em guerra nuclear com os EUA; e que absolutamente todos manifestaram desejo de conseguir relações de paz, normalizadas, com os EUA. (...) Durante o tempo que permanecemos em Yalta, organizei um evento de 'natação pela paz' com veteranos de guerra norte-americanos e russos nadando juntos no Mar Negro, que obteve grande repercussão na mídia em idioma russo. Expliquei ao deputado Larsen o que me parecia que fosse a explicação de por que a opinião pública russa desconfia dos movimentos dos EUA na região (baseada no que ouvi das pessoas naquele país), e por que eles sempre temerão os EUA, quando se tratar de movimento unilateral de construção de confiança na direção do desarmamento nuclear. Os russos tinham em mente a gravação de Youtube em que Nuland fala de 'Yats' (na qual se ouve claramente a voz de Victoria Nuland dizendo ao embaixador dos EUA na Ucrânia Geoffrey Pyatt que 'Yats é o homem', pouco antes da mudança de regime pela qual Arseniy Yatsenyuk recebeu o cargo de primeiro-ministro, e que implicou os EUA diretamente no golpe ucraniano), sentem-se ameaçados pelas manobras da recente OTAN/Operação Anakonda que aconteciam ao mesmo tempo que nossa visita, e estavam muito preocupados com as ações de provocação dos EUA na região, incluídas as sanções econômicas contra Rússia e Crimeia, essas últimas impostas depois que a maioria dos cidadãos crimeanos votaram em plebiscito a favor de serem reintegrados à Rússia, em resposta ao que viam como interferência externa nos assuntos da Ucrânia.
Larsen respondeu imediatamente com rejeição e negativas, disse claramente que não acreditava que os EUA tivessem qualquer participação nos eventos ucranianos – que o que eu lhe dizia 'não era o que ouvi por aí' – e continuou a repetir como os Estados Bálticos sentiam-se ameaçados pela Rússia, etc. Não sabia o que era 'Operação Anakonda' e parecia desconhecer completamente que as maiores manobras de todos os tempos da OTAN desde a 2ª Guerra Mundial haviam acontecido há poucos dias, junto às fronteiras da Rússia. Ofereci para enviar ao gabinete dele mais informações sobre o assunto e sobre os eventos na Ucrânia – oferecimento que o deputado ignorou.
A trilha pela qual andamos só terminará em um de dois pontos finais: ou a mídia-empresa de 'notícias' nos EUA cai na realidade e começa a noticiar as realidades cruciais em andamento (como o fato de que a agressão na Ucrânia nada teve a ver com Putin tomar a Crimeia, mas com o golpe acontecido imediatamente antes – e com a ação de limpeza étnica que se seguiu – feita por contratados de Obama, os quais começaram a ser organizados pelos norte-americanos já em 1º de março de 2013, organização que culminou quase um ano depois).
Essa é a realidade crucialmente decisiva que contradiz as mentiras oficiais e assim pode (se tivermos muita, muita sorte) forçar o governo dos EUA a reverter o atual curso; não sendo assim, haverá um ataque relâmpago, ataque surpresa, ou de EUA-OTAN contra a Rússia, ou de Rússia contra EUA-OTAN. Quanto mais perto chegamos do impasse total, menos provável que se confirme a primeira hipótese, e mais inevitável que se confirme a segunda – ataque relâmpago (ou contra a Rússia, ou contra os EUA, pouca diferença faz). Eis a realidade.
O mundo monopolar de Obama não passa de ficção, e quanto antes essa Grande Mentira de Obama for desmascarada (pela mídia-empresa ocidental para os públicos do ocidente), mais seguro será o mundo. Incômodos e desconfortos entre os que promulgaram e propagandearam a Grande Mentira serão em todos os casos a alternativa menos desastrosa – porque a alternativa mais desastrosa implica destruir o mundo de todos.*****
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