À Al Jazeera, FHC desmoraliza o golpe e acusa PMDB de espalhar caso Mirian Dutra nas redes.
Postado em 02 Jul 2016
Desde que Fernando Henrique Cardoso se transformou num dos mais dedicados defensores do golpe, ele deu algumas entrevistas em que passeou com tranquilidade ao acaso.
Uma delas, especialmente marcante pelos personagens e pelas circunstâncias, foi para Mario Sergio Conti, apresentador de um programa na GloboNews e ex-diretor da Veja.
Mario o chamou o “elder statesman” e simplesmente não tocou num escândalo que havia estourado uma semana antes: a jornalista Mirian Dutra resolvera contar tudo sobre a história dos dois.
Parêntese: Mario Sergio foi o executor de uma nota plantada na Veja pelo então ministro Fernando Henrique dizendo que o pai do filho de Mirian era um “biólogo”. O ano era 1991 e Mario era o diretor da revista. Fecha parêntese.
FHC está mal acostumado com a imprensa brasileira e quando sai dessa zona de conforto toma um susto.
Ele foi o convidado do Up Front, atração da Al Jazeera comandada por Mehdi Hasan, premiado jornalista britânico, radialista, escritor e comentarista político, autor de dois livros.
Hasan foi ouvir FHC como ex-presidente do país, portanto com autoridade para falar, e também como um dos “apoiadores do impeachment”.
O que se seguiu foi um embate em que um dos lados saiu irremediavelmente exposto em sua fragilidade de argumentos, nu com sua farsa — e não foi Mehdi.
Posto abaixo o vídeo da Al Jazeera. Infelizmente, sem legenda em português, só em inglês. Destaco aqui os trechos principais. Confira a íntegra no Youtube.
No início, Fernando Henrique tenta explicar que Dilma “cometeu erros contra a Constituição”, que não é “um crime no senso penal”, mas de “falta de responsabilidade com a “Constituição”. Aquele blábláblá sem sentido.
— Ela manipulou o orçamento fiscal, finaliza Fernando Henrique.
— Mas você também…, retorque Hasan.
E então temos a primeira engasgada de FHC. Hasan retoma e lembra que o “impeachment está repleto de hipocrisia”. Cita as denúncias contra Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros. “Alguma dessas pessoas tem alguma credibilidade para impedir Dilma?”
— Eles têm outra razão, diferente da minha, para apoiar o impeachment, devolve FHC.
— Você não vê ironia no fato de eles lideraram o impeachment?
— O povo que liderou…
— Você apoia o impachment de Temer pelas mesmas razões? 68% querem Temer impedido, segundo uma pesquisa. Se você ouve o povo, tem de apoiar.
— Isso é uma informação errada. Não é de meu conhecimento.
— Sim, é do Datafolha, responde Hasan. Você apoia o impeachment de Temer?
Ao final do embromation de Fernando Henrique, Hasan tocou no assunto proibido.
— Houve algumas denúncias sérias de corrupção contra o senhor. Em fevereiro deste ano, o ministro da Justiça pediu abertura de inquérito sobre um pagamento mensal da Brasif para uma mulher que era sua amante.
— Em primeiro lugar, ela negou. Depois, a empresa negou.
Segundo o ex-presidente, era tudo uma bobagem desmentida por Mirian na televisão. O jornalista fez a pergunta óbvia.
— Por que estão investigando o caso, então?
O interlocutor faz uma revelação que merecia ser investigada.
— Sabe por quê? Porque pessoas muito próximas do PMDB colocaram isso na rede social. Eu gosto do ministro da Justiça de Dilma. Ele foi obrigado a abrir essa discussão. É uma tentativa de desmoralizar uma pessoa que tem uma vida correta. Vamos dar um passo adiante: essa senhora tem um filho. Ela diz que é meu. O DNA provou que não é. De qualquer jeito, eu gosto do cara. Eu banquei sua educação o tempo todo com meu dinheiro, usando o Banco Central. Eu mandei dinheiro para o cara.
— Por que mandou dinheiro para o cara se ele não é seu filho? Talvez por isso as pessoas ficaram desconfiadas…
— Eu tenho uma conexão com ele. Eu gosto dele.
Pobre Tomás, acionado pelo pai num aperto televisivo, usado como exemplo de como o velho é um sujeito bacana. Ele dá grana para “o cara”, embora “o cara” nem seja seu rebento.
E quem é esse pessoal ligado ao PMDB? Esperamos que a Polícia Federal apure.
A questão não é só o golpe. A questão são os advogados do golpe. Aqui, a palhaçada pode ser vendida como dentro da normalidade, algo resumido no mantra “as instituições funcionam”. Gente como Mehdi Hasan sente o cheiro de farsa no ar e não está disposta a fazer esse papel de trouxa.
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