Serra, o covarde
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Serra sempre foi um aventureiro em busca de poder. Como líder estudantil, atropelou a todo mundo para chegar ao cargo que mais podia ambicionar: a presidência da UNE. Atropelou ao Betinho, que seria o candidato natural da Ação Popular (AP) a esse cargo, para chegar lá.
Quando chegou à presidência da UNE, a AP já estava sob forte influência do PC do B, o que levou a uma forte radicalização da organização, ainda na sua fase maoísta. No último discurso do Jango na Central do Brasil, Serra fez o discurso mais radical, mais radical ainda do que o do Brizola.
Poucos dias depois chegou o golpe. Se poderia esperar que a UNE, sob a liderança do Serra, teria um papel de protagonismo ímpar na resistência à ditadura, de forma coerente com o anunciado pelo seu então presidente no comício.
Mas nada disso ocorreu. Serra abandonou a UNE e foi embora do Brasil na primeira leva de brasileiros que deixaram o país. A UNE ficou acéfala com a fuga covarde do Serra, enquanto a ditadura devastava a democracia no país, incluídas todas as universidades e entidades estudantis.
Serra foi para o Canadá, para passar da sua formação original de estudante de engenharia na Politécnica da USP, para a economia, enquanto os estudantes protagonizavam, heroicamente, a resistência à ditadura nas ruas de todo o Brasil. Seu ex-presidente, renunciado, que abandonou a UNE – no único caso na heroica história da instituição -, estava a salvo, longe do país, das suas lutas e da sua história.
Mais tarde Serra foi para o Chile, onde completou seus estudos de economia e, como costuma fazer sempre, mentiu dizendo que assessorava ao governo de Allende. Nao houve nada disso. O único brasileiro que assessorou de fato a Allende foi Darcy Ribeiro, a quem o presidente do Chile encarregou um plano de normalização das relações com a Bolívia, com a resolução do problema da saída ao mar para este país.
Com o fim da ditadura Serra voltou à política no Brasil, como secretário do Montoro, onde montou sua máquina eleitoral, que derrotou a toda a esquerda do PMDB, para surgir ele como deputado federal com grande votação.
Sua carreira, feita à sombra e com imenso complexo de inferioridade com FHC – que sempre o despreza – nunca pôde chegar ao que queria, a presidência do Brasil. The Economist, ironicamente, disse que ele era "o melhor presidente que o Brasil nunca iria ter".
Entre cargos e renúncias, na busca sempre de mais poder, Serra passou pela administração pública do Brasil sem pena nem glória. Acumulou sucessão de derrotas, de candidato a presidente a candidato a prefeito de São Paulo, até que o golpe lhe permitiu, depois de dar cotoveladas nos outros tucanos candidatos a ministros do golpe, chegar ao Itamaraty, embora sua ambição fosse de ministro da economia, de onde pretenderia ser o FHC do interino.
A mesma covardia do presidente que abandonou a UNE orienta a ação do chanceler interino. Agora a covardia se reflete na subserviência, antes de tudo aos EUA, à potência imperial, aquela para o qual seu antecessor tucano tirou os sapatos no aeroporto norte-americano, e o único presidente tucano que o paií teve, mostrou absoluta dependência.
Acreditando que o poder é uma coisa, é o uso da caneta, faz o que o Chico denunciava: "Fala fino com os EUA e grosso com a Bolívia". Busca desmontar a política externa que projetou o Brasil no mundo e o fez ser um país respeitado por todos, que fez do Lula "o cara" na política externa e o Celso Amorim ser considerado o melhor ministro de relações exteriores do mundo.
Serra quer um país do tamanho das suas ambições: pequenas, covardes, medíocres. Mais uma razão para que derrotemos logo, na votação do Senado, em agosto, a esse governo que, mesmo no interinato, trata de desmontar o que se conseguiu construir de democracia, de justiça social e de soberania nacional.
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