Sérgio Machado diz que pagou propina a dezoito políticos

Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF
.
Crédito Dorivan Marinho/SCO/STF
 
retrato m corrigido

Por Livia ScocugliaBrasília
O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou, em delação premiada, que no cargo de direção administrava com duas diretrizes: extrair o máximo possível de eficiência das empresas contratadas pela estatal, tanto em qualidade quanto em preço, e extrair o máximo possível de recursos ilícitos para repassar aos políticos que o garantiam no cargo.
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo da delação premiada de Machado nessa terça-feira (14/6).
Em delação, Machado afirmou ainda que, desde 1946, o sistema funciona com três instâncias:



1) políticos indicam pessoas para cargos em empresas estatais e órgãos públicos e querem o maior volume possível de recursos ilícitos, tanto para campanhas eleitorais quanto para outras finalidades;
2) empresas querem contratos e projetos e, neles, as maiores vantagens possíveis, inclusive por meio de aditivos contratuais;
3) gestores de empresas estatais têm duas necessidades, uma a de bem administrar a empresa e outra a de arrecadar propina para os políticos que os indicaram.
Pelo menos dezoito políticos de diferentes partidos, passando por PMDB, PT, PP, DEM, PSDB e PSB, teriam recebido propina por meio de Machado. Segundo a delação, o esquema funcionava assim: os políticos procuravam Machado pedindo doações e ele solicitava os repasses às empreiteiras que tinham contratos com a Transpetro.
“Embora a palavra propina não fosse dita, esses políticos sabiam, ao procurarem o depoente, não obteriam dele doação com recursos do próprio, enquanto pessoa física, nem da Transpetro, e sim de empresas que tinham relacionamento contratual com a Transpetro; QUE esses políticos procuravam o depoente porque ele era presidente da Transpetro e tinha como amealhar recursos”, segundo trecho da delação.
Ainda em delação, Machado afirmou que os políticos responsáveis por sua nomeação para a Transpetro foram Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, José Sarney e Edison Lobão e que esses políticos receberam propina repassada por Machado tanto por meio de doações oficiais quanto por meio de dinheiro em espécie.
Além deles, Machado também repassou recursos, via doação oficial, para: Cândido Vaccarezza (PT-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Luis Sérgio (PT-RJ), Edson Santos (PT-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Ideli Salvatti (PT-SC); Jorge Bittar (PT-RJ), Garibaldi Alves (PMDB-RN), Valter Alves (PMDB-RN), José Agripino Maia (DEM-RN), Felipe Maia (DEM-RN), Sergio Guerra (PSDB-PE), Heráclito Fortes (PSB-PI), Valdir Raupp (PMDB-RO).
“Esses políticos procuravam o depoente porque ele era presidente da Transpetro e tinha como amealhar recursos; QUE, quando chamava uma empresa para instrui-la a fazer doação oficial a um político, o depoente sabia que isso não era lícito e que a empresa fazia a doação em razão dos contratos que tinha com a Transpetro”, diz outro trecho da delação.
Machado afirmou que fazia reuniões individuais, mensais ou bimensais, com os políticos e os presidentes e com coladores das empresas pagadoras de propina para acertar o montante que e seria pago. As reuniões ocorriam na sede da Transpetro ou em se tratando de políticos, em Brasília.
Michel Temer
Machado afirmou, em delação, que o então vice-presidente da República Michel Temer pediu a ele que obtivesse doações oficiais para Gabriel Chalita, então candidato a prefeito de São Paulo.
Depois, em outra conversa, Temer teria ajustado com Machado que este solicitasse recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação oficial para a campanha de Chalita. O valor acertado ficou em R$ 1,5 milhão, doação feita pela empreiteira Queiroz Galvão.
Carreira
Sérgio Machado assumiu o cargo de presidente da Transpetro em junho de 2003 e permaneceu até novembro de 2014. Foi deputado federal de 1991 a 1994 e senador de 1995 a 2002. Começou os mandatos pelo PSDB e em 2001 passou para o PMDB. Foi líder do PSDB no Senado de 1995 a 2000.
Leia a íntegra dos documentos

Comentários