Sanders continua na luta contra o establishment

Sanders notou que conquistou os jovens na maior parte dos EUA: eles reconhecem que o sistema precisa mudar.


Kevin Gosztola, Common Dreams - na Carta Maior - 10/06/2016
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Essa luta continua”, declarou o candidato Democrata a presidência, Bernie Sanders, em um discurso que concluiu sua campanha nacional na Califórnia. Ele descreveu a luta como uma luta por justiça social, econômica, racial e ambiental.
 
Sanders também notou que conquistou os jovens na maior parte dos Estados Unidos. Os jovens reconhecem que precisam moldar o futuro, e eles compartilham a visão da campanha de Sanders por um governo que trabalhe pelos cidadãos das classes mais baixas ao invés de ceder aos interesses das corporações e dos ricos.

 
As primárias não foram tão bem quanto esperavam os apoiadores de Sanders. A campanha ganhou decididamente na Dakota do Norte. Conseguiu uma vitória em Montana, mas a campanha perdeu na Dakota do Sul e no Novo México. Foi destruída em Nova Jersey. Sanders não ganhou na Califórnia, e há ampla evidência de irregularidades em massa nos locais de votação, o que deveria preocupar os californianos.
 
É muito fácil para aqueles inspirados pela campanha de Sanders se sentirem desmoralizados e impressionados pelo cinismo. A Associated Press e a NBC News anunciaram inapropriadamente que Hillary Clinton tinha conquistado a nomeação na véspera de um grande dia de primárias. Alan Fram da AP Washington enviou um email indicado que o veículo estava “arredondando superdelegados”, que é uma linguagem de campanha que os estrategistas podem usar mas não um jornalista. Uma imagem compartilhada por Clinton no Twitter para marcar a matéria da AP de que ela havia conquistado a nomeação foi criada no sábado e classificada como “Ganhadora Secreta”.

 
Independentes – como são conhecidos os eleitores sem preferência de partido (Non Party Preference, NPP) na Califórnia – apoiaram Sanders por 30 a 40 pontos a mais que Clinton. No entanto, houve pouca informação divulgada pelo Estado ou pelo campanha de Sanders garantindo que eleitores NPP eram aptos a navegar pelo processo na Califórnia. De 40% dos eleitores online que queriam votar em um Democrata, somente 15% exigiu uma votação Democrata, de acordo com pesquisas de boca de urna do Politico Data.
 
O Los Angeles Times relatou que muitos eleitores californianos se depararam com “máquinas quebradas, locais de voto que abriram com atraso e registros eleitorais incompletos, particularmente em Los Angeles”. As pessoas que trabalhavam nos locais de votação distribuíram várias cédulas provisórias, que, normalmente, não são contadas. Esses eleitores, que sabiam que não deveriam aceitar cédulas provisórias e que deveriam exigir que seu voto fosse apurado, o fizeram e conseguiam as vezes.
 
Mais uma vez, em estados como Nova Iorque e Arizona, houve muitas reclamações de supressão de eleitores na Califórnia. Some isso à mídia ajudando a campanha de Clinton a alcançar o “número mágico” de superdelegados para conseguir a nomeação, e não é surpresa que a maioria dos apoiadores de Sanders esteja indignada.
 
A resposta de analistas e políticos do establishment, especialmente aqueles dentro do Partido Democrata, não é investigar, verificar ou confirmar as reclamações de irregularidades. Ao invés, os apoiadores de Sanders são patologizados como teóricos da conspiração que choram toda vez que Clinton ganha um estado. Analistas e políticos se sentem ofendidos quando apoiadores indicam que nunca irão se unir com os Democratas e votar em Clinton.
 
Ainda assim, à face de uma mídia do establishment e o establishment político Democrata furioso com Sanders por se recusar a desistir, Sanders ganhou mais de 20 estados. Ele irá à Convenção Nacional Democrata na Filadélfia com mais ou menos 45% dos delegados compromissados, o que é incrivelmente impressionante para um político que se descreve como um socialista democrático. Sua campanha terá muito poder para frustrar e entravar políticos de corporações na celebração de quatro dias da elite Democrata patrocinada pelas corporações
 
Uma campanha que já ficou entre os dígitos mais baixos cresceu nacionalmente como uma força poderosa que tinha o potencial de derrotar uma das mais poderosas famílias políticas nos Estados Unidos. Convenceu pessoas que as políticas sociais democratas – algumas das quais são radicais no sistema político dos EUA – poderiam vencer.
 
Protestos dos apoiadores de Sanders contra o sistema de superdelegados do Partido Democrata direcionou a atenção ao modo que pessoas de dentro do partido podem sufocar uma campanha popular. Eles tornaram excepcionalmente difícil defender esse aspecto anti democrático da primária presidencial Democrata.



A capital Washington premiará 20 delegados compromissados no dia 14 de junho e é a última primária. Ele planeja lutar por todos os votos que conseguir da Capital.
 
Os pedidos para que Sanders pare sua campanha têm sido contínuos na mídia nos últimos meses, mesmo faltando 20 primárias no calendário. Então, os apoiadores não deveriam levar os pedidos de hoje a sério.
 
Analistas do establishment somente veêm a corrida em termos de vitória e derrota. A noção de que Sanders continuaria sua campanha, mesmo se não puder ganhar, porque dá espaço a movimentos por justiça social no país, é desconcertante para eles. É o tipo de coisa que faz com que os analistas do espectro político fiquem com rosto vermelho enquanto escrevem no twitter,
 
Ainda assim, como coloca Sanders, “esse movimento é sobre milhões de pessoas de costa a costa olhando ao seu redor e sabendo que podemos fazer mais e muito melhor por essa nação”. E, “quer Wall Street, a América corporativa, os financiadores ricos de campanha gostem, a mídia corporativa gostem ou não”, o dever dos cidadãos é “criar um governo que trabalhe para nós, não para o 1%”.
 
Para alcançar esse objetivo, para realizar uma visão maior de justça social, econômica, racial e ambiental, os milhões que apóiam a campanha de Sanders devem estar dispostos a travar uma longa e árdua batalha que será mais cansativa do que o processo de primárias. Eles devem ser desafiantes corajosos porque têm princípios e valores que não podem ser abandonados.
 
A vilificação que os apoiadores de Sanders têm experienciado do establishment será ainda mais intensa nos halls do poder fora do processo eleitoral. Não obstante, todos os cidadãos que fazem parte da revolução política devem continuar a caminhada sem perder a linha do horizonte. Esse levante massivo deve permanecer como uma força que as campanhas de Clinton e Trump devem levar em consideração pelos próximos cinco meses.
 
Se alguém acredita no comprometimento com a justiça social, econômica, racial e ambiental da campanha de Sanders, da mesma maneira deve ter fim essa política de dois partidos somente. Isso exige uma democratização das eleições. Tornar viável para outros partidos que não o Democrata e Republicano participarem do debate e tornar mais fácil para candidatos de outros partidos terem acesso à votação para que possam competir. Deve-se quebrar o ciclo e abdicar o apoio para o Partido Democrata, que vê qualquer esforço em transformar o partido em um partido populista como uma doença que não deve ser disseminada.








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