PML: 4 sugestões para reavivar a memória de Valério

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por Paulo Moreira Leite - 23/06/2016

Num esforço para reduzir sua pena de 37 anos recebida em 2012, no julgamento da AP 470, mais conhecida como Mensalão, o tesoureiro Marcos Valério decidiu seguir o exemplo da Lava Jato e entrar firme nas delações premiadas.

A novidade é que o alvo de sua denúncia não será o Partido dos Trabalhadores nem seus aliados, mas estrelas do Mensalão PSDB-MG, em marcha sossegada para a impunidade. Num esforço para reavivar a memória de Valério, basta fazer uma visita rápida aos arquivos dos mensalões, que até hoje permanecem em silêncio obsequioso sempre que se trata de levantar fatos contra o PSDB e seus aliados. Confirma-se, ali, uma das agências de Valério, a DNA, já assinava contrato com o Banco do Brasil em 1994, quando Fernando Henrique era Ministro da Fazenda, mas não fora eleito presidente da República. Outra agência, a SMP&B assinou contrato com o Ministério do Trabalho em  1996 e, no ano seguinte, com a Telesp, controlada pela Telebrás.

Sem a intenção de pré-julgar ninguém, até porque todos têm direito a serem tratados como inocentes até prova em contrário, aqui vão algumas perguntas que pedem esclarecimentos que só Marcos Valério poderia prestar:

1. Ex-ministro da Previdência Social no governo Fernando Henrique Cardoso, o deputado Roberto Brant (PFL-MF) recebeu, por intermédio de um assessor parlamentar, um cheque no valor de R$ 103 000,00 de empresa vinculada a Marcos Valério, conforme evidencias reunidas no inquérito 2245-STF. Pergunta: essa ação fazia parte do "valerioduto petista"? Caso contrário, por que Brant recebeu o dinheiro?

2. Na acusação do Procurador Geral da República contra a gestão de João Paulo Cunha (PT-SP) na presidência da Câmara de Deputados, apareceu uma novidade singular. A mesma denuncia contra Cunha -- afinal condenado a 9 anos e quatro meses de prisão,  mais multa de R$ 370 000 -- pode-se ler a nota de rodapé número 90, na folha 54, que aponta para a gestão anterior, de Aécio Neves (PSDB-MG). Ficou assinalado que, em sua defesa, Valério disse à Polícia que a agência de publicidade SMP&B fora contratada nos "moldes do contrato adjuciado à Agência Denison, quando Aécio Neves foi escolhido para presidir a Câmara." Na denúncia, admite-se a semelhança. Num trecho se diz que "os documentos sinalizam que esse mesmo estratagema (peculato) tenha ocorrido com o contrato de publicidade anterior da Câmara."A convicção é tamanha que se registra  um compromisso: "o fato (o contrato com a Denison) será devidamente investigado na segunda etapa do inquérito que tramita perante o Supremo." Pergunta: Valério saberia por que o contrato que envolvia Aécio não foi investigado?

3. Conforme o item 6.4.16.3 do relatório de Auditoria Interna do Banco do Brasil, apontado como o cofre principal das denúncias da AP 470, fica claro que já no governo FHC as agências de Valério, bem implantadas na instituição, tiveram direito a generosas antecipações que mais tarde foram usadas para acusar o governo do PT.  A auditoria registra um rombo de R$ 48.328 milhões em antecipações apenas no período 2001 e 2002. Também lamenta que, depois de registrar sucessivas tentativas de localizar "notas fiscais, faturas ou recibos de fornecedores/prestadores de serviços que teriam sido contratados pelas agências," os auditores jamais encontraram  qualquer comunicado formal a respeito. Valério teria uma idéia de quem recebeu tanto dinheiro?

4. De acordo com o inquérito 2474, Pimenta da Veiga, ex-ministro das Comunicações de FHC, recebeu R$ 300 000 em 2003 -- meses depois da posse do governo Lula -- em suas contas. Ouvido no inquérito, Pimenta da Veiga alegou que essa quantia se referia a honorários por serviços advocatícios não litigiosos sobre assuntos definidos pelo cliente, tendo emitido apenas pareceres verbais sobre contratos analisados." Em busca de redução de pena, o homem-símbolo do Valerioduto confirma essa versão?

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LANÇAMENTO!

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