O que levou à “curitibanização” de Janot?

patax
Não pense o leitor que, por esquerdista e alérgico ao PMDB desde o final dos anos 70, quando a abertura política começou a permitir que se pudesse fazer oposição ao regime militar, este blogueiro se compraz com o festival de imundícies que vem à tona.
Ou melhor, com a revelação dos detalhes sórdidos que eram e são sabidos de quem vive a política real, onde o compromisso com os sonhos de uma vida inteira não se desgrudam daquilo que, a cada momento, é possível fazer.
Por isso, não posso deixar de dizer que não me empolga esta “fulano também roubou; beltrano levou tanto; sicrano está na lista”.

Não me empolga porque sei que se trata de um imenso circo de hipocrisia, da mídia e da Justiça, porque é mais velha que a Sé de Braga a deformação de termos uma política que, durante décadas, “legalizou” o dinheiro das empresas na disputa eleitoral, o que – somado à votação individual e não em listas partidárias – cria dificuldades quase intransponíveis para que gente simples se candidate com chances e igual para quem exerça o mandato sem negócios que lhe garantam financiamentos futuros.
Mas, ao contrário, preocupa-me o nível de selvageria que se atingiu no uso da Justiça como ferramenta da disputa política.
Coisas que todos sabem, de repente, são expostas como grandes novidades.
Janio de Freitas, na Folha, comenta o que todo mundo que vive política sabe:
Um problema nas delações e “vazamentos” da Lava Jato decorre de uma obviedade para quem, algum dia, quis saber como são operadas as campanhas eleitorais. Sua movimentação financeira é intensa e, para certos cargos, é alta. Apesar dos registros contábeis imediatos, no final é que será ajustada e montada a contabilidade para a Justiça Eleitoral. Com isso, os empreiteiros sabem o que deram, mas em geral não têm certeza do que foi ou não legalizado pelo candidato ou o partido nas prestações finais de contas. O que não está na de um, pode estar na do outro. Ou, devendo estar em alguma, não aparece: caixa dois, ilegal.
Curioso é que mídia e Justiça jamais mostraram qualquer empenho extraordinário em retorar as empresas do processo eleitoral e, mesmo agora que o STF o proibiu, alguns ministros, como o mutante Luís Roberto Barroso já falam em reintroduzir o financiamento privado, desde que haja uma lei a regulá-lo.
Está claro, para quem quiser ver, que o Dr. Rodrigo Janot, passou demonstrar o mesmo comportamento dos rapazes da Força Tarefa de Curitiba, embora tenha encontrado em Teori Zavascki uma resistência que em nada lembra o “prenda e faz falar” de Sérgio Moro.
Como fizeram com o PT e Lula, sem que lhes colocassem freios, agora a máquina sádica também funciona para quem a açulava, lembrando os versos de Geraldo Vandré sobre “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Este processo, estes métodos nunca trouxeram ou trarão avanços.
Muito pelo contrário, transforma parlamento,  tribunais e MP em ferramentas de vingança, como no caso da remessa dos autos do processo de Lula a Curitiba, onde uma matilha salta indócil para ter o “privilégio” de prendê-lo ou, ao inverso, um pedido de impeachment de janto feito pelos desqualificados “Revoltados Online” em matéria digna de consideração do Senado.
O que mais me preocupa em tudo isso é que a criminalização da política, reduzida a um valhacouto de marginais, a uma reunião de sórdidos e venais abre, por sucessão lógica, caminho para “salvacionismo”, o governo dos puros e incorruptíves, o autoritarismo. Numa palavra, para a ditadura.
Há pouco mais de 50 anos, os puros vestiam verde.
Agora, vestem o preto das togas.
Basta olhar a história para ver que não se restaurou a moralidade, mas locupletaram-se muitos.

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