Mauricio Dias: Militares no palco?

Opinião

A conversa de Sérgio Machado com Romero Jucá justifica a pergunta. E outra: até onde vai a aprovação de Michel Temer?
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 10/06/2016 

Definição da Comissão da Verdade pelo general Etchegoyen, chamado a monitorar as atividades petistas pelo
 presidente interino: "Patética e leviana"
Nuvens sinistras flutuam sob os céus do Brasil, neste momento em que a “oposição & associados” afastou do governo a presidenta Dilma Rousseff, por meio do golpe. Em caso de dúvida, olhe para cima mesmo com a visão enevoada. O cenário, em muitos casos, pode ser percebido a olho nu. 

É visível e preocupante o movimento das nuvens provocado pela forma de aproximação do presidente interino, Michel Temer, com as Forças Armadas. 
Temer deslocou-se da teoria em direção à prática com certa rapidez. Determinou ao general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o monitoramento dos movimentos do PT. Etchegoyen foi o primeiro oficial da ativa a reagir à divulgação do relatório da Comissão da Verdade: “Patética e leviana”.  Seria o caso de pensar em revanchismo?
Etchegoyen cuida do Plano de Defesa Nacional e tem a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob seu comando. A ordem que recebeu tem um objetivo claro. Basta prestar atenção ao rigor do discurso do general: “Não regulamos ainda o crime de terrorismo no País para não atingir os movimentos sociais. É preciso cuidar da preservação da coesão social e olhar aqueles que saem da legitimidade”.
Vão nessa direção as conversas mantidas por Romero Jucá, o breve ministro provisório do provisório governo. Em uma das gravações de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, delator da Lava Jato, há um trecho para o qual se deu pouca atenção.
Jucá confidencia, sem saber que estava sendo “grampeado”: “Estou falando com generais (...) comandantes militares”. Certamente, estava autorizado pelo presidente interino. Conversavam sobre o quê? Por quê? Para que chamar os generais para o palco? Jucá mentiu ou falou a verdade?
 Estas conversas soam a conspiração. Suspeitíssimas aos olhos do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele lembra que não consta, entre as atribuições das Forças Armadas, a intromissão em assuntos que “dizem respeito à vida política brasileira”. “Queremos saber ainda com quais comandantes militares Jucá dialogou sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff”, pergunta Randolfe. 
Quando se fala em movimentos sociais, fala-se necessariamente dos protestos e reivindicações dos grupos de esquerda que na última década atuaram, em regra, dentro dos limites democráticos. Mesmo assim levaram algumas cacetadas. 
O foco recai sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O MST não tem somente quase 50 anos, considerando a resistência à reforma agrária durante a ditadura. Representa de fato centenas de anos nas lutas sociais contra o latifúndio. Uma das mazelas não resolvidas após a libertação dos escravos.
A história costuma ironizar certos personagens. Os mais grotescos.  Há 20 anos, aproximadamente, o atual ministro da Defesa, Raul Jungmann, era ministro Extraordinário do Desenvolvimento Agrário de Política Fundiária. Em conversa com este repórter, então no Jornal do Brasil, alertava: “Vou isolar o MST”.
A luta dos sem-terra continua. Jungmann, desaparecido, reaparece. Na sua primeira entrevista, atirou a carta: “Parte do Congresso é de réus. O Congresso chegou ao fundo do poço”. 
A desmoralização do Parlamento pelo ministro da Defesa não tem sintonia fina com Michel Temer?
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Mauricio DiasJornalista, editor especial e colunista de CartaCapital.mauriciodias@cartacapital.com.br

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