O governo Temer completa um mês deixando claro quem manda: a Globo.

Postado em 11 Jun 2016
João Roberto Marinho, Michel Temer e um popular
João Roberto Marinho, Michel Temer e um popular

Quem contou a história foi o senador Roberto Requião.
Durante o primeiro mandato de Lula, Requião, então governador, falava com o presidente sobre o que havia feito na comunicação do Paraná, investindo na TV educativa.
Lula recomendou-lhe a José Dirceu. A certa altura, quando repetia a conversa a Dirceu, o ministro da Casa Civil o interrompeu: “Mas nós já temos uma televisão: a Globo”.
Esse é provavelmente um dos maiores erros de cálculo político recentes. A falta de noção, um certo republicanismo, mais a covardia, fizeram com que os governos petistas desovassem 6,2 bilhões de reais de publicidade na emissora. Fora o que não sabemos. Deu no que deu.

Essa conta vai aumentar na gestão Temer. Com um mês de vida, já se nota um upgrade na relação entre a Globo e o governo de plantão: ela não é apenas a emissora oficial, mas a dona inconteste da lojinha. Big Brother saiu de vez do armário.
O último episódio é a “notícia” de que Temer quer acabar com a EBC. Quem deu o furo foi o porta voz informal da atual vilegiatura, o repórter do Globo Jorge Bastos Moreno (o mesmo para quem Temer vazou sua carta).
Segundo Moreno, Temer encomendou um estudo sobre o encerramento das atividades. A gota d’água foi a entrevista de Dilma com Luís Nassif, autorizada por Ricardo Mello, reconduzido à presidência por Toffoli, do STF.
Antes disso, um editorial do Globo detonava o “caso exemplar de aparelhamento” da EBC. Ato contínuo, o ministro Geddel Vieira Lima, um troglodita semi-analfabeto que se dedica a xingar a mãe de incautos no Twitter, escreveu na rede social: “Acabar com a EBC, (sic) é estabelecer um diferencial (sic) Somo (sic) contra o aparelhamento,o uso do Estado para auto promoção”.
(Contra TV Cultura de São Paulo, claro, nunca houve uma palavra).
Dois ministros caíram após editoriais com ordens expressas. Primeiro foi Romero Jucá. Depois, Fabiano Silveira, da Transparência, flagrado numa reunião com Renan Calheiros e Sergio Machado criticando a Lava Jato e orientando os advogados de ambos.
“O presidente interino, Michel Temer, precisa aplicar a mesma regra que valeu para Romero Jucá”, dizia o texto do Globo sobre Silveira. Pronto.
Os jornalistas da casa se dedicam a defender o indefensável, com vexames inéditos no jornalismo mundial. Num inglês eventualmente claudicante, paus mandados compraram briga com correspondentes internacionais.
O destaque da turma, até agora, é Guilherme Fiúza, autor de uma excrescência acusando o New York Times de ser vendido para o PT.
No início deste mês, Temer anunciou, num pronunciamento no Planalto, que a Aeronáutica passaria a ter permanentemente à disposição um jato da FAB para o transporte de órgãos e tecidos para transplantes.
Também estava cumprindo o que lhe mandaram. Citou uma reportagem do Globo sobre esse drama que aflige equipes médicas pelo Brasil. Sua primeira entrevista no cargo que usurpou, uma palhaçada pseudo espontânea em que mentiu sobre o trabalho de sua mulher como advogada, foi ao Fantástico.
O que a Globo não contava é que Michel — Michel — fosse tão fraco e incompetente. Os outros tinham, em maior ou menor grau, alguma dignidade. Michel — Michel — montou uma equipe de gângsteres, o mercado não reage, a luta pela narrativa do impeachment no exterior foi perdida e ele, em si, é uma figura constrangedora.
O primeiro mês da temporada golpista é um vale de lágrimas tragicômico. Mas deixou mais evidente do que nunca quem é que dá as cartas, de fato, no poder. E não é o anão sem pescoço dado a abusar de mesóclises. Esse continua decorativo.

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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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