Frente Brasil Popular reafirma unidade e diz que prisão de ex-ministro é parte do golpe
DEMOCRACIA
"Sempre que há condições de nós avançarmos na defesa do mandato de Dilma, eles iniciam uma operação", diz Roberto Amaral. Para Raimundo Bonfim, "tinham que prender para dar manchete na televisão"
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 24/06/2016 10:15, última modificação 24/06/2016 12:59
ROVENA ROSA/FOTOS PÚBLICAS
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São Paulo – Para Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, e Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP), ambos coordenadores da Frente Brasil Popular, os movimentos sociais, partidos progressistas, centrais sindicais e a esquerda brasileira de modo geral mantêm a unidade em torno da "questão política crucial" do país hoje: a defesa do mandato de Dilma Rousseff.
"Independentemente do papel da Frente Brasil Popular, não me recordo de outro momento de tanta unidade das forças de esquerda no Brasil e das forças populares. Os principais partidos estão unificados na luta. A presença da CUT e da CTB na frente e em todos os entendimentos, e das outras frentes, como a Frente Povo sem Medo, mostram que estamos conseguindo importante grau de unidade e integração. Estamos trabalhando nessas ao lado do MST, do PT, do PCdoB, do PDT, dos movimentos sociais. O que se quer mais?", questiona Amaral.
Em artigo publicado ontem (23), o sociólogo Emir Sader afirmou que "as forças golpistas retomaram iniciativa em todos os planos, contra-atacam". Acrescentou que os "golpistas contam com a falta de iniciativa política unificada das forças democráticas". Um dos sinais do contra ataque seria a operação que ontem (23) prendeu Paulo Bernardo, ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (Planejamento) e de Dilma (Comunicações).
"Não concordo absolutamente", diz Amaral. "A ação (da Lava Jato) é uma peça usual, comum, repetida, do processo de golpe. Sempre que há condições de nós avançarmos na defesa do mandato de Dilma, eles iniciam uma operação", diz. "Esperaram que o Senado se reunisse e votasse a admissibilidade para revelar a delação do Sérgio Machado. Agora é o ex-ministro de Dilma e marido de uma senadora (Gleisi Hoffmann) e ex-chefe da Casa Civil. Como isso é contragolpe? Isso é o golpe. Está dentro do golpe."
Na mesma linha, Raimundo afirma que a prisão de Bernardo é "a continuidade do projeto e da estratégia de atacar a esquerda, e para isso precisam atacar o governo liderado pela presidenta Dilma, pelo PT, o principal partido de esquerda". "Não tem nada de ‘desunidade’", afirmou. "Tinham que prender para dar manchete na televisão. Lamentamos mais uma investigação seletiva da operação Lava Jato, enquanto o núcleo mais importante do PMDB foi flagrado numa operação de obstrução da Lava Jato, enquanto as pessoas que poderiam depor normalmente são coagidas e presas de forma ilegal."
Amaral reafirma, como em outras ocasiões, que a questão fundamental e "o objetivo concreto, inafastável, que determina todas as nossas ações, é impedir a consumação do golpe." Segundo Bonfim, o fato de não haver consenso em torno da antecipação de eleição presidencial não significa falta de unidade. Para ele e Amaral, a aceitação de novas eleições seria legitimar o impeachment e a preservação da democracia está diretamente relacionada à manutenção do mandato de Dilma.
"O fundamental é concentrar nossas atenções e nosso esforço na reversão do julgamento do Senado", diz Amaral. Bonfim acrescenta que a tese de novas eleições pode, inclusive, não ter viabilidade jurídica ou política. "O que precisamos é aumentar o desgaste do governo Temer, pressionar os senadores e a presidenta Dilma voltar."
A Frente Brasil Popular, segundo ele, está na expectativa de uma carta-compromisso de Dilma aos trabalhadores, movimentos sociais e o povo sobre qual será a tônica do seu governo, caso recupere o mandato. No momento, não há nova data de reunião com Dilma, após a suspensão do encontro de terça-feira (21).
Segundo Bonfim, a frente deliberou que a partir de agora, em vez de grandes dias nacionais de mobilização, vai potencializar ações menores espalhadas pelos municípios e nas regiões, de forma descentralizada. A próxima grande manifestação política de massa, diz, acontecerá em 5 de agosto, na abertura dos Jogos Olímpicos. "Faremos um grande ato e passeata no Rio de Janeiro para denunciar o golpe em âmbito internacional."
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