Colunista desmente Aécio sobre disputa que teria envolvido propina em 1998

Jornal GGN - Desaparecido do cenário nacional, Aécio Neves (PSDB) foi desmentido, nesta terça (21), por um colunista de O Globo sobre parte da delação premiada de Sergio Machado, que teria afirmado à Lava Jato que o senador recebeu propina de R$ 1 milhão durante a gestão FHC, após participar de um plano para eleger a maior bancada governista na Câmara e, consequentemente, viabilizar sua candidatura ao comando da Casa.
Segundo Machado, a cúpula tucana, em meados de 1998, decidiu deflagrar uma operação para arrecadar propina com empresas, a fim de distribuir dinheiro a cerca de 50 candidatos a deputado federal. A ideia era eleger uma grande bancada para duelar com o PMDB pelo comando da Câmara.

Em reação às informações cedidas por Machado, Aécio afirmou à imprensa que não recebeu a propina e usou como argumento o "fato político" de que, em 1998, não havia sequer especulações sobre sua pretensão de concorrer à presidência da Câmara.
Guilherme Amado, em artigo publicado no blog do Lauro Jardim em O Globo, resgatou arquivos do jornal que mostram que Aécio e o PSDB não só já especulavam a candidatura como buscaram apoio do PT e geraram um racha com o PMDB de Michel Temer, que comandava a Casa à época. Em entrevista ao jornal, Machado, então líder do PSDB no Senado, disse que seu partido tinha o "direito de exigir" o cargo.
Por Guilherme Amado
Em O Globo
Reportagens de 1998 sobre o noticiário político podem não ser muito úteis para a defesa de Aécio Neves contra as acusações que Sérgio Machado fez a ele na delação premiada.
Machado afirmou que houve um esquema de financiamento de candidatos tucanos naquele ano para o PSDB eleger uma bancada gorda e engrossar as chances de Aécio concorrer à presidência da Câmara em 2001.
O principal argumento usado por Aécio para rebater o delator foi afirmar:
— Qualquer pessoa que acompanha a cena política brasileira sabe que, em 1998, sequer se cogitava a minha candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, o que só ocorreu muito depois.
Reportagens de 1998 do GLOBO, no entanto, mostram que Aécio se colocava já naquele ano como candidato à presidência da Câmara — com o apoio de Sérgio Machado inclusive —, o que chegou a ameaçar o pacto entre PFL e PMDB para a reeleição de Michel Temer, na presidência da Câmara, e de Antonio Carlos Magalhães, na presidência do Senado. Os dois acabariam reeleitos, com o apoio do PSDB.
Em 15 de outubro, disse Aécio ao GLOBO, insurgindo-se contra o acordo de Temer e ACM:
— O PSDB tem o dever de participar dessa discussão. Queremos um projeto para a Câmara. Somos o segundo maior partido da Casa e não há o menor sentido em aceitar um acordo feito antes desta eleição. Além disso, não vejo essa vinculação entre a presidência da Câmara e do Senado.
Poucos dias antes, no dia 9, Aécio recomendava "humildade" a Jáder Barbalho, então presidente do PMDB, que defendia a reeleição de Temer:
— O presidente de um partido que chega com uma bancada federal tão distante de suas projeções iniciais e tão abaixo da bancada do PSDB tem que ter um pouco mais de humildade para discutir o assunto. Não há hipótese de um acordo que exclua o PSDB.
Na mesma reportagem, logo depois, o próprio Sérgio Machado, então líder do PSDB no Senado, defende o plano:
— O jogo mudou. Mudou a correlação de forças. Temos o direito de exigir a presidência da Câmara.
Até Michel Temer, em entrevista a Jorge Bastos Moreno, publicada em 18 de outubro, comentou o assunto. Perguntou Moreno:
— Então o senhor acha precipitada a manifestação do líder Aécio Neves pleiteando para ele e para o PSDB a presidência da Câmara?
Respondeu Temer:
— Cada um tem seu estilo. Para o meu gosto, entendo que este não é o momento de se tratar desse assunto.
Ouvido pela coluna, Aécio afirma, novamente, que Sérgio Machado mente e que "isso ficará provado". Diz Aécio:
— Especulações sobre candidaturas são absolutamente normais e fazem parte da política, são lícitas e não se confundem com as acusações feitas por ele. O senhor Sérgio Machado nunca exerceu, nos governos do PSDB, qualquer cargo que lhe permitisse oferecer qualquer tipo de vantagem a quem quer que fosse. Minha eleição para a presidência da Câmara em 2001 se deu graças a uma grande articulação política, conhecida por todos, que uniu PSDB e PMDB.
Evidentemente, nada disso prova a afirmação de Machado, de que arrecadou ilicitamente recursos para eleger 50 deputados tucanos.
Machado tem agora que dar os nomes aos bois, ou mais precisamente o nome dos 50 deputados. Em sua delação, não deu um nome sequer.

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