Carta aberta a Janaína Paschoal. Por Paulo Nogueira

Postado em 08 Jun 2016
Janaína em seu momento supremo no golpe
Janaína em seu momento supremo no golpe
Cara Janaína:
Leio que você se sente esquecida pelos homens a quem ajudou no golpe com seu parecer a favor do impeachment.
Você foi usada. Você foi comprada. Por 45 mil reais o PSDB obteve de você uma peça que suprimiu 54 milhões de votos e interrompeu uma democracia tão jovem..
Saiu barato para os liderados pelo Decano do Golpe, FHC, e seu Robin, Aécio. Cada real empregado neste projeto matou quase mil votos.
E esqueceram você.

Não se desespere, porém. Você será eternamente lembrada por brasileiros numa quantidade infinitamente maior do que a soma de todos os golpistas.
Pertence já à história o espetáculo em que você, como que possuída, girava a cabeça para lá e para cá. Prometia matar a cobra, se me lembro.
Só não foi o espetáculo mais patético do golpe porque, não muito tempo depois, deputados corruptos agarrados a bandeiras disseram sim ao golpe em nome da família quadrangular, dos maços, dos filhos e netos.
Também, lembremos, em nome de pais e maridos. O marido homenageado foi preso por corrupção no dia seguinte. O pai louvado teve o mesmo destino algumas semanas depois.
Não fossem os deputados, sua performance em que você abateu um réptil, previsivalmente viralizada nas redes sociais, seria o retrato perfeito do golpe.
Você será lembrada para sempre não como uma jurista, mas, e temos aí ao menos uma rima, como uma golpista que se comportou como uma fâmula da plutocracia.
Você excluiu do grupo que a largou o senador Aloysio Nunes. Cuidado, Janaína. Um internauta notou, depois de saber disso, que a companhia do senador Aloysio é a pior forma de solidão que um ser humano pode enfrentar.
Mulheres usadas e abandonadas costumam comover. A literatura está cheia de casos assim. Ana Karenina ainda hoje nos comove. Ema Bovary também. Gostaríamos de abraçá-las e confortá-las em face de um universo masculino tão canalha.
Mas você é um caso especial. Seu infortúnio não emociona. Não provoca lágrimas de solidariedade. Gera, antes, um tipo de satisfação como se, afinal, alguma justiça foi feita. Em vez de choro, risadas, ou mesmo gasgalhadas.
Montaigne escreveu que a maldade traz seu próprio castigo. Penso nesta frase e acho que ela se aplica perfeitamente a você.
Não a esqueceremos.
Sinceramente.
Paulo
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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