Auler é “o cara errado” para intimidarem. Veja o editorial da Folha.

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Modestamente, este blog avisou, desde o início, que era um tiro no pé tentarem intimidar o repórter Marcelo Auler.
Que era “o cara errado” para achar que iam botar pra correr no grito.
E que 40 anos de jornalismo investigativo tinham seu peso.
Hoje, a Folha publica um editorial condenando a censura e – mais – a censura prévia ao Blog do Auler.
Auler, como este outro modesto blog que é seu parceiro pra o que der e vier, não recebe ou recebeu um tostão do governo. Nem tem negócios onde quer que seja. Vivemos do que os leitores podem nos dar, teimosamente.

Se acham que quem não beatifica a a Polícia, o MP e o Judiciário é cúmplice de malfeitos, vão quebrar a cara.
Sou testemunha pessoal do esforço pessoal do Marcelo em sair a apurar informações sem patrocínio, sem recursos, sem “carteiradas” que a grande mídia pode dar para obter informações ou declarações.
Como sou testemunha de que ele nunca faz nada sem responsabilidade e não publica boatos infundados.
Muitas e muitas vezes conversamos pessoalmente e ele me revela coisas que não publica e eu, óbvio, muito menos divulgo.
Não fazemos jornalismo com rumores.
Mas o Auler faz jornalismo e não vai ser cara feia que o impedirá de fazer.

Operação Censura

Editorial da Folha
Não é estranho à condição humana que os aplausos recebidos diminuam a capacidade de autocrítica –e que, em seguida, decresça também a tolerância aos reparos que se possam receber de terceiros.
Acrescentem-se a isso as possíveis deformações advindas de uma posição de poder, sobretudo quando os ocupantes de tal posto supõem representar a salvação da pátria ou a derradeira reserva de moralidade institucional de um país.
O resultado não costuma ser outro que a tomada de iniciativas em favor da censura, repetindo o conhecido equívoco de considerar que a única liberdade de expressão válida seria aquela que reafirma nossas próprias convicções.
Vários personagens e instituições protagonizaram esse deprimente enredo ao longo da experiência política brasileira.
Chega a vez de alguns representantes da Polícia Federal vinculados ao sucesso técnico e popular da Operação Lava Jato: dois delegados da chamada “República de Curitiba” moveram ação judicial contra o jornalista Marcelo Auler, que os criticara em seu blog.
É direito de qualquer cidadão recorrer aos tribunais caso se sinta injuriado, caluniado ou difamado. Reparações, acordos e erratas são negociáveis; há, em último caso, as medidas previstas em lei.
A Justiça, porém, jamais deveria ordenar a retirada de circulação de textos opinativos, ainda mais quando versam sobre o comportamento de autoridades públicas.
Perverte-se a ideia de que o cidadão deva ser protegido dos abusos do poder (incluindo-se aqui o poder da imprensa) para fazer de um órgão judicial um mecanismo de auxílio aos poderes que porventura abusem do cidadão.
Tudo se torna mais escandaloso, no caso Auler, quando o Judiciário determina, ademais, que o jornalista se abstenha de publicar textos “com conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo” a um dos delegados da Lava Jato.
Não apenas censura, portanto, mas também censura prévia.
É espantoso que, depois de quase 30 anos de vigência de um regime constitucional democrático, magistrados ainda lidem mal com um princípio tão claro e inegociável nas sociedades civilizadas.
Nesse episódio específico, a disposição autoritária sem dúvida se camufla em meio ao ânimo messiânico e justiceiro que se cria em torno das necessárias —e sempre louvadas— ações contra a corrupção.
Nada seria melhor para as autoridades da Lava Jato, todavia, do que se mostrar imune a críticas —e não procurar silenciá-las, como se delas tivessem efetivo receio.

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