A sangria não estancou. Não sobrará pedra sobre pedra. Por Jari da Rocha
Não era difícil prever que Temer seria a personagem caricata de trapalhadas, bizarrices e fiasco geral da nação.
Paulo Coelho previu que o monstro do golpe se autodevoraria, mas só essa profecia não o faria “mago”, não é verdade? A imprensa do mundo todo noticiou que uma gangue de bandidos tinha tirado uma presidenta honesta e ocupado o governo do Brasil.
Na internet, milhares escreveram que seria um desastre um governo ilegítimo de homens brancos, velhos, ricos e corruptos, em total dissintonia com o Brasil moderno. Hoje, todo mundo consegue ver o que só a “apequenada grande imprensa” tinha escondido. Agora, nem ela, a consegue esconder a lama escorre do governo Temer..
Mas devagar, devagarinho, sem comparação com o massacre que faziam quando era Dilma a Presidenta, onde nem os que a apoiavam conseguiam resistir à onda de denúncias e pessimismo.
Aquela votação de 17 de abril , embora tenha exposto o nível da trupe golpista conseguiu emplacar o Michel das profundezas.
Havia uma pressa exagerada e a gente nem entendia bem por que.
Chegaram assinando decretos, derrubando ministérios e secretarias como se não houvesse amanhã. Sentaram nas cadeiras como se donos fossem.
E misturando sede de poder, mesquinharia, mediocridade e ganância, esqueceram que a ribalta lhes exporia, também, o comprometimento com a história da suja política brasileira da qual sempre foram beneficiários. Temer não poderia estar em melhor lugar. Ele representa, com sua cara de pavão mesoclítico assustado, a canalha toda que se debate, agarrando-se uns aos outros para tentarem se salvar.
O “governo de salvação nacional” vai se tornando o governo do salve-se quem puder, por quanto tempo puder.
As máscaras da farsa vão caindo enfileiradas, como bem escreveu Glenn Greenwald, em seu artigo: “Enquanto a corrupção assombra Temer, caem as máscaras dos movimentos pró impeachment.”
Da mesma forma, em pouco mais de mês, os ministros interinos foram caindo, um a um, das cadeiras. Outros, que ainda não caíram, vão se enforcando com as próprias cordas que amarraram seus pés.
Serra, o cínico, terá, possivelmente, o pior fim.
Saiu mundo afora dando chutes e pontapés, arrogante e cego. Tem os olhos arregalados, dentes cerrados e se acha inatingível. Deixa um rastro de destruição, achando que com três ofícios e dois memorandos vai demolir as tradições diplomáticas que o Brasil foi construindo e aprimorando por décadas. Que nada, é “big stick” com estes índios da América Latina, o negrinhos da África e aqueles árabes incivilizados….
Mas um mérito não se pode negar a Temer: recuperar a imagem de Dilma de forma tão surpreendente.
Sabotada e bombardeada, deveria sair da Presidência para o ostracismo. Acabou virando referência de honestidade, perto dele.
Onde ela vai, junta gente para ser solidária. Ela também sentiu essa força, desceu de seu distanciamento e absorve a força de todos que se juntam onde quer que ela passe aos gritos de “querida!”.
Erraram quando apostaram que Dilma não resistiria um dia sequer depois do afastamento. Erraram ao tentar passar para ela a imagem de desonesta.
Erraram a mão em tudo e até nas plaquinhas, empunhadas por 367 picaretas, na votação mais vergonhosa desde a redemocratização do Brasil, com a despedida: “Tchau, querida!”.
E agora começam a correr para consumar o impeachment antes que a precaríssima coalizão de picaretas, reacionários, tolos e oportunistas se dissolva.
Nem o plano de “estancar a sangria” da Lava Jato funcionou e, pior, revelou que derrubar Dilma era a forma de barrar a apuração da verdade. O tempo é sábio.
Nem sempre é rápido o suficiente. Mas sempre é implacável.
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