Temer não está se comportando como interino e isto tem nome: golpe.
Postado em 20 May 2016
Temer não está se comportando como o que é, um presidente interino, e isso tem um nome: golpe.
Na entrevista que concedeu ao Fantástico, ele disse logo de cara que era apenas um interino enquanto o Senado não terminasse o julgamento sobre Dilma.
Mas seus atos desmentiram brutalmente, em poucos dias, suas palavras. Mais uma vez, ficou claro que não é um homem confiável. Ele faz jus a uma descrição de Gore Vidal de um vice presidente, lembrada esta semana num artigo de Jânio de Freitas: “Ele tem todas as características de um cachorro, exceto a lealdade”.
Temer não poderia fazer tantas mudanças na essência do governo enquanto não fosse confirmado como presidente. A rigor, não poderia fazer nunca por um motivo básico: os brasileiros não votaram num programa conservador como o que ele está desastradamente pondo em marcha.
De novo: isto é golpe.
Em 1964, aconteceu a mesma coisa. O programa de governo progressista de Jango Goulart – homem que legou à sociedade o 13.o salário, declarado pelo Globo na época “um desastre” – foi soterrado pela ditadura militar.
Veio uma administração ultraconservadora que promoveu uma indecente concentração de renda e eliminou coisas como a estabilidade que protegia os trabalhadores depois de dez anos de casa.
Foi golpe então. É golpe agora.
Temer, se tivesse noção das coisas, respeitaria as linhas essenciais do projeto escolhido por 54 milhões de brasileiros há apenas um ano e meio.
Mas não tem. E vem consistentemente atacando e ameaçando os programas sociais que tiraram milhões de pessoas da miséria nos anos petistas.
Devíamos nos encaminhar como sociedade para nos tornarmos uma Suécia, igualitária, onde todos frequentam as mesmas escolas e os mesmos hospitais, e onde não existem os extremos de opulência e pobreza que mostram o atraso primitivo da plutocracia brasileira. Mas, em vez da Suécia, retrocedemos rumo ao Paraguai.
É um choque terrível de realidade.
Mudar o que não deve ser mudado é uma das características fundamentais de um mau gestor, seja de um empresa, de uma família ou de um país.
Temer decidiu mudar a política externa, e para isso colocou no Itamarati uma das maiores inépcias da vida pública nacional, Serra.
Serra em poucos dias falou tantas bobagens que mereceu uma crítica contundente de um dos maiores especialistas em política externa do mundo, David Rothkoft, o editor da prestigiosa revista Foreign Police.
“Se Serra acha que reformar a política externa é desfazer o que o Lula fez, ele não está agindo em nome dos interesses do Brasil”, disse ele à BBC Brasil.
Para Rothkoft, Lula “fez mais para aumentar o peso do Brasil no cenário mundial do que qualquer outro presidente do Brasil.”
Mas Serra, com sua estupidez arrogante, acha que pode fazer mais e melhor que Lula, e tem o apoio igualmente estúpido e empolado de Temer.
Nas pequenas coisas, o interino vem demonstrando também uma pequenez de alma formidável. A demissão de um garçom por ser petista é exemplar disso. Colocar um pau mandado de Cunha na EBC, como Laerte Rímoli, é outro absurdo. Até contratos não estão sendo respeitados, o que é um clássico de Repúblicas de Bananas como esta que a plutocracoa impingiu ao Brasil: um irrisório patrocínio da Caixa a um encontro de jornalistas digitais foi suspenso. Era coisa de 100 mil reais. A Globo, para citar um caso, recebe 600 milhões por ano de publicidade oficial, cifra que fatalmente vai aumentar com Temer.
Temer aparelhou tudo em dias.
Não é coisa de interino. Não é coisa de provisório. É coisa, para voltar a Gore Vidal, de quem tem todas as características de um cachorro, exceto a lealdade.
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