PF delega investigação sobre vazamentos na Lava Jato

Do blog de Marcelo Auler
Marcelo Auler
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mostraram-se surpresos com o vazamento de uma cópia do rascunho da delação premiada de Nestor Cerveró que acabou nas mãos do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, atualmente preso em Bangu VIII, Zona Oeste do Rio.
Não foi a única cópia descoberta. No Senado, na sala de Diogo Ferreira, chefe de gabinete de Delcídio do Amaral, a polícia encontrou cópias da delação premiada de Fernando Soares, o “Fernando Baiano”, também protegida por segredo de Justiça. “Baiano” é apontado como o operador das propinas pagas ao PMDB no esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. Condenado a 16 anos em um dos processos, graças à delação premiada, foi solto dia 11 de novembro, após cumprir doze meses de cadeia.

As buscas na casa do banqueiro e na sala do chefe de gabinete ocorreram na quarta-feira (25/11) data em que eles e o senador Delcídio do Amaral foram presos.
Ou seja, não faltaram motivos para a surpresa dos ministros. Não era para menos. Afinal, o ex-diretor da Petrobrás, para todos os efeitos, foi afastado do convivio social ao ser recolhido à carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Paraná (SR/DPF/PR) em janeiro. Baiano também ficou isolado desde novembro de 2014.
“Os vazamentos da Lava-Jato municiam pessoas poderosas”.
(ministro Teori Zavascki)
 Impactou o fato de que o (banqueiro) André Esteves tinha um rascunho com as anotações pessoais de Cerveró sobre o que ele falaria na delação premiada. Ou seja, ele teve acesso à cela onde está o Cerveró. Isso é uma intimidação para a Justiça. Como ressaltou o procurador-geral da República, esse tipo de vazamento tem que ser apurado”.
(ministro Dias Toffoli em entrevista a Caro
lina Brígido, O Globo 29/11/2015)
Como se explicar, no caso de Cerveró, que o rascunho de um documento, que nem concluído estava, menos ainda oficializado, fosse aparecer em poder de André Esteves, dono do BTG Pactual?
Nesta segunda-feira (30/11) policiais federais de Curitiba, em busca realizada na cela de Cerveró, encontraram copias da mesma delação, oficializada dia 18. Aparentemente, nada o impede de ter em mãos tais papéis que ele ajudou a produzir. A questão é como elas foram parar nas mãos de outros. Para isso, é preciso responder a uma questão básica: os documentos circularam com ou sem a participação do preso? Se sim, como foi que ele os remeteu? Caso contrário, quem o copiou e onde copiou tal rascunho?
A preocupação dos membros da mais alta corte do país em obterem estas explicações, entretanto, parece não ser compartilhada pela direção geral do Departamento de Polícia Federal (DPF). Prova disso é que a abertura do inquérito para investigar um fato que ganhou projeção nacional, acabou transformado em um assunto regional. A investigação foi deixada a cargo da superintendência aonde o vazamento pode ter ocorrido.
Por si só, o fato não se justificaria. A simples suspeita de que o vazamento demonstra falha na vigilância e nos controles interno da SR/DPF/PR, deveria levar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, avocar para si o problema e escolher a dedo alguém de um dos órgãos centrais para buscar a resposta que os ministros do STF, o procurador Janot e toda a sociedade esperam.

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