Mauricio Dias: Lula, o “xis” da questão

Objetivo final da trama golpista, alijar o ex-presidente da eleição de 2018. O impeachment é apenas uma passagem do processo
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 06/05/2016 15h41, última modificação 07/05/2016 09h23
                                                                                                              Evaristo Sa/AFP 
A presidenta, acuada, resiste
Impossível imaginar que a presidenta escape da decisão premeditada da maioria oposicionista no Senado para impedi-la e, por ora, afastá-la da Presidência por até 180 dias.
É um engano pensar, porém, nessa ausência como o princípio do fim de toda a manobra golpista. Para o ingresso de alterações do percurso, há portas além daquelas do Congresso. 
Outras se abrem para recursos legais ou, quem sabe, para a reação da voz das ruas. De todo modo, Dilma Rousseff promete continuar. Tem dito e repetido: “Vou lutar para voltar ao governo”.

Para afastá-la, o golpe de Estado desenrolado no Parlamento faz parte de um conjunto de medidas tramadas pela oposição juntamente com aliados distribuídos para muito além do próprio Congresso. Para tanto, a mídia nativa se oferece como o instrumento mais afiado.
Dilma, de qualquer forma, não é o objetivo primordial dos opositores. O ex-presidente Lula é o “xis” do golpe. Ele é o fator obsessivo da perturbação dos adversários, e eleito em 2018 detonaria a “ponte para o futuro” que os arquitetos do PMDB pretendem construir à sombra da traição de Michel Temer
De volta à Presidência, Lula detonaria, obviamente, a tal ponte, ao retornar à pauta de 12 anos de governos petistas, comprometidos com as necessidades dos cidadãos mais pobres. Nesse sentido, os programas sociais dispensam apresentação e comparação. Eles existem e a população os conhece. E, através deles, reconhece Lula.
Para tentar superar a estrondosa liderança popular de Lula, os golpistas não hesitam em rasgar a Constituição. Transitam até, sem o menor pudor, pela ilegalidade, como se deu largamente no caso dos grampos telefônicos, sem a mais pálida preocupação de verificar o que se relacionava com as investigações e com quanto nada tinha a ver com elas. Chegou-se a registrar e divulgar conversas entre a presidenta e o ex-presidente.  
Sergio Moro, desatinado, apresentou desculpas ao STF. Mas não consta que o juiz em algum momento tenha se ruborizado. Ele mesmo autorizou a condução coercitiva de Lula para depor.
Valeria para o ex-presidente ultrajado repetir trechos da Carta Testamento de Getúlio Vargas: “A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa”.
Ao assumir a sua pré-candidatura à Presidência em 2018, Lula reagiu à perseguição golpista, movida inicialmente a ódio de classe, urdida contra um ex-operário metalúrgico. A partir desse momento, ele passou a viver sob a ameaça de prisão, por acusações desprovidas de prova.  
Mesmo após dois anos de campanha martelante da mídia, desfechada com o transparente propósito de estigmatizá-lo de vez, o ex-presidente ainda é o candidato preferido do eleitor brasileiro.
Os adversários de Lula vivem um dilema. Se ele não for preso, disputará a eleição em 2018 e pode ter uma votação avassaladora. Mas pode ser pior se for preso. Criarão um mito.
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Mauricio Dias
Mauricio DiasJornalista, editor especial e colunista de CartaCapital.mauriciodias@cartacapital.com.br

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