Jornais estrangeiros denunciam o golpe que a imprensa brasileira apoia
por Helena Sthephanowitz - 14/05/2016
'Guardian' e 'NYT' criticam impeachment. Imprensa brasileira apoia o golpe
'Guardian' e 'NYT' criticam impeachment. Imprensa brasileira apoia o golpe
Jornais estrangeiros dedicaram espaço em seus editoriais para falar da situação política no Brasil, um dia após Michel Temer assumir interinamente a Presidência da República. Veja alguns
O americano The New York Times afirma que a presidente afastada Dilma Rousseff paga um preço "desproporcionalmente alto" por erros administrativos que cometeu, enquanto vários de seus maiores detratores são acusados de crimes mais flagrantes.
O Guardian publicou duro editorial, criticando o processo e avaliando que o sistema político é que deveria ser julgado, e não a presidente da República.
O editorial do Financial Times diz que a Operação Lava Jato pesa sobre boa parte do Congresso e até sobre o próprio Temer. Por isso, o editorial defende que o presidente em exercício "deve permitir que as investigações continuem seu curso".
Ao reconhecer a controvérsia sobre a argumentação jurídica que baseia o processo de impeachment, o Financial Times afirma que o resultado do desdobramento da crise política visto "está longe de ser perfeito".
Já o editorial do Guardian defende que o Brasil deveria ter profunda reforma para tornar a política mais funcional e honesta, mas lamenta que a equipe apresentada na quinta-feira mostra que é "muito duvidoso" que o governo Temer dará esse salto.
O Guardian diz que o sistema político brasileiro é tão disfuncional que a corrupção é "praticamente inevitável" para a governabilidade. "Dilma herdou esse legado infeliz e começou a perder o controle em um período de declínio econômico e quando a corrupção, graças à polícia e a promotores independentes, começava a se tornar um escândalo de proporções crescentes". O texto também cita que houve preconceito machista e ressentimento da direita que nunca aceitou a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.
"O elemento tóxico final na crise foi a percepção de muitos políticos que os procuradores poderiam descobrir mais coisas sobre eles e uma maneira de evitar ou reduzir essa possibilidade poderia ser distrair a atenção e tomar o controle político com o processo de impeachment da chefe de Estado", cita o editorial.
O Guardian diz que "a ironia é que muitos dos acusadores são acusados e por pecados piores". O texto cita Eduardo Cunha e lembra que Dilma não é acusada, nem investigada por corrupção. Diante desse quadro, o Guardian defende que "o que deveria estar em julgamento acima de tudo é o modelo político brasileiro que falhou".
Com o título Fazendo a crise política piorar, o editorial do New York Times, maior jornal dos EUA defende que os brasileiros deveriam ter o direito de eleger um novo presidente.
O jornal avalia que Dilma pode ter sido uma governante "ruim", mas foi eleita duas vezes nas urnas e não há evidência de que ela usou seu cargo para enriquecimento pessoal, enquanto outros políticos que a acusam estão envolvidos em escândalos de corrupção.
O New York Times ressalta que Temer foi condenado pela Justiça eleitoral e está inelegível por oito anos e o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de impeachment de Dilma, foi afastado por denúncias de corrupção.
O jornal diz que o governo pode representar uma guinada para a direita, como em outros países da América Latina.
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