Emir Sader: Fora Temer!

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por Emir Sader - 11/05/2016

Os brasileiros estavam se acostumando a eleger presidentes. Tinham eleito durante 19 anos, em quatro eleições sucessivas. Tinham eleito o Dutra, em 1945, candidato do Getulio, contra o Brigadeiro, candidato da direita. Tinham eleito o Getulio, em 1950, de novo contra o Brigadeiro. Eleito o JK contra o Juarez Tavora, outro militar, candidato da direita, em 1955. Eleito o Jânio, candidato da direita, (-Eu votei no Jânio, confesso, diz o Verissimo, mas não fui o único.), contra o marechal Lott, candidato da esquerda.

E se preparavam para escolher entre o JK, o Lacerda e talvez o Brizola (pintávamos os muros com "Cunhado, não é parente, Brizola pra presidente", lutando pelo direito de ele ser candidato, apesar de sua irmã ser casada com Jango). Quando os militares, aliados aos grandes empresários, aos meios de comunicação, à Igreja católica e aos EUA deram o golpe de 1964 e instalaram a ditadura militar, por 21 anos – mais tempo do que tínhamos tido de democracia.


As altas patentes das FFAA escolhiam quem deveria ser o ditador de turno e mandavam pro Congresso, amputado de dezenas de parlamentares cassados, referendar. Tinha que ser militar de 5 estrelas e de confiança das altas patentes das FFAA, da Doutrina de Segurança Nacional e dos EUA. O movimento democrático brasileiro gritou, sem cessar:
Abaixo a ditadura!

Quando a ditadura terminou, a campanha das eleições diretas não conseguiu os 2/3 no Congresso para se impor e o presidente do partido da ditadura, José Sarney, que tinha comandado a luta contras as diretas, terminou sendo eleito, pelo voto indireto e contando com a morte do Tancredo Neves, o primeiro civil presidente do país em 21 anos.

O velho triunfava sobre o novo na transição e o governo de Sarney não avançou em nada na democratização do país. A concentração do poder da terra, dos bancos, dos meios de comunicação – só para citar alguns casos – aumentou. A democratização ficou ao nível político institucional, não chegou à economia, às relações sociais e ao plano cultural.

Aproveitando-se do esgotamento do impulso democrático no governo Sarney, um filhote da ditadura, Fernando Collor de Mello, se elegeu como o primeiro presidente civil escolhido pelo voto direto, em 1989.

Derrubado Collor por um processo de corrupção por impeachment e pelo grito sem cessar de "Fora Collor", o modelo neoliberal do seu governo sobreviveu, quando seu vice, Itamar Franco, chamou FHC para retomá-lo. A falta de legitimidade do vice fez com ele buscasse apoio na continuidade desse modelo.

Foi apoiado na campanha de Collor, que deslocou os temas da democratização para a luta contra o Estado, contra os direitos dos trabalhadores e contra a proteção do mercado interno, que FHC conseguiu se eleger e se reeleger, fazendo da luta contra a inflação o problema principal do país. Quando esse diagnóstico se revelou equivocado e ele mesmo entregou o governo para seu sucessor com inflação anual de 12,5%, o cenário político estava pronto para ser transformado.

Mas com FHC e Lula tivemos o fenômeno, único até aqui na história do país, de dois presidentes eleitos pelo voto popular conseguirem se reeleger e completar seus mandatos. Bem ou mal, foram 16 anos de continuidade institucional. Se completaram 20 anos, com o primeiro mandato de Dilma, até a ruptura dessa continuidade.

A usurpação do governo por parte de políticos corruptos para tentar impor o programa derrotado em quatro eleições sucessivas pela manifestação democrática do povo brasileiro pelo seu voto faz com que, enquanto esse processo golpista, sem legitimidade, repudiado pela maior onda de manifestações do povo brasileiro, persistir, o sentimento democrático do povo brasileiro gritará, sem cessar:

Ocupar e resistir!

Fora Temer!

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