Carta aberta ao ministro Eugênio Aragão, por Marcelo Auler
TER, 22/03/2016 - 08:21
ATUALIZADO EM 22/03/2016 - 08:24
Do blog do Marcelo Auler
Marcelo Auler
Prezado Ministro. Lá se vão 25 anos do nosso primeiro encontro, em Rio Maria, no sul do Pará, quando do “Dia Municipal contra a Violência e a Impunidade”, em 12 de março de 1991, um mês depois da morte do líder sindical Expedito Ribeiro da Silva. Eu, a serviço do extinto Jornal do Brasil.
Você – e me permito este tratamento por sermos da mesma geração, sem lhe faltar o devido respeito – junto com o seu então colega José Roberto Santoro, acompanhavam o Procurador Federal da Defesa dos Direitos do Cidadão, Álvaro Augusto Ribeiro da Costa, ao mesmo tempo que, designados pelo então procurador-geral da República, Aristides Junqueira, elaboravam um dossiê sobre a violência em toda região. Na época, a contabilidade era macabra: em 11 anos, 17 líderes trabalhistas assassinados e muitos dos acusados por esses crimes, livres, ameaçavam a todos. Estava lá também Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1991,o jovem procurador Eugênio Aragão, em missão no sul do Pará, onde a violência reinava e a impunidade também (Foto: arquivo pessoal)
Pouco depois, já na Veja, a partir de outra investigação sua com o Santoro, fui, com o fotógrafo Paulo Jares, ao “Garimpo do Sangue”, em Matupá (PA). Mas esta é outra história.
Neste quarto de século, muita coisa aconteceu. Nos distanciamos, você de jovem procurador na época, chegou a subprocurador da República e eu continuei na missão de reportar. Mas, cada um na sua trincheira, lutamos pelos mesmos objetivos: o fim da impunidade, o restabelecimento, a partir da Constituição de 1988, do tão desejado Estado Democrático de Direito onde predominam as leis e, em consequência, a civilidade.
Fomos nos reencontrar de maneira rápida, na quinta-feira passada (17/03) quando testemunhei o início desse seu novo desafio, ao ser empossado como ministro da Justiça. De tão concorrida a cerimônia, mal nos cumprimentamos.
Sem dúvida, sua nova função é espinhosa. Não a invejo. Mal chegou e já recebe críticas por falar o óbvio, isto é, que a lei existe para ser cumprida, principalmente por quem recebe do Estado para fazer cumpri-la. Nada de tão misterioso, mas na cabeça de alguns isto soa como ameaça. Por quê?
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