Paulo Nogueira: Só o futuro para explicar como um tipo como Eduardo Cunha pode estar tão próximo da presidência.

Postado em 07 Apr 2016
Um dos maiores mistérios nacionais
Um dos maiores mistérios nacionais
Só o futuro poderá explicar como um vigarista como Eduardo Cunha pode, a esta altura, estar no comando de um processo tão importante para o país como o que trata do impeachment presidencial.
Não há explicação racional para que Cunha, diante de provas tão contundentes de roubalheira e achaque, não esteja na prisão.
A situação confortável de Cunha é, em suma, um fabuloso fracasso nacional. É o Brasil, coletivamente, que falhou miseravelmente na condução do caso de uma das maiores e mais claras vocações de corrupção da história do país, se não a maior.
No Roda Viva desta segunda, um entrevistador perguntou a Marco Aurélio Mello por que o STF não mandava –pelo menos – afastar Cunha.
Foi o único momento em que Mello não foi convincente. Ele juntou palavras sem oferecer uma resposta razoável.

Um país do tamanho e da importância do Brasil teria que dispor de proteções automáticas contra um tipo como Cunha. Na verdade, todos imaginávamos que as houvesse, mas não: como a realidade duramente mostrou estamos à mercê de psicopatas poderosos como ele.
Não haveria, em sociedade nenhuma minimamente avançada em todo o mundo, saída para Cunha depois que as autoridades suíças brindaram as brasileiras com evidências irretorquíveis de crimes do presidente da Câmara.
Era um homem morto andando.
Ele tinha profanado a Câmara ao dizer, pouco antes, que não tinha conta no exterior. Não tinha uma, mas várias.
Nada, nada e nada aconteceu com ele.
Delatores falaram, com terror nos olhos, das ameaças que sofreram para não citá-lo em suas delações. Até as famílias dos delatoras foram ameaçadas por paus mandados de Cunha.
A mesma história de ameaças foi contada depois por um deputado que seria o responsável pela comissão de ética que decidiria sobre o afastamento de Cunha.
Mais uma vez, nada, nada e nada.
Delcídio falou. E contou que a origem dos ataques devastadores de Cunha a Dilma estava no fato de que ela tirara homens dele de Furnas para moralizar uma empresa saqueada brutalmente.
Novamente, nada, nada e nada.
Era amplamente sabido que Cunha chantageava o governo em torno do pedido de impeachment formulado pela rainha da sanidade Janaína Paschoal e o nonagenário Bicudo.
Ninguém deu um passo para dificultar uma chantagem indecente, abjeta, feita à luz do dia.
Espasmos inúteis, patéticos, vergonhosos surgiram aqui e ali. Janot falou muito e fez pouco. Teori falou pouco e fez menos ainda. O governo ficou mudo e ficou parado como que à espera de um milagre.
À imobilidade destes se somou o oportunismo vil de homens como Aécio e FHC, e tudo isso foi coroado pela proteção suja que lhe foi oferecida pela mídia, a começar pela Globo.
Certas coisas podem ser definidas como fracassos nacionais. Os alemães falharam coletivamente com Hitler. Até hoje se envergonham ao falar do assunto.
Eduardo Cunha é um formidável malogro brasileiro.
Talvez o futuro encontre uma explicação para isso. No presente, ela não existe.
Um meliante que deveria estar no xilindró nunca esteve tão perto da presidência da República.
E nada, nada, nada acontece.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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