Dilma fica. Só quem passou pela ditadura sabe o que significa um golpe na Constituição e na esperança, diz Benedita

Sábado, 09 Abril 2016
Benedita da Silva
Em um discurso emocionado, citando o seu orgulho de ser petista, de ter participado da elaboração da Constituição brasileira de 88 e de ter ajudado a mudar a história de vida das pessoas mais pobres no País nos governo Lula e Dilma, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), defendeu o mandato da presidente Dilma Rousseff na Comissão do Impeachment. “Nós queremos democracia, não queremos o golpe. Nós queremos que Dilma fique, que a gente continue trabalhando e que este Congresso possa dar resposta a este País, às pessoas que confiaram em nós”, afirmou.


A deputada Benedita reforçou que uma presidenta eleita não pode ser afastada por baixa popularidade, por ter uma minoria no Congresso ou por eventuais erros na política econômica. “Não há crime, não há dolo, nem o relatório desta comissão, nem os acusadores, que pediram o impeachment encontraram nada que comprove o dolo, ou crime de responsabilidade. Tudo e fundamentado com suposições, ilações, com notícias da imprensa”, afirmou.
Comovida com todo esse processo que tem dividido o País e que tem despertado ódio e intolerância contra os militantes do Partido dos trabalhadores, Benedita da Silva, que já também senadora, ministra e governadora, aproveitou para fazer um desabafo. “Doe ser chamada de quadrilheira, de bando, de ladrões. Como evangélica, sei como os ladrões na calada da noite usavam as prostitutas e na luz do dia chamava Jesus para pedir Justiça”.
Ela lembrou ainda que não há corrupção sem corruptores e enfatizou que foram nos governos Lula e Dilma que o Ministério Público e a Polícia Federal ganharam as segurança necessária para trabalhar com independência. “Nunca foram cerceados, fizeram muitas operações, pegaram toneladas e toneladas de cocaína, de maconha. Pegaram porque é um comércio ilegal e o produto não era de pobrezinho da favela”, citou

Benedita da Silva disse que defende a Constituição porque estava aqui nesta Casa quando foi elaborada. “o ex-presidente Lula também estava, talvez por isso tenha feito tanto pelos direitos dos excluídos, para que esses direitos não ficassem como letra morta já que não estavam regulamentados”, analisou.
Pão com mortadela - Ainda emocionada, Benedita falou que não tinha vergonha do pão com mortadela – expressão utilizada para definir os militantes apoiadores da presidente Dilma. “O pão com mortadela faz parte da vida de milhares de pessoas que muitas vezes não tinha o que comer e quando o pão com mortadela chegava parecia presunto Parma”. E acrescentou: “Quem faz brincadeiras jocosas com isso é porque nunca passou fome”.
Benedita da Silva falou ainda da hipocrisia da sociedade que canta o hino nacional para dizer que é brasileiro. “Eu sou pobre, filha de empregada doméstica, mas também sou brasileira, também ajudei a fazer esse país crescer com as minhas mãos dignas. Mãos pesadas de carregar panelas e latas d’água. É duro ouvir que somos uma quadrilha, para mim e insuportável até porque nesta Casa nunca dei esse tratamento a ninguém, mesmo conhecendo a vida de alguns muito próximo”, desabafou.
Democracia – Benedita antes de encerrar defendeu a democracia. “É ela (a democracia) que está em jogo. Esse impeachment é um atentado à Constituição, um ato de muita gravidade. Não é como sorrisos, com palmas, uma fala maior ou menor. Trata-se de um golpe destituir de um cargo legítimo uma presidenta eleita com mais de 54 milhões de voto sem que tenha ocorrido crime de responsabilidade. Eu não quero romper de maneira nenhuma com a Constituição brasileira”. E alertou que o seu povo, “o meu Zé Povinho” também quer isso. “Não queremos que os trabalhadores rurais, as domésticas continue tendo a oportunidade de colocar os seus filhos na escola, de andar de avião, de ter médico de família. Eles sabem fazer a leitura política, e sabe que o que se pretende é um golpe”.
A Dilma, afirmou a deputada do PT-RJ, é integra e honesta. “E se ela não representa nada para essa Casa, representa muito para a continuidade da nossa luta por mais direitos trabalhistas e sociais. Só quem viu a ditadura, que passou pela ditadura, sabe muito bem o que significa um golpe na Constituição, nos sonhos e na esperança”,
finalizou.
Vânia Rodrigues
  • Foto: Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

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