De Golem a Hidra: Uma ópera bufa, por Frederico Firmo

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Há muito tempo escrevi um post aqui sobre o judiciário e Golem. Uma criatura que criada para a defesa das comunidades, se esquece de suas funções e do inscrito em sua testa, "A verdade". Golem se encheu de poder e de protetor se tornou o algoz da comunidade que o criou. O post é antigo, mas já avisava que o golpe judiciário já havia acontecido. O judiciário como Golem já é poder. Mas aos poucos o mítico Golem se transforma em Hidra.
Aos poucos a face de Moro foi sendo trocada por Janot. Pois como Hidra existem muitas cabeças, a cabeça Gilmar, a cabeça Toffoli, a cabeça Fux, a cabeça Janot, mais recentemente o ressentido Facchini, e o professor de teoria jurídica Barroso. Que após ter dado uma boa lição resolveu aprovar todos os alunos ,mesmo aquele que havia ido tão mal. No fundo da classe , aparentemente o fundão resiste na figura de um Marcos Mello, aquele que não é decano, e Lewandovsky que estava muito solitário.

O resto parece que se apraz em ser apenas o resto. Acompanhando sempre a maré, ou falando leviandades em ambientes diversos. Aliás leviandades seletivas. Existe um Teori, que como tal é quase uma abstração cuja realidade eu ainda não consegui desvendar. Capaz de rapidamente prender Delcídio, e lentamente, muito lentamente , e mais lentamente ainda se pronunciar contra Cunha, contra Moro, contra os quais transbordam, ou desbordam, as provas de ilícitos. 
Contra Cunha um pretenso cuidado para não extrapolar e interferir em um outro poder da República, ( não teve tantos pudores com Delcidio), mas rapidamente aceita e mantém liminares perpetradas por qualquer desclassificado , ou alguém altamente classificado como inimigo notório e interfere diretamente no executivo.
Afinal a presidente não consegue sequer indicar um Ministro. Assim vão impossibilitando qualquer ação do executivo. Ao bel prazer e ao sabor dos fatos e movimentos da maré, uma das cabeças da hidra, muda seus pareceres sempre que o momento político assim o desejar. Retiram assim os direitos políticos de um cidadão, Lula, contra quem a maior acusação é a posse de um pedalinho, em águas estrangeiras. E de não ter comprado um apartamento que insistem dizer que é dele.
Enquanto as provas da má-fé , da virulência e da obsessão se manifestam. O silêncio total desta corte para o teatro imoral e obsceno que assistimos naquela secção do impeachment. Uma secção onde torturadores foram brindados, acusações, xingamentos, da mais profunda baixaria, foram proferidos contra uma autoridade estabelecida, a presidência da República.
Ataques homofóbicos, e demonstrações criminosas de preconceitos foram não só divulgados pela imprensa, como tiveram desta mesma imprensa destaque, porque esta imprensa ataca através da boca de outros. Uma imprensa que continua a fazer propaganda do que há de mais baixo na nossa sociedade. Um imprensa que por diversas vezes ofendeu a presidente da Republica mas trata respeitosamente o presidente da Câmara Eduardo Cunha, dando força a um condenável, jamais condenado.
Todo aquele circo não mereceu sequer uma censura por parte do nosso atual poder maior, o STF. Embora tenha se manifestado duramente contra uma conversa íntima vazada ilegalmente. Enquanto isto nos bastidores, as três cabeças siamesas, Gilmar, Toffoli e Fux, tramam descaradamente para separar o inseparável, preparando a absolvição de Temer, unidos ao famoso Cunha Trava Processos.
Em Curitiba ou em outra vara qualquer, as delações premiadas vão acumulando frases, (mas não provas) contra os mesmos. Frases que são cedidas a uma imprensa que envergonha a imprensa internacional. Nos vídeos, para o grande publico aparece um procurador do MP, que agora se torna promotor, perguntar e insistir para que um delator fale o nome de Lula. O delator afirma que Lula não tem nada a ver com a suposta propina, e o promotor insiste. O delator nega mais uma vez. E no jornal o apresentador, afirma. Lula foi citado na Lava Jato. E Janot, diz que isto pode ser anexado ao processo.
Se observarem bem o nome de Lula foi trazido a tona pelo promotor. Mas isto é o que basta, pois a Hidra tem mais uma cabeça, a grande mídia. Uma grande mídia que jamais falou que apenas um percentual extremamente pequeno, aproximadamente quarenta, daquela câmara que votou pelo impeachment de alguém com 54 milhões de votos, foi eleito pelo povo. A maioria esmagadora daqueles deputados, lá estão por causa da legenda.
Enquanto isto Janot e Teori, ficam, um soltando frases e pareceres contraditórios, e o outro solta um silêncio profundo, sentado sobre os processos. E ambos continuam a criar mais e mais suspeitas em cima dos mesmos, alimentando , vejam só, o assassinato de reputações. Aquelas gravações são puramente ridículas, e jamais seriam aceitas em qualquer juízo. Mas a justiça finge que não entende nada de justiça, a imprensa também e os que são contra , querem apenas mais uma arma para matar petistas. E a justiça deu a eles Cunha.
No momento, como se não tivéssemos uma investigação durando anos, exatamente neste momento começam a surgir as delações contra Dilma. Tudo isto é uma opera bufa, dirigida por um Diretor completamente medíocre e incompetente, mas que tem no momento poder para fazer o que quer, pois tem o único teatro da cidade. Não existe um pensar , não existe um roteiro não existe uma estratégia não existe uma tática, existe poder e falta de pudor. Não se tem coerência ou sequer um ardil. As coisas se sucedem conforme a conveniência. Não importa se incoerência houver, pois não se importam se quem pagou quis ouvir.
Na verdade negar a evidência de um aeroporto de Cláudio, não é ardil não é estratégia, é pouca vergonha e poder. Um juiz que viola direitos de defesa , com escutas ilegais em escritórios de advocacia, que divulga gravações de conversas telefônicas da Presidente da República não é um ardil é pouca vergonha e poder. Membros da Justiça, não tem pudor quando ignoram as leis, mas o fazem porque podem, não se tem pudor ao trazer a publico uma testemunha que depois se contradiz, claramente sob pressão. Não se tem pudor em mudar fatos e versões, não se tem pudor em agir imoralmente.
Chegamos ao ponto de criticar o republicanismo de alguns, mas o que vejo são poucas críticas à barbárie. A destruição de valores civilizatórios é a barbárie. Ver uma figura medíocre como Temer, que agora se sujeita a expor a própria esposa de forma vexatória. Se imaginando ainda nos anos 50. Provavelmente sonhando com a marcha da família e propriedade. O cara parece que parou no tempo.
E o jornalista e a revista não têm o menor pudor. Como acreditar na capacidade intelectual e na capacidade de construir algo pelo país, quando o seu primeiro ato é voltado para uma coluna social de Ibrahim Sued. Se ser pensante fosse, não teria deixado o seu partido ficar na mão de um sociopata tramando para ter um poder que ele próprio jamais vai ter.
Pois talvez se torne presidente, mas Temer como Aécio, nasceram para aparentar o que não são. São apenas figuras vazias, decorativas. Seu êxtase não vai ser presidir o país, mas sim assumir o cargo de presidente. Quem sabe não foi um pedido de sua adorável esposa. Talvez Dilma devesse tê-la convidado para um chá.
Enquanto isto se quisermos repensar este país, precisamos desatar o nó que tanto poder deu a um Golem. Que instituições são estas que criamos. Como permitimos que fossem tomadas por tais indivíduos? Como vai ser usual, irão culpar o povo brasileiro. Mas isto é só uma grande desculpa pois tudo isto não ocorreu nas ruas, tudo isto só ocorreu, porque a mesma velha casta se apropriou de nossas instituições porque sabem que lá reside o poder. 

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