O educador Anísio Teixeira foi morto pela ditadura militar, aponta relatório
11 de março de 2016 - 20h18
O professor João Augusto Rocha, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que pesquisa sobre a morte do educador baiano Anísio Teixeira, promoveu, nesta sexta-feira (11/03), um encontro na Escola Politécnica da Universidade, em Salvador, para apresentar as novas informações que contestam a versão oficial de que a morte foi acidental. No novo relatório, Rocha traz provas robustas de que o educador foi assassinado pela ditadura militar (1964-1985).
Anísio Teixeira
Entre as provas, estão estudos feitos a partir das fotos do local onde o corpo foi encontrado, que só agora foram divulgadas e puderam ser acessadas, e do exame cadavérico. Anísio foi achado no fosso do elevador do prédio onde morava o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, no Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 1971, em condições que, segundo a avaliação do pesquisador, provam que a cena foi montada para fazer parecer um acidente.
O conhecimento em física permitiu que João Augusto Rocha, que é engenheiro e professor da área na UFBA, percebesse, por exemplo, que os óculos de Anísio, encontrados junto ao corpo, não poderiam estar intactos como estavam, considerando a velocidade que uma possível queda do elevador se daria. “Pela ação, os óculos deveriam estar esmagados”, explicou o professor.
O relatório também traz uma informação, recebida de autoridades militares da época, de que no dia 12 de março, um dia antes do corpo ser encontrado, Anísio esteve preso na Aeronáutica, para onde foi levado após ter desaparecido, no dia 11. João Rocha afirma que a análise do exame cadavérico, feita pelo renomado legista Luiz Galvão e que também integra o documento, refuta a hipótese de acidente e também converge para a tese de assassinato.
Nesta sexta-feira, data escolhida para a divulgação do relatório, completa 45 anos do desaparecimento de Anísio Teixeira, um dos mais importantes nomes da educação no Brasil. As novas informações serão encaminhas para a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Governo federal, que deverá analisar as provas e poderá, se houver constatação, promover reparação à família e reconhecer a responsabilidade do Estado brasileiro.
Confira a entrevista com o professor João Augusto Rocha:
– O que traz de novo esse relatório que o senhor apresenta?
Explorei em meu trabalho coisas que eu tenho absoluta certeza que comprovam que Anísio Teixeira não caiu no fosso do elevador. Particularmente, a questão dos óculos dele, que apareceram intactos, em uma ação em que eles deviam estar esmagados. Pelos princípios da Física, os óculos não poderiam ficar nas condições que ficaram. O doutor Luiz Galvão, médico legista de renome nacional, autor de textos da maioria das universidades, ficou de explorar os aspectos mais de medicina legal que chegam à mesma conclusão. E eu não entrei nisso. Estamos trabalhando em cima das fotos do local onde apareceu o corpo dele, que agora apareceram, e estamos lançando em primeira mão.
– A cena foi montada?
Aparentemente, foi montada. Tudo leva a crer.
– Tem alguma suposição sobre a causa da morte?
Eu tenho algumas indicações, a partir de depoimentos de pessoas de muito crédito, como o do ex-governador Luiz Viana Filho e do educador e escritor mineiro Abgar Renault. Eles disseram que falaram com autoridades militares e eles disseram que no dia 12 Anísio estava preso, detido na Aeronáutica. Tranquilizaram a família dizendo que ele chegaria lá em pouco tempo. O corpo aparece no dia 13, no elevador do prédio para onde ele ia, e ele desapareceu no dia 11.
– Então, a gente pode dizer que ele foi mais uma das vítimas da ditadura?
Essa é a minha tese porque ele era uma pessoa que, toda vez que se instalava uma ditadura, era banido. Em 35 foi assim, em 64 foi assim. Eles tinham muito ódio porque era o educador que viabilizou a escola pública de qualidade para o Brasil. Pessoas mais à direita não querem que isso aconteça no País.
– Quais os próximos passos em relação à investigação do caso?
Aqui [na apresentação do relatório], tivemos a presença de Diva Santana, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, encarregada de investigar esses fatos todos para se chegar à verdade. Vamos juntar esse material com algumas outras informações que eu tenho e passar para a Comissão, pedindo para que ela investigue com profundidade. Vamos estar sempre à disposição para também participar disso.
– O que espera que aconteça daqui pra frente?
O mundo educacional brasileiro tem uma expectativa muito para saber por que o maior educador foi assassinado pela ditadura. É muito importante para esse momento que a gente está vivendo, quando se coloca nas ruas a volta da ditadura, mostrar que o maior educador brasileiro foi morto pelos militares. Para nós, é muito importante que se chegue à verdade sobre quem matou e em que condições aconteceu essa morte dele.
Entrevista concedida a Erikson Walla
Fonte: Portal PCdoB- Bahia
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