Eleições 2018: a disjuntiva de um jogo semiaberto; ainda.

37% acham que Lula foi o melhor presidente da história: é possível vencê-lo numa disputa onde ele passa a ter espaço para dialogar com a população?

por: Saul Leblon - na Carta Maior - 03/03/2016

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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A disjuntiva que assombra os dias e atormenta as noites do conservadorismo agora tem números ilustrativos.
 
A pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada esta semana, espeta em torno de Lula e de sua liderança três percentuais cuja sedimentação vai definir o futuro eleitoral do ex-presidente e o do projeto de restauração neoliberal no Brasil.
 
Desde 2005/2006 sob fogo cerrado do conservadorismo e, a partir de outubro de 2014, diuturnamente caçado pela República de Curitiba  --que abastece a mídia de suposições e ilações para transformá-lo em símbolo máximo da corrupção no Brasil, o ex-presidente foi desfigurado politicamente no imaginário popular.
 
Cerca de dois terços do eleitorado foi convencido pelo jogral Moro & mídia.

Os governos e o partido do líder operário consagrados como sinônimo de justiça social enredaram-se em práticas ilícitas. E ele concedeu e auferiu vantagens a empresas associadas a grandes obras públicas.
 
É uma mutação devastadora.
 
Mas inconclusa, porque colide com duas mensagens opostas espetadas pelo eleitor nas planilhas do Datafolha.
 
Cerca de 1/5 do eleitorado brasileiro mantém-se perfilado ao lado de Lula, solidamente.
 
Isso o credencia de forma quase incontornável ao segundo turno da corrida presidencial de 2018, qualquer que seja a composição do plantel adversário.
 
Mais que isso.
 
Esse piso granítico –indisponível do lado oposto em que as menções espontâneas de voto se esfarelam e se dispersam— salta robustamente quando a referência escrutinada passa a ser a vida real dos cidadãos, não a porção mutante do seu discernimento, induzida agora pelo alto-falante midiático, ao qual o ex-presidente não tem acesso.  
 
Como se fora a bruxa da fábula infantil a Folha, depois de esfalfar-se nesse labor sem trégua indaga ao cristal da memória popular:
 
‘Espelho, espelho meu, quem foi o melhor Presidente da história deste país?’
 
E de 37% respondem: ‘Lula’.
 
Fecha-se o círculo de ferro.
 
A disjuntiva do corpo meio morto meio vivo afoga o conservadorismo em dúvidas dilacerantes: é possível enfrentar e vencer Lula numa disputa na qual ele passa a dispor do que não tem hoje –e que eles fingem não considerar um dado decisivo na disputa?
 
Espaço e tempo igual para se defender e dialogar com a população brasileira.
 
Na campanha eleitoral, um jornalismo caricato, de viés antipopular, perde momentaneamente monopólio do diálogo com a sociedade .
 
A sorte do país e o destino do seu desenvolvimento ganham uma janela de debate ecumênico.
 
E será preciso aturar Lula a alertar o eleitor popular em relação ao projeto de Brasil inscrito nas lâminas dos grandes interesses que esfaquearam, esquartejaram, picaram e salgaram a sua reputação, a do seu governo, a de sua família e a do seu partido, em praça pública, durante dias, semanas, meses e anos seguidos.
 
A recente entrega do pré-sal, iniciativa de um presidenciável tucano fartamente festejada pelo conservadorismo, poderá figurar então como um tiro no pé:  a prefiguração explícita daquilo que a restauração neoliberal pretendia, de fato, com o simulacro de sua cruzada anticorrupção e anti-Lula.
 
Os dados trazidos à mesa pelo Datafolha da última 2ª feira  injetaram desassossego ao diretório conservador.
 
Podem exigir de Moro & Cia aquilo que a sofreguidão murmura por entre perdigotos incontroláveis: a prisão cinematográfica de Lula, a fornecer o fotograma com o qual –uiva-se do fundo da isenção jornalística dominante—será possível reduzir a ameaça em um zumbi de punham no peito, a se arrastar na lixeira da história.
 
Podem, ao contrário, impor cautela redobrada aos que –a exemplo do impoluto FHC—temem a reação popular.
 
Mas, sobretudo, deveria , antes que tarde demais, suscitar no PT e em todo o campo progressista uma agenda de mergulho sem volta às periferias e bases populares, de modo a nutrir a hesitação golpista de razões concretas para temer a rua.
 
O jogo, enfim, está semi-aberto.
 
Ainda.

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