Osvaldo Bertolino: Quem seguir a Folha, pode pular do penhasco

20 de fevereiro de 2016 - Vermelho.org


Folha de S. Paulo, em editorial intitulado “Folha, 95” (uma alusão aos seus 95 anos), apresenta aos seus leitores uma patetice panfletária que pode ser considerada o ponto alto da sua já clássica coleção “faz-me rir” para exaltar méritos que o jornal não tem.

Por Osvaldo Bertolino, em seu blog


Edifício sede da Folha de S.Paulo, o jornal da rua Barão de Limeira Edifício sede da Folha de S.Paulo, o jornal da rua Barão de Limeira 
O texto começa apresentando um cenário brasileiro digno de fazer inveja a Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século 19 e o pessimista mais brilhante e influente que a humanidade já produziu (era melhor nem ter nascido, filosofava ele).

A má-fé cínica maquiada de obtusidade córnea mostra uma fotografia desfocada e pessimamente enquadrada da economia do país e um prognóstico sobre a perspectiva de saída da crise política capaz de fazer até o mais otimista dos otimistas que a leve a sério sentir aquele desejo irrefreável de se atirar do penhasco. Para a Folha, diante do caos o governo está paralisado e prostrado.

Recessão emocional

Como fiel carpideira do golpismo, o jornal cita “a confiança de empresários e consumidores” no chão e “um dos maiores escândalos de corrupção da história” (referindo-se à farsa da “Operação Lava Jato”) para dizer que “o colapso da autoridade presidencial ameaça manter o país em hemorragia”. O incauto, de posse desse diagnóstico, certamente só pode chegar a uma conclusão: impeachment já!



Mas a coisa, de acordo com a Folha, é mais feia do que se possa imaginar. “A oposição tampouco consegue mostrar-se à altura dos desafios. A polarização ideológica e a estridência timbram o debate público e pouco têm contribuído para encontrar soluções racionais capazes de repor o Brasil nos trilhos”, receita o editorial. Bom, aí o incauto vai mesmo querer pular do penhasco.

Paulo Nogueira Batista Jr. (vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento), em artigo recentemente publicado no jornal O Globo — com o sugestivo título de “Sossega, vira-lata!” —, disse que, passando algumas semanas no Brasil, constatou horrorizado que pior do que a recessão econômica é a recessão emocional. “O país, que há poucos anos era um sucesso internacional, parece ter perdido a autoconfiança definitivamente”, escreveu.

Pessimismo e derrotismo

O cerne do seu raciocínio é que a recessão emocional alimenta a econômica, e vice-versa. O colapso da confiança prejudica inevitavelmente o investimento, o consumo e, consequentemente, o emprego. Embora de uma obviedade ululante, essa lógica básica para quem ingressa na idade juvenil não é captada coletivamente porque os brasileiros passam por uma espécie de paralisia cerebral, provocada por uma epidemia de desinformação daquelas nunca antes vista na história deste país.

A receita é antiga, mas funciona (o editorial da Folha é um exemplo): prognosticam-se o caos e, com isso, suas receitas conquistam as primeiras páginas (a própria Folha dá, na mesma edição, um exemplo ao fazer um malabarismo circense com o futuro do pretérito para anunciar em sua manchetona que “o governo admite travar reajuste do mínimo para conter gastos) e as manchetes das redes de rádio, televisão e internet. Ou seja: a mídia não perde a oportunidade de mostrar uma nuvem como prenúncio de inundação.

É dessa receita que advém os insultos, os ataques pessoais, as intrigas, as falsidades, as invenções, os erros de fato e as mentiras cabeludas que se espalham pela boca dos incautos como rastilho de pólvora. Se os números que falam das mazelas do Brasil são superestimados, e não se dá atenção aos dados que mostram outra realidade, o que sobra é o mundo do pessimismo e do derrotismo.

Intelectuais de direita

Cultiva-se então o que o cientista social Albert Hirschman, alemão radicado nos Estados Unidos, batizou de fracassomania. Ele criou a expressão depois de ter conhecido de perto a situação de países como a Itália, a Colômbia e o Brasil. Numa entrevista publicada numa revista econômica italiana, Hirschman contou como desenvolveu o conceito. “Na Colômbia, a primeira reforma agrária promovida nos anos 1930 pelo governo de Alfonso López sempre foi interpretada como um fracasso total quando, pelo contrário, os dados que eu recolhia indicavam com clareza que nas zonas rurais se haviam produzido mudanças em sentido positivo”, afirma.

No Brasil ele se debruçou sobre a realidade do Nordeste, uma área onde se dizia que as obras públicas feitas para combater a seca apenas teriam produzido corrupção e uma grande dilapidação de dinheiro. “Parecia que tudo havia fracassado e que de todos os esforços não havia ficado nada. No entanto, olhando melhor, via-se desenvolvimento, algo progredia”, afirmou. Hirschman conta que, quando foi escrever sobre o assunto, ressoavam nos seus ouvidos frases recorrentes, tais como “povera Itália” (“pobre Itália”), que ele se cansou de ouvir no tempo em que viveu ali.

A fracassomania representa, diz ele, um desconhecimento da bagagem de conhecimentos produzida pelo passado, uma convicção de que tudo o que foi feito se transformou num fracasso. E cita como outro exemplo o fato de os intelectuais latino-americanos de direita terem resistido sempre a reconhecer que os trinta anos gloriosos que se seguiram a 1950 representaram um período de ascenso das sociedades. Quando finalmente reconheceram, foi para poder dizer: Agora sim, as coisas estão indo terrivelmente mal.

Propaganda enganosa

No Brasil dos nossos dias, essa receita tem um propósito muito claro, como confessa o editorial da Folha: caberá à mídia indicar o rumo para onde o país deve caminhar, como, aliás, ela fez no processo de formação do golpe militar de 1964. Invocando um “jornalismo profissional que aspira à exatidão e ao desengajamento”, o jornal que carrega nas costas uma galeria de patifarias diz isso abertamente ao escrever que a mídia deve “aproveitar as oportunidades criadas pela expansão e escolarização do leitorado, poderoso vetor demográfico que faz supor uma demanda crescente”.

Os demais veículos da mídia comem no mesmo cocho, mas a Folha merece uma menção especial porque sua propaganda enganosa de compromissos com um programa editorial “crítico, pluralista e apartidário” (palavras do citado editorial) ainda engambela uma legião de incautos. Na verdade, o que se vê em sua redação é um cotidiano de trapaças de variadas espécies para a obtenção de notícias — mentiras sobre a natureza da reportagem para conseguir entrevistas e gravadores escondidos para colher flagrantes, para ficar apenas em dois exemplos —, uma escandalosa frouxidão dos valores éticos, o que constitui violação grosseira do princípio básico do jornalismo.

Folha, como a mídia em geral, a rigor não pratica jornalismo. Suas matérias são baseadas em uma infinidade de suposições e condicionalidades que não representam a realidade. São, na verdade, posicionamentos politiqueiros, rasteiras em seus adversários ideológicos. Práticas típicas de jornalismo marrom, totalmente desprovido de ética. Um jornalismo desonesto, persecutório, panfletário e torpe. 

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